Por Roberto Caldas (*)
O mundo dos encarnados licenciou para a
grande viagem, sem tempo para despedidas, um cearense que fez história
migratória para o mundo das fantasias dramatúrgicas e ocupou espaço de destaque
na cinematografia brasileira. Em poucos minutos o mundo artístico entregou para
o mundo espiritual o ator José Wilker. Consideradas as manifestações
absolutamente emocionadas dos seus colegas, além de cheias de natural pasmo
pela surpresa, fica patente que todos se comiseram pela falta considerada
prematura do colega. Ao que parece, o viajante do momento é alguém que
desempenhava o seu papel com extrema habilidade profissional sem deixar de
colecionar simpatias de todos do seu meio pela generosidade, inteligência
criativa e respeito pela coletividade artística sem perder o humor. Sabemos de
antemão que são os augúrios de ausência e saudade que perpassam o sentimento
das pessoas sempre que lamentam a imperiosa separação e nada mais natural que
isso.
Notícias
dessa monta costumam nos pegar desprevenidos e não é incomum ouvirmos pessoas
se questionando a respeito da lógica imposta pela morte, por não haver o
entendimento do que está por trás desses acontecimentos. Pergunta-se porque
esse ou não aquele outro haverá sido escolhido ou ainda se a opção fatal não
deveria recair sobre alguém que se comporta equivocadamente poupando a pessoa
que coleciona virtudes e amizades.
Fundamental
esclarecer diante desses aparentes despropósitos da vida, que essa compreensão
revela o desconhecimento que cultivamos a respeito da morte e dos seus
desdobramentos. Enquanto julgarmos que morrer é ruim, viveremos fustigados pelo
medo ansioso da inexorabilidade desse fenômeno que nos rodeia a todo o momento.
No momento em que virmos a morte como um ritual que não isenta a nenhum ser
vivo e, portanto, traduzir-se na Absoluta Justiça Divina em relação à vida na
Terra, é possível termos a percepção clara de que ela é necessariamente boa. Do
contrário Deus seria injusto ao nos impor uma situação deletéria sem dar-nos
qualquer condição de evitá-la.
O
Espiritismo, doutrina que reverencia a vida e a dilata muito além da existência
corporal, desde muito tempo busca o despertar das pessoas para um novo ângulo
de apreciação do fenômeno da morte, demonstrando pela autoridade das vozes que
comprovam a imortalidade através da mediunidade que deixamos o corpo físico,
mas não morremos jamais. Deixar o mundo dos encarnados é apenas uma etapa na
estrada eterna de todos os Espíritos, sem exceção, e que esse momento se
encontra registrada na carta de propósitos que todos assinamos antes de
iniciada a encarnação.
Cultivarmos
de forma respeitosa a memória e a ausência dos que partiram faz parte das
nossas coleções de lembranças que nos enriquecem o patrimônio da amizade, o
qual precisamos cuidar para que se faça cada dia maior, pois o mesmo será de
grande valia quando formos chamados para a despedida, pela certeza de que os
amigos que cultivamos e nos antecederam na viagem haverão de fazer festa
chegada a nossa hora.
¹ editorial do programa Antena Espírita de 06.04.2014.
(*) editorialista do programa Antena Espírita e voluntário do C.E. Grão de Mostarda.
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