“Não
julgueis, a fim de que não sejais julgados; porque vós sereis julgados segundo
houverdes julgados os outros; e servirá para convosco da mesma medida da qual
vos serviste.” (Mt, VII: 1-2)

Passado algum tempo, constatei que a citação nada tinha nada de desairosa
ao Espiritismo; que o conteúdo do livro é resultado de anos de experiência do
autor na área médico-cirúrgica; que a obra era rica em conhecimentos.
Descartes recomendava abster-se da precipitação e do preconceito ao se
analisar um assunto, tendo como verdadeiro somente o que for claro e distinto.
É impossível analisar uma obra literária ou científica partindo do
prisma de um parágrafo, da mesma forma que é impraticável entender um capítulo
lendo-se apenas uma ou duas frases. Portanto, devo reconhecer: naquele momento,
agi com precipitação e preconceito.
A reflexão serve para a vida de relação entre pessoas. Chico Xavier
afirmava que Deus nos concede a cada dia escrever uma página no livro do tempo.
Em muitas oportunidades emitimos julgamentos
silenciosos sobre alguém, considerando apenas um gesto,
algumas palavras, uma atitude, ou quando não, levados por opiniões de terceiro.
Em “O Evangelho Segundo o
Espiritismo”, Allan Kardec comenta a passagem de Jesus que utilizamos como
epígrafe deste artigo. O Codificador afirma que a censura da conduta alheia
pode ter dois motivos: reprimir o mal ou desacreditar a pessoa cujos atos
criticamos. Quando a ocorrência sugere o último motivo decorre da maledicência
e da maldade.
Os julgamentos
silenciosos quando instruídos pela maldade e
maledicência são antagônicos ao princípio da caridade que deve reger as
relações entre os indivíduos. Leia-se como Jesus entendia a caridade, na
questão nº 886 de “O Livro dos
Espíritos”:
“Benevolência
para com todos, indulgência para as imperfeições alheias, perdão das ofensas.”
Na condição de seres pensantes e dotados de livre-arbítrio, em um
Planeta povoado ainda por seres imperfeitos, é compreensível que estejamos
permanentemente julgando o meio onde convivemos para melhor elaborar diretrizes
que objetivem o progresso moral da sociedade como um todo. Em contrapartida, emitir
juízos contra as pessoas fere à Lei de
Amor, Justiça e Caridade, pois sequer oferece condições de defesa ao
“acusado”. Cabe, portanto, o julgamento de comportamentos e não de pessoas.
Julgar a ação é diferente de julgar a criatura. Neste caso, o julgamento silencioso é
sugerido como ensina Espírito São Luís em “O
Evangelho Segundo o Espiritismo”: quando nos limitamos a observá-lo em proveito
pessoal, ou seja, para estudá-lo e evitar aquilo que censuramos nos outros”.
Quando Jesus afirma que com a mesma medida que serve, se será servido,
ele considera a universalidade do princípio psicológico da “projeção”, tendência que o indivíduo tem de projetar nas pessoas e
nas coisas seus erros e falhas. É o reservatório moral que trazemos no íntimo:
condicionamentos adquiridos na infância ou através das vivências sucessivas.
“O conhecimento
de si mesmo”, ensinado pelo Espírito Santo Agostinho na
questão nº 919 de “O Livro dos
Espíritos”, é sugestão para que o indivíduo promova um “autojulgamento” - o
único permitido e válido na dimensão da individualidade - que é buscar no
recôndito da intimidade onde está tudo isso, mesmo sendo aquilo que se
considera, preconceituoso, neurótico ou psicótico.
“Qui
est sine peccato, primum in illa lapidem mittat.” (1)
(1)“Quem se sentir sem culpa, atire a
primeira pedra.”
(*) blogueiro, livre-pensador e voluntário do Instituto de Cultura Espírita do Ceará.
(*) blogueiro, livre-pensador e voluntário do Instituto de Cultura Espírita do Ceará.
Gostei!
ResponderExcluirEveraldo - Viçosa do Ceará
"JULGAR É SEMPRE EMITIR UMA VERDADE SOBRE SI MESMO"
ResponderExcluirMUITO VÁLIDA SUA AUTOCRÍTICA NO CASO RELATADO, E A ABORDAGEM ESCLARECEDORA SOBRE O TEMA, COM OS EXEMPLOS ENUMERADOS DE GRANDES PENSADORES E ESPÍRITOS QUE CONTRIBUÍRAM EM VIDA PARA SEDIMENTAR O PENSAMENTO DO CRISTO SOBRE O VALOR DA VERDADEIRA CARIDADE MORAL. PARABÉNS!!!