quarta-feira, 9 de abril de 2014

A MÍSTICA MORTE¹




Por Roberto Caldas (*)


         O mundo dos encarnados licenciou para a grande viagem, sem tempo para despedidas, um cearense que fez história migratória para o mundo das fantasias dramatúrgicas e ocupou espaço de destaque na cinematografia brasileira. Em poucos minutos o mundo artístico entregou para o mundo espiritual o ator José Wilker. Consideradas as manifestações absolutamente emocionadas dos seus colegas, além de cheias de natural pasmo pela surpresa, fica patente que todos se comiseram pela falta considerada prematura do colega. Ao que parece, o viajante do momento é alguém que desempenhava o seu papel com extrema habilidade profissional sem deixar de colecionar simpatias de todos do seu meio pela generosidade, inteligência criativa e respeito pela coletividade artística sem perder o humor. Sabemos de antemão que são os augúrios de ausência e saudade que perpassam o sentimento das pessoas sempre que lamentam a imperiosa separação e nada mais natural que isso.

            Notícias dessa monta costumam nos pegar desprevenidos e não é incomum ouvirmos pessoas se questionando a respeito da lógica imposta pela morte, por não haver o entendimento do que está por trás desses acontecimentos. Pergunta-se porque esse ou não aquele outro haverá sido escolhido ou ainda se a opção fatal não deveria recair sobre alguém que se comporta equivocadamente poupando a pessoa que coleciona virtudes e amizades.
            Fundamental esclarecer diante desses aparentes despropósitos da vida, que essa compreensão revela o desconhecimento que cultivamos a respeito da morte e dos seus desdobramentos. Enquanto julgarmos que morrer é ruim, viveremos fustigados pelo medo ansioso da inexorabilidade desse fenômeno que nos rodeia a todo o momento. No momento em que virmos a morte como um ritual que não isenta a nenhum ser vivo e, portanto, traduzir-se na Absoluta Justiça Divina em relação à vida na Terra, é possível termos a percepção clara de que ela é necessariamente boa. Do contrário Deus seria injusto ao nos impor uma situação deletéria sem dar-nos qualquer condição de evitá-la.
            O Espiritismo, doutrina que reverencia a vida e a dilata muito além da existência corporal, desde muito tempo busca o despertar das pessoas para um novo ângulo de apreciação do fenômeno da morte, demonstrando pela autoridade das vozes que comprovam a imortalidade através da mediunidade que deixamos o corpo físico, mas não morremos jamais. Deixar o mundo dos encarnados é apenas uma etapa na estrada eterna de todos os Espíritos, sem exceção, e que esse momento se encontra registrada na carta de propósitos que todos assinamos antes de iniciada a encarnação.

            Cultivarmos de forma respeitosa a memória e a ausência dos que partiram faz parte das nossas coleções de lembranças que nos enriquecem o patrimônio da amizade, o qual precisamos cuidar para que se faça cada dia maior, pois o mesmo será de grande valia quando formos chamados para a despedida, pela certeza de que os amigos que cultivamos e nos antecederam na viagem haverão de fazer festa chegada a nossa hora.  

¹ editorial do programa Antena Espírita de 06.04.2014.

(*) editorialista do programa Antena Espírita e voluntário do C.E. Grão de Mostarda.

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