“Como
para toda a humanidade, o mundo é uma escola, desde o começo até o final dos
tempos, assim para cada ser humano individualmente a vida inteira é uma escola,
desde o berço até o túmulo. Não é suficiente dizer com Sêneca: para aprender
nunca é tarde, devemos muito mais dizer: cada idade está destinada ao
aprendizado, e nenhum outro sentido tem a vida humana e todo o seu esforço.
Sim, nem mesmo a morte coloca um limite à vida e ao mundo. Qualquer um que
nasceu como ser humano, deverá passar por tudo em direção à eternidade, como
para uma academia celeste. Tudo o que se passa antes é assim apenas um caminho,
uma preparação, uma oficina – uma escola inferior.” Jan Amos Comenius
(1592-1670)
Por Dora Incontri (*)
Uma querida amiga Carmen Correa, de Caxias do
Sul, me pediu que escrevesse algo sobre a diferença entre Educação e autoajuda.
Tenho algo a dizer sobre isso, mas espero que aqueles que escrevem autoajuda,
incluindo amigos meus, não se sintam ofendidos com o que vou falar. Não é nada
pessoal, mas não posso deixar de manifestar o que penso a respeito.
Começo por dizer que a Educação é tão antiga
quanto a humanidade. A autoajuda nasceu no mundo contemporâneo, no sistema
capitalista.
A Educação é um processo permanente, uma
autoconstrução engajada, um despertar da alma para a evolução. A autoajuda é um
alívio instantâneo e passageiro, uma brisa, não deixa marcas e nem engaja o
indivíduo num esforço comprometido.
A Educação é deflagrada por influências de
grandes mestres, de pais e mães, de educadores, que tocam a alma, transformam a
vida, conferem sentido à existência. A autoajuda é vendida por escritores
ralos, que estão interessados em exibir frases bonitas e bem arranjadas e por editores
que querem ganhar dinheiro.
A Educação precisa estar embasada em profundo
conhecimento, científico e filosófico, do ser humano: de seus aspectos
biológicos, psicológicos, sociais, espirituais… A autoajuda não tem raízes
teóricas, não tem fundamentos filosóficos e muito menos preocupação com rigor
científico.
A Educação propõe mudanças e atitudes
radicais no indivíduo e na sociedade; não é fácil educar e educar-se. A
autoajuda está mais interessada em agradar os leitores do que provocar
autocrítica e crítica social.
A Educação se faz sempre na relação entre os
seres humanos, relação autêntica, afetiva, que pode ser despertada por livros e
ideias, mas só se dá no diálogo entre dois ou mais indivíduos. A autoajuda
promete melhorias individualistas, felicidade fácil, panaceias inócuas.
A Educação faz com que as pessoas se sintam
responsáveis pelo outro, responsáveis pela sociedade, responsáveis pelo
planeta. A autoajuda atende aos desejos de sucesso financeiro, de prazer
sexual, de autocura ilusória – enfim, tudo o que o egoísmo quer, sem muito
esforço e responsabilidade.
A Educação não dá receitas, propõe
princípios; não lida com o sucesso a curto prazo, mas com a realização integral
para a eternidade; não se compra em supermercado ou banca de jornal… A
autoajuda, ao invés, é mercadoria em toda parte, está sempre ditando regrinhas
tolas para uma realização pessoal rala, sem consistência.
Enfim, Educação é o nosso propósito
existencial – fomos lançados no universo para nos fazermos a nós mesmos,
através de múltiplas vidas e atingirmos a plenitude de virtude, ciência e
capacidade criadora. A Educação é divina e é a coisa mais importante para os
indivíduos, para a sociedade, para a humanidade.
E a autoajuda é um movimento editorial
comercial, cujo interesse maior é distrair as mentes, agradar ao ego, sussurrar
frases feitas e ganhar rios de dinheiro à custa de pessoas… – que não receberam
uma boa Educação!
(*) paulistana,
nascida em 1962. Jornalista, educadora e escritora. Suas áreas de atuação são
Educação, Filosofia, Espiritualidade, Artes, Espiritismo. Tem mestrado,
doutorado e pós-doutorado em Filosofia da Educação pela USP.
De pleno acordo quanto à educação.
ResponderExcluirQuanto ao segundo assunto, eu separaria entre "auto-ajuda" e "AUTO-AJUDA".
Everaldo - Viçosa do Ceará