Por Francisco Cajazeiras (*)
Nos primeiros tempos do Cristianismo, os
seguidores de Jesus usavam a figura simples de um peixe como símbolo para a
comunicação discreta de sua adesão à causa do Nazareno, haja vista a
perseguição de que se faziam vítimas pelos poderes então estabelecidos.
Alguns pesquisadores entendem ser a adoção
desse símbolo devida ao fato de que o vocábulo “peixe”, em grego, contém as
iniciais da expressão: “Jesus Cristo, Filho de Deus Salvador”, (Ichtos – Iesous Christos, Theou
Uios Soler), formando-lhe um acróstico.
Além disso, sendo pescadores, em grande
número, os seguidores de Jesus e constituindo-se o peixe em alimento de
relevância em sua região, fácil seria a comunicação e a relação com o
sentimento de fraternidade, de divisão do alimento, com o repartir do pão,
fomentado pela genuína mensagem de caridade e de amor ao próximo semeada por
Jesus.
Havia ainda um grande diferencial da
metodologia de ensino utilizada pelo Mestre dos Mestres, posto não permanecer
apenas no conteúdo teórico, mas exemplificá-lo e vivenciá-lo fartamente.
Seus discípulos mantinham-se como que
magnetizados pela convicção e pela naturalidade de suas ensinanças. Foi assim
que, até em seu último momento, ele aproveitou as circunstâncias e os fatos
para favorecer a educação de seus seguidores.
Essa a razão por que a sua aparição em “corpo
ressurrecto”, corpo especial, semi-material, fluídico, constituiu-se em
fenômeno imprescindível e inestimável para a compreensão da vida após a morte, da
vida em outra dimensão, consolidando a fé e a coragem, pela absoluta certeza da
imortalidade da alma.
Paulo de Tarso, o incansável divulgador da
Boa Nova trazida ao mundo pelo amorável Galileu, por ser agraciado com essa
prova, no caminho de Damasco, chega a afirmar, de forma categórica, que nesse
pormenor assenta-se o alicerce para o entendimento das razões maiores da
existência terrena, assim como para o enfrentamento dos obstáculos e para o
esforço de abandono aos hábitos arraigados do homem velho.
Logo, não foi a morte de Jesus – a despeito
da grande comoção determinada pelas suas características crueis e contundentes
– que assumiu ponto de destaque no fomento e manutenção do movimento cristão
ali iniciado, mas a sua vida, o seu exemplo de vida e a prova concreta da
sobrevivência à morte do corpo físico.
Os homens do caminho, como passaram a ser
denominados os seus discípulos das primeiras horas, criaram e mantiveram o
símbolo do peixe em seus processos de comunicação sutil.
Somente com a romanização do movimento
cristão, é que esse ícone passa a ser substituído pela cruz, durante muito
tempo vista como instrumento degradante, desqualificado e abominável; razão de inesquecíveis
amarguras, símbolo repelente e traumático da separação daquele que se doara por
inteiro no estímulo da paz e da felicidade entre os homens, tecendo os
vislumbres maravilhosos do Reino dos Céus: desse futuro inexorável de
intimidade com o Criador.
Atribui-se ao imperador Constantino I, no
século IV depois do Cristo, a introdução da cruz como símbolo do Cristianismo.
Conta-se que ele, na noite anterior a uma de suas batalhas, teria sonhado com
uma cruz e uma inscrição em latim: In
hoc signo vinces (sob este símbolo vencerás). No dia da
batalha, ordenou pintassem uma cruz nos escudos dos soldados. Como obteve uma
arrasadora vitória sobre o inimigo, creditou-a ao líder dos cristãos, que havia
perecido na cruz. Algum tempo depois, Constantino deu liberdade de culto aos
seguidores do Cristo, promulgando o Edito de Milão.
Vale salientar sobre a simbologia da cruz,
ter sido ela utilizada entre os mais diversos povos da Antiguidade (fenícios,
egípcios, persas, celtas, romanos e índios americanos) com simbologia variada,
mas em geral representando forças antagônicas, em oposição, promovendo um
choque entre diferentes universos e um consequente crescimento, em processo
expansionista no que concerne às coisas místicas, transcendentes.
Essa habitualidade, relativa a tal
simbologia, presidiu o sincretismo cristão-politeísta, à semelhança do ocorrido
e do que ocorreria com os demais símbolos, práticas e rituais assimilados pelo
movimento cristão, em seu processo de romanização.
Infelizmente, a dogmatização paulatina
conducente ao cultivo de culpas, assim como a mitificação de Jesus, criando um
fosso cada vez mais profundo entre ele e o vulgo popular, culminou com o
macabro e doentio culto da morte, o culto do Senhor morto, em detrimento da
lembrança de sua personalidade vibrante, alegre e amorosa, do “verbo que se fez
carne” , do Espírito iluminado que se sacrifica ao ponto de descer das elevadas
esferas, para servir aos seus irmãos menores, na mais dilatada demonstração de
amor.
“Não
há maior prova de amor, do que a daquele que dá a vida pelos seus amigos”
Cultiva-se, ainda, um Jesus alquebrado,
sofrido, dilacerado, como se o Mestre permanecesse eternamente marcado pela
ação grotesca de seres tão ignorantes e pequenos como nós.
Na visão espírita, a páscoa tem o dom de
remeter-nos à prima e cabal demonstração da realidade post-mortem, da vida
infinda, da imortalidade dourada. A morte de Jesus, em verdade foi um fato
circunstancial e esperado, face à missão de enfrentamento aos pseudopoderes
mundanos, no aceno para a realidade maior do ser encarnado neste mundo de
ilusões.
Jesus é a luz que dissipa as trevas, a paz
que reúne irmãos, a harmonia que nos regenera e dulcifica os sentimentos.
Representa a dádiva da vida que estua e palpita em todos os horizontes. É, assim,
que devemos vê-lo e senti-lo, para segui-lo.
Eu
vim para que todos tenham vida... E vida em abundância!
1 (1) Paulo de Tarso in I
Coríntios, 15: 44.
2 (2) Evangelho Segundo
João, 01: 14.
3 (3) Evangelho Segundo
João, 15: 13.
4 (4) Aqui não se depreenda
unicamente o fato de ser morto em nome de um
ideal. Mas, sim, viver até as últimas consequências, para o bem-estar
dos amigos.
5(5) Evangelho Segundo
João, 10: 10.
(*) palestrante e escritor espírita, autor de obras como: "O Valor Terapêutico do Perdão", "Elementos de Teologia Espírita", "Existe Vida Depois do Casamento...?.
Espetacular, tanto o tema abordado, como a forma bem lapidada, serena, consistente e veemente da apresentação. Presenteie-nos com outros neste terreno! Despertou saudades do seminário CRISTIANISMO E ESPIRITISMO, realizado em Sobral, em 199?.
ResponderExcluirEveraldo - Viçosa do Ceará
Olá, Everaldo!
ResponderExcluirVelhos tempos! Belos dias!
Abração!