“Hoje,
não são mais as entranhas
do
planeta que se agitam: são as da
Humanidade”
(Allan
Kardec – Obras Póstumas)
Por
Jorge Luiz (*)
O
arrastão é um tipo de pescaria que se opera com redes de arrasto – redes em forma de saco -, através de barco de
pesca, que são puxadas a uma velocidade que permite que os pescados fiquem
presos nele, sendo muito comum no litoral brasileiro.
Na
década de 1980, o arrastão passou a ser uma prática de crime coletivo, surgida
primeiramente na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, para depois se
disseminar por outros locais do Brasil. O termo vulgarizou-se na linguagem
criminal e passou a significar qualquer tipo de roubo em série. O arrastão
migrou das praias para os condomínios de luxo, restaurantes, trânsito. Da poesia
para o crime. Duas realidades. Duas gerações. Duas formas de interpretar o
mundo.
Recentemente,
surgem os “rolezinhos”, definidos por
alguns como encontros promovidos por adolescentes ou jovens adultos dentro dos shoppings -
comumente localizados na periferia -, com finalidades específicas
banais (“beijar, zoar, curtir a galera, ouvir funk, andar do lado contrário nas
escadas rolantes” etc), e apoiados nos simpatizantes do funk ostentação, não
deixando de ser, no entanto, uma nova versão do arrastão. O funk ostentação é uma vertente musical
que valoriza a posse de certos objetos que atribuem um poder específico,
possibilitando a ostentação
Os
“rolezinhos” têm alterado a rotina
dos shoppings, bem como o
comportamento dos seus clientes e frequentadores, mas segundo especialistas,
devem chegar às ruas muito em breve.
O
fenômeno tem sido analisado sob diversos prismas, mas todas as análises
acompanhadas o tentam legitimá-lo, seja como fenômeno cultural, político ou
social. Vive-se a fase do tudo é permitido; tudo é social; tudo é político;
tudo é cultural.
“Black Blocks”, “arrastões”,
“rolezinhos”, e outras permissividades e perversidades, podem
ser discutidos nas mais variadas formas, entretanto, a sua gênese, no meu
entendimento, está no fenômeno social que Émile Durkheim (1858-1917), pai da
sociologia, denominou de anomia,
estado que se caracteriza por falta de objetivos e identidade do ser, provocado
pelas intensas transformações que ocorrem no mundo social moderno. O processo
agônico que acontece com as instituições religiosas, ocasionou uma ruptura
radical dos valores tradicionais defendidos por elas, dificultando o estado de
harmonia que deve caracterizar a sociedade.
Em
sua obra Suicídio, Durkheim acentua que o corpo social quando anômico funciona de forma patológica sendo um dos geradores de
suicídios, o que explica o seu crescimento em nossos dias - de forma consciente
e inconsciente (drogas lícitas e ilícitas), na classificação espírita.
Para
Robert K. Merton (1910-2003), sociólogo estadudinense, estudioso da sociologia
da ciência e da comunicação de massa, a teoria da anomia propicia condutas para infrações penais e crimes de
motivações políticas (terrorismos, saques, ocupações), conduta de rebeliões,
bem como comportamentos de evasão alcoolismo e toxicodependência,
principalmente para as camadas menos favorecidas da sociedade.
Na realidade, a anomia reflete a ausência valores morais. Leia-se o que afirma
Durkheim:
“Mas, como não há nada no indivíduo
que lhes possa fixar um limite, este lhes deve necessariamente vir de alguma
força exterior do indivíduo. É preciso que uma força reguladora desempenhe para
as necessidades morais o mesmo papel que o organismo para as necessidades
físicas. Isso significa que essa força só pode ser moral. É o despertar da
consciência que veio romper o estado de equilíbrio no qual o animal dormitava;
só a consciência, portanto, pode fornecer os meios de o restabelecer.”
Portanto, a coerção material, neste caso não
surtirá efeito, como não tem surtido. Não são “bombas
de efeito moral” e cassetetes que modificam corações. É
preciso promover o reencantamento do mundo com valores morais consistentes que
revelem ao indivíduo a
sua natureza, sua origem e sua destinação, que serão a base para
uma nova educação.
Somente
com esse reencantamento poder-se-á construir bases para relacionamentos
saudáveis entre os jovens e adultos como um todo.
Na
questão nº 100 de “O
Livro dos Espíritos”, didaticamente, são denominados de Espíritos Neutros, aqueles pertencentes
à sétima classe, da Terceira Ordem –
Espíritos Imperfeitos, na Escala
Espírita. Para Kardec, esses Espíritos nem
são bastante bons para fazer o bem, nem bastante maus para fazer o mal; tendem
tanto para um como para outro, e não se elevam sobre a condição vulgar da
humanidade, quer pela moral ou pela inteligência. Apegam-se às coisas deste
mundo, saudosos de suas grosseiras alegrias.
Allan
Kardec, no ensaio “As
Aristocracias”, inserido em Obras
Póstumas, avança nesta análise, ao se referir à instalação da aristocracia intelecto-moral que vigerá
na transição que se opera no mundo, quando ele é categórico em afirmar que
dentre os maus, muitos há que apenas o são por arrastamento e que se tornariam
bons, se fossem submetidos a uma influência boa. Assim ele esquematiza essa
equação: “Admitamos que, em 100
indivíduos, haja 25 bons e 75 maus; destes últimos, 50 se contam que o são por
fraqueza e que seriam bons, se observassem bons exemplos e, sobretudo, se
tivessem sido bem encaminhados na infância; dos 25 maus, nem todos serão
incorrigíveis.”
Cabe a todos os espíritas atenderem
ao apelo do Espírito Erasto, em “O Evangelho Segundo o Espiritismo – “Missão
dos Espíritas”, quando acentua: “(...) ides pregar o dogma novo da reencarnação e da elevação dos
Espíritos, segundo o bom e ou mau desempenho de suas missões e a maneira por
que suportaram as suas provas terrenas.”
É
óbvio, portanto, que além dos fatores econômicos, políticos e socais, seu
aprofundamento está efetivamente na desagregação no núcleo familiar moderno, em
decorrências desses fatores exógenos citados, bem como os de ordem endógenas.
A
família que será inaugurada pelos valores imortais do Espírito, assentados em
bases reencarnacionistas e na lei do amor, proporcionará a revitalização da
vivência do lar, como cadinho onde as criaturas devem unir-se espiritualmente
antes que materialmente. O lar é a pedra angular divina para a construção da
fraternidade entre os povos.
Ide e pregai!
(*) livre-pensador, blogueiro e voluntário do
Instituto de Cultura Espírita do Ceará.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DURKHEIM, Émile. O suicídio: estudo
sociológico. Lisboa: Editorial Presença, 1982. (1ª edição original em 1897).
ELIS REGINA. Arrastão. Composição de Edu Lobo
e Vinicius de Moraes. CBS: 1963.
KARDEC, Allan. Obras póstumas. São Paulo:
FEB, 2003.
___________. O livro dos espíritos. São
Paulo: LAKE, 2004.
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