terça-feira, 18 de março de 2014

ELIMINANDO ALGUNS TABUS




Por Alkíndar de Oliveira (*)






Assunto deste artigo é compreensível para quem já fala em público.

Caro leitor, se você nunca falou em público este texto é um necessário alerta. Pois, o conteúdo a seguir será muito útil quando você começar a proferir suas palestras.

Primeiro Tabu:
“Tenho um sério problema: Todas as vezes que procurei falar em público não consegui ser fiel ao meu preparo prévio. Coloquei palavras que não tinha planejado colocá-las e, por outro lado, deixei de falar parte do que tinha planejado. Todas as vezes em que vou falar em público ocorre-me este sério problema”.

Você, eu, e mais os 55.234.856 oradores que existem no mundo passamos pela mesma situação. O que você julga ser um sério problema, primeiro, não é “problema”, segundo, não é “sério”.


Fazemos o devido preparo prévio, falamos sozinhos em nosso quarto por várias noites, e, durante a palestra, alteramos o que tínhamos a dizer. Surgem idéias novas. Desaparecem idéias antigas. E, mesmo cometendo os lapsos citados, no final de nossa fala “incompreensivelmente” recebemos parabéns!

Preste bem atenção nas palavras de Bill Wheeler que você irá ler “Não importa quanto você prepare uma reunião ou uma apresentação previamente - na hora, sai tudo diferente! Mas... se não preparar bem, é quase certo que não saia nada!”.

Na realidade Bill Wheeler utilizou de força de expressão exagerada quando afirmou que “na hora, sai tudo diferente!” Acredito que assim agiu para didaticamente conseguir maior força em suas palavras. Pois, mesmo que em nossa palestra alteremos parcialmente o conteúdo que tínhamos planejado, é possível através de um bom preparo prévio sermos fiéis ao tema proposto. E se formos fiéis ao tema proposto, mesmo alterando a forma de passá-lo ao público, este sério problema deixará de ser “problema” e não será “sério”. Será apenas um comum acontecimento.

Portanto não se preocupe se durante a fala você alterar parte do que iria dizer. Isto é normal e é comum. Mas procure ser fiel ao tema, mesmo que mude a forma e parte do conteúdo.

Segundo Tabu:
“Geralmente não gosto de ouvir minha voz gravada”.

Você, eu, e mais os 55.234.856 oradores que existem no mundo passamos pela mesma situação. Se perguntarmos a 10 pessoas se gostam de ouvir suas vozes gravadas, a resposta quase unânime será: Não.

Depois de algum tempo você irá acostumar-se com sua voz gravada e perceber que sua voz é boa, mesmo que sua voz não seja a voz de um locutor de rádio. Hoje para falar em público o orador não precisa mais ter voz de locutor de rádio.

Terceiro Tabu:
“Quando falo de improviso não consigo, após a fala, lembrar-me total ou parcialmente do que eu falei”.

Você, eu, e mais os 55.234.856 oradores que existem no mundo passamos pela mesma situação. Quando estamos falando de improviso não temos nenhuma preocupação em memorizar as frases que espontaneamente estão saindo de nossa boca. Como, após a fala, exigir de nossa memória a lembrança de tudo o que foi dito? Este milagre costuma não ocorrer.

Quarto Tabu:
“Quando me dão me um tema para falar de improviso, no momento em que me informam qual é o tema, nada me vem a mente. Me dá um branco total, mesmo eu tendo conhecimento em relação ao tema”.

Você, eu, e mais os 55.234.856 oradores que existem no mundo passamos pela mesma situação. Se você, antes de saber qual seria o tema a ser desenvolvido, não estava pensando no mesmo, como exigir de si a capacidade de, dado o tema, saber imediatamente como desenvolvê-lo? É natural – naturalíssimo - assustar-se com o branco que naturalmente surge. Mas logo após, começamos a organizar nossas idéias e passamos a sentirmo-nos capazes de enfrentar o branco.

Quinto Tabu:
“Geralmente não gosto de ouvir minhas apresentações ou ver a minha imagem, quando gravadas”.

Você, eu, e mais os 55.234.856 oradores que existem no mundo passamos pela mesma situação. Quando vemos nossas apresentações sempre pensamos “poderia ser melhor”. E esta insatisfação própria dos humanos é saudável. Só assim progredimos continuamente. Ficar insatisfeito é natural e saudável, sentir-se derrotado é altamente prejudicial.

O cineasta Woody Allen, apesar de não ser orador, também pensa igual aos 55.234.856 oradores. Quando perguntaram a ele se assistia seus filmes antigos, ele respondeu “Nunca assisti a nenhum deles. Seria uma tortura, eu ia ficar pensando: ‘Quero mudar isso, aquilo’, e você não pode mais”.

Quando vemos nossas apresentações percebemos falhas que, geralmente, o público não percebe.

Por favor, releia: percebemos falhas que, geralmente, o público não percebe e, como somos muito autocríticos costumamos evidenciar em nossa autoanálise muito mais os naturais erros, que o público, geralmente, não percebe, do que nossos acertos, que o público percebe.

O público só percebe erros quando estes são constantes.

Erros eventuais não prejudicam a qualidade da fala. Tropeçar nas palavras de vez em quando, sofrer o branco de vez em quando, falar “né” de vez em quando, não prejudicam a fala. Atenção, eu disse: eventuais erros ocorrendo “de vez em quando” não prejudicam a qualidade da fala.

Ah! Jô Soares também é igual aos 55.234.856 oradores. Certa vez ao ser entrevistado pela imprensa disse “Não gosto de me assistir! Não vejo meus programas nem filmes! Me dá angustia descobrir maneirismos, cacoetes, repetições, erros, idéias não totalmente realizadas, não rendendo o que podiam render. Não consigo me ver, fico acanhado”.

Brahms e Schubert também eram de depreciar os seus trabalhos. Ambos tinham Beethoven como uma sombra que os perseguia. Julgavam que seus trabalhos não chegavam aos pés das composições de Beethoven. Brahms costumava dizer “Você não calcula como esse sujeito me persegue”, referindo-se à qualidade das composições de Beethoven. Schubert chegou a dizer “Depois de Beethoven, o que mais pode ser feito em matéria de música?” No entanto as palavras do crítico musical João Gabriel de Lima realçam justamente a alta qualidade das composições dos dois compositores: “O interessante nas obras de Brahms e Schubert é que ambas são, em última análise, respostas a essa indagação fundamental: o que fazer depois de Beethoven”.

Portanto ficar insatisfeito com sua fala, sim. Derrotado, nunca.

(*) palestrante e consultor de empresas, orador e escritor espírita autor das obras: Aprimoramento Espírita, O Trabalho Voluntário na Casa Espírita, Liderança Saudável.

3 comentários:

  1. Ufa, que alívio! Achei que era só eu que tinha essas sensações.
    Muito bom!

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  2. Excelente!
    Everaldo - Viçosa do Ceará

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  3. Que coisa!! rsrs Nunca pensei que tanta gente passava por isso!

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