Naquela manhã de sábado, no dia 18 de abril
de 1857, vinha a lume a obra primeira e síntese da nova Doutrina que raiava
para o mundo: "O LIVRO DOS ESPÍRITOS". Com ela se dava cumprimento à promessa
feita por Jesus, anotada no Evangelho de João, do envio de um outro consolador
que se faria permanente entre os seres humanos e, também, brilhava o alvorecer
de uma nova era para a Humanidade.
O Prof. Denizard Hippolyte Léon Rivail, sábio
e pedagogo francês, que dedicara sua vida à Educação dentro de uma nova
abordagem – a de seu mestre Pestallozzi -, fora convidado a analisar de perto à
mais recente, intrigante e curiosa prática que se estendia pelo mundo, oriunda
– pensava-se, à época – dos Estados Unidos da América: as designadas “mesas
girantes ou dançantes ou falantes”. O fenômenos caracterizavam-se por
movimentos daqueles instrumentos, quando da presença de certas pessoas. Além
disso, era possível manter-se uma comunicação com essas “mesas”, que respondiam
a perguntas formuladas pelos presentes, através de um número de pancadas
previamente convencionado.
Após observação e análise racional, o
referido sábio percebeu algo de sério naquelas manifestações aparentemente
pueris e, então, usadas como divertimento. Aplicando o método científico, o
Prof. Rivail, 51 anos, fez uma importante descoberta que permitia conhecer
novas leis, regentes da vida que se expande para o transcendental, permitindo a
compreensão das relações entre “vivos” e “mortos”, ou melhor, entre Espíritos
encarnados e desencarnados.
Foi com base nessas pesquisas e observações
meticulosas, amparadas por uma metodologia consentânea ao pensamento científico
contemporâneo, que o mestre lionês recebeu a informação de que era de sua responsabilidade
missionária a organização e a publicação, de forma esclarecedora e acessível
para todas as pessoas.
Naquela manhã primaveril, ao receber do Sr.
Dentu, um pacote com alguns exemplares de O Livro dos Espíritos, o Prof.
Rivail, agora Allan Kardec (nome por ele escolhido para assinar, como
encarnado, a obra que organizara), via materializar-se o primeiro passo na
direção daquilo que lhe competia, no dizer do Espírito da Verdade e dos
Espíritos Superiores que lhe constituíam a falange iluminada.
O Livro dos Espíritos, em sua edição
primeira, apresentado na forma da Filosofia Clássica, continha 501 questões e
objetivava, no primeiro momento, impactar a sociedade e o mundo voltados para
aqueles fenômenos, proporcionando-lhes um despertar para o seu verdadeiro
significado. Depois, com o devido tempo e com um trabalho mais amplo e
universal, facilitado pela criação e fundação da Revista Espírita (órgão de
divulgação e fórum de discussões universais) e da Sociedade Parisiense de
Estudos Espíritas (instituição de caráter científico onde se promoviam o estudo
e as pesquisas dos fenômenos psíquicos), dar-se-ia sua revisão e ampliação,
como anteviram os Espíritos Reveladores, o que se deu a 16 de março de 1860.
O Livro dos Espíritos é uma obra de profunda
relevância para o ser humano, fazendo luz para um entendimento mais dilatado
das grandes questões filosóficas, dúvidas e incertezas, acerca da vida e da
morte, assim como, das profundas diferenças intelectuais e morais, sociais e
culturais presentes no mundo.
Quando comemoramos o seu 157º aniversário,
mais e mais vemos consolidarem-se suas considerações e ensinamentos
elucidativos no que respeita às nossas graves dificuldades e problemas do
cotidiano, sua orientação quanto às suas soluções e a sua incrível atualidade.
O século XX herdou do anterior a empáfia e a
empolgação de tudo resolver com o saber das coisas, de tal modo a exterminar o
pensamento religioso na face planetária por entendê-lo como criação da mente
para aliviar suas próprias angústias e aflições existenciais e aproveitado
pelos poderosos para o domínio das grandes massas dos desfavorecidos. Mas,
embora o vertiginoso e imenso progresso do conhecimento científico e
consequente maior domínio e comodidades no dia-a-dia terrenos, a criatura
humana continua aflita, ansiosa e desesperançada quanto ao seu futuro. O
advento da física quântica desconstruiu, de alguma forma aquelas certezas
baseadas na física clássica.
Há, como de costume, em um orbe de vaidades e
pretensões personalistas, os que entendem que O Livro dos Espíritos encontra-se
defasado, ultrapassado e carente de revisões e atualizações.
Mas será, mesmo? O que e onde a ciência
demonstrou estar em erro a Doutrina Espírita?
Compreendamos que uma Doutrina é uma
organização, um conjunto de fundamentos, de princípios. Allan Kardec teve o bom
senso e o cuidado de buscar a universalidade do ensino dos Espíritos, o que lhe
foi possível dada a sua genialidade, o cruzamento de informações nas mais
diversas regiões planetárias e a independência e autonomia desses grupos.
Apesar do fulgurante progresso científico, o
edifício doutrinário não sofreu nem o mais mínimo abalo e, bem pelo contrário,
até tem saído referendado e ratificado, a despeito do desdém, da má vontade e
do desconhecimento dos cientistas em geral.
O Espiritismo, é claro, não está em busca da
ratificação ou da aprovação de seus postulados pelos cientistas, até porque tem
plena consciência de que integra o conhecimento como um todo e concebe tudo
proceder de uma lei universal e única, desdobrada em nuanças e aspectos
diferentes.
Vejamos, porém, que vários são os cientistas
que passaram a manifestar visões que muito se aproximam dos princípios
espíritas, de certa forma referendando-os, sem a intenção e sem o saberem, no
mais das vezes.
Deus é sentido e pensado pelo Espiritismo de
uma maneira bem diversa daquela como era apresentado pelas religiões
tradicionais: nem como um ser antropomórfico nem como uma visão metafísica que
lhe confunde e esconde com sua obra. Por isso, muitos dos opositores da Doutrina
chegam a taxar de ateus os espíritas.
De Einstein a Paul Davies, há uma noção da
existência de uma Ordem Maior, para além da possibilidade de estudos pela
Ciência, dentro dos paradigmas atuais. Davies chega a afirmar:
“Meu trabalho científico levou-me a acreditar
que a constituição do universo físico atesta um engenho tão assombroso que não
posso aceitá-lo apenas como um fato bruto. Parece-me que deve haver um nível
mais profundo de explicação. Querer chamar esse nível mais profundo de ‘Deus’ é
uma questão de gosto e definição.”
Quanto à realidade do Espírito exarada em O
Livro dos Espíritos, como o verdadeiro Eu e único responsável prela
manifestação da vida inteligente, vemos filósofos e neurocientistas defenderem
uma “consciência” independente e sobrevivente ao cérebro. Dentre eles
destacamos Karl Popper , John Eccles e
Mario Beauregard .
A mediunidade demonstrada cientificamente por
Allan Kardec e tantos outros cientistas seus contemporâneos e futuros, desde
meados do século XX, vem sendo estudada por inúmeros pesquisadores, notadamente
europeus.
A informação dos Espíritos sobre a existência
de um corpo fluídico, energético, na intermediação do ser espiritual com o
corpo físico, também tem encontrado, nos estudos e pesquisas de cientistas,
hipóteses e teorias que se lhe aproximam, como por exemplo os “campos
morfogenéticos” propostos por Rupert Sheldrake .
A reencarnação tem sido estudada por
cientistas do quilate do Dr. Ian Stevenson, que se dedicou a estudos nesse
sentido por mais de quarenta anos, tendo catalogado e analisado mais de 2.700
casos de crianças que se lembravam espontaneamente de terem vivido existências
anteriores.
Atualmente, com grande frequência,
encontramos na mídia notícias sobre descobertas feitas por astrofísicos de
planetas semelhantes à Terra e, por consequência, com grandes potenciais para
abrigarem vida inteligência como a nossa. Assim, a ideia da “pluralidade dos
mundos habitados” cada vez mais é compartilhadas por membros destacáveis das ciências.
A fé, a prece, as curas espirituais, as
relações entre a espiritualidade e a saúde, tudo isso tem sido motivo de
estudos e pesquisas promissores nas academias científicas.
Por outro lado a obra primeira da Doutrina
Espírita alenta-nos e alerta-nos para a busca da transformação moral, em
contraposição às filosofias materialistas, niilistas e relativistas,
estimulando-nos à construção de uma ética sintônica com o Evangelho de Jesus e
capaz de estabelecer definitivamente a paz, a fraternidade e o amor no planeta.
Aproveitemos o aniversário de O Livro dos
Espíritos para procedermos a uma revisão, sim, mas uma revisão do que temos
realizado com o conhecimento que proporciona: do que temos semeado de suas
páginas luminosas e do que temos investido de tempo para o seu estudo sério.
A gratidão e a humildade são virtudes ainda
pouco vivenciadas em nosso acanhado mundo, mas que já vêm sendo analisadas por
muitos pesquisadores do comportamento e dos sentimentos, com tendência a
demostrar sua importância para a saúde integral e o bem-estar psíquico.
Sejamos, então, gratos e reconhecidos ao
Codificador, ao Espírito da Verdade e à sua luminosa falange, bem como à
Providência Divina pela dádiva de O Livro dos Espíritos, neste dia em que
comemoramos o seu aniversário de cento e cinquenta e sete anos.
[1] Cientista de origem germânica,
criador da Teoria da Relatividade e considerado um dos pais da Física Quântica.
[1] Físico inglês, pesquisador
universitário na Austrália, autor de livros como A Mente de Deus.
[1] A Mente de Deus.
[1] Filósofo da ciência, austríaco,
autor de O Eu e seu Cérebro.
[1] Neurofisiologista australiano,
autor de Cérebro e Consciência; prêmio Nobel de Medicina, em 1963.
[1] Neurociientista canadense,
pesquisador da Universidade de Montreal, autor do livro O Cérebro Espiritual.
[1] Biólogo e bioquímico
inglês, pesquisador e escritor
"Sejamos, então, gratos e reconhecidos ao Codificador, ao Espírito da Verdade e à sua luminosa falange, bem como à Providência Divina pela dádiva de O Livro dos Espíritos, neste dia em que comemoramos o seu aniversário de cento e cinquenta e sete anos."
ResponderExcluirPinçamos texto do artigo do confrade Cajazeiras para referendar a homenagem do "Canteiro de Ideias" aos 157 anos de "O Livro dos Espíritos".
Parabéns ao confrade Cajazeiras pela riqueza e coerência do conteúdo da abordagem.
Ave Allan Kardec!