Uma das perguntas que mais chega a minha
pessoa é sobre a diferenciação entre doença mental e obsessão. Estimulado pelo
fato e diante da necessidade de buscar uma temática interessante para os caros
leitores, optei por tentar falar do tema, na esperança de esclarecer alguns e
de estimular a outros para o questionamento.
Temos umas dificuldades bastante comuns, que
é a de estudar um tema ou objeto sem necessariamente ter que analisá-lo pelas
partes. Isto é um dos grandes desafios ao falarmos do ser humano. Não
conseguimos fazer a gestalt, como
diriam os alemães, ou seja, ver o todo, querendo entender as situações
vivenciais do ser como se fossem dicotomizadas.
O homem é, na realidade, o espírito e os seus
diversos instrumentos de manifestação, nos planos variados de vida, vinculado a
vivência terrestre. Assim, a sua leitura bio-psíquico-sócio-espiritual é uma
maneira didática de entendermo-nos e termos o conhecimento das diferenciadas
vivências e posturas da criatura.
A realidade essencial da vida é o espírito,
ou seja, a vida, como dom maior de Deus, é atributo da essência espiritual. No
entanto, pela nossa necessidade evolutiva, precisamos de instrumentos
energéticos, nos mais variados planos de existir, para que possamos nos
expressar, relacionar e crescer.
A partir desses planos, o espírito se
expressa de diferentes formas. Entretanto, essas expressões repercutem nos
outros instrumentos de manifestação. Desta forma, a vida, que se expressa pelo
corpo físico, interage com os diversos corpos de estrutura mais transcendente,
purificando-os ou constrangendo-os, sendo que a recíproca é verdadeira.
Afirmam os espíritos superiores que a
essência espiritual não adoece, pois sendo a imagem e semelhança do Criador,
carrega todo o potencial da perfeição - como criatura! - em si. Pensando assim,
a doença, seja qual for, aloja-se na intimidade dos corpos através dos quais o
espírito se manifesta.
Entendendo que Deus é infinitamente perfeito
e sábio, toda a manifestação vivencial, por mais comprometida do ponto de vista
do egoísmo e suas excrescências, tem um fim útil, buscando levar a criatura
para a ação no Bem. Quando a criatura desrespeita a Lei Divina, que se encontra
inscrita em sua consciência, como afirmaram os Benfeitores Espirituais a Allan
Kardec, em "O Livro dos Espíritos"1, abrindo um campo de culpa sem
que haja uma busca de reparação e correção, ela se afasta de Deus, postulando
para si o referencial para a própria vida (egoísmo), iniciando assim um
processo de doença.
Primeiramente, esta patologia é moral, no
entanto, as demarcações da mesma estarão vinculadas ao campo de ação do
espírito. Como é uma moléstia da consciência e a sua gravidade dependerá do
grau de comprometimento, as lesões no perispírito estarão associadas aos corpos
mais sutis, quando as atitudes negativas forem mais graves, e às estruturas
mais grosseiras, nos casos menos graves.
No processo reencarnatório, o corpo físico
funciona como mata-borrão, expressando as deficiências morais na forma das
patologias conhecidas pela medicina tradicional, sendo que as suas
manifestações nos órgãos mais nobres identificam maior comprometimento moral do
espírito. Podemos, então, concluir que as doenças do sistema nervoso e da
esfera do psiquismo são as de maior severidade, sendo que os seus portadores
são espíritos com reiteradas atitudes no mal, em diversas encarnações.
Como a doença é primariamente moral e isto se
expressa por pensamentos e atitudes infelizes, a sua presença faz com que se
abra um campo de sintonia para outras entidades e situações energéticas,
surgindo assim o processo obsessivo.
Emmanuel, no livro "Pensamento e
Vida", define que obsessão é "o equilíbrio de forças inferiores,
retratando-as entre si"2. Partindo desta abordagem simples, mas profunda
do grande orientador espiritual, podemos claramente perceber que a obsessão é
uma estrada de mão dupla, onde não existe uma vítima e um algoz, mas ambos se
fazem agressores mútuos, se retroalimentando em suas próprias deficiências.
Quando transportamos esse pensamento para o
campo da realidade da doença e da presença da ação obsessiva, podemos dizer que
diante de uma moléstia, em especial, no caso dos transtornos mentais, há uma
possibilidade também da atuação de uma outra entidade na mesma faixa de
sintonia, a qual pode ter desencadeado ou estar agravando o quadro clínico do
encarnado, na situação específica.
Assim, a obsessão, como nos afirma o espírito
Joseph Gleber, no livro "O Homem Sadio - Uma Nova Visão"3, não é
causa, mas sim efeito, fruto do comprometimento moral do ser.
Podemos afirmar que nem toda enfermidade do
indivíduo teve o seu desencadeamento na ação malévola de uma entidade
espiritual, mas que, nas enfermidades psiquiátricas e psicológicas, há sempre
um processo obsessivo, pois a condição mental do doente abre brechas para a
sintonia em plano inferior, determinando o aparecimento da obsessão.
Este raciocínio é muitas vezes usado para a
afirmação de que os pacientes psiquiátricos, por acharem na condição de vítimas
de obsessão, seriam médiuns e necessitariam de um trabalho voltado para o campo
do exercício da mediunidade.
Primeiramente, não é porque uma pessoa está
obsediada que ela seja portadora de mediunidade. A base fundamental da obsessão
é as afinidades morais, que se fazem pelos pensamentos e sentimentos que a
criatura carrega em sua intimidade. Nem todo obsediado é portador de
mediunidade e, portanto, não precisa desenvolver a sua mediunidade. Mesmo nos
casos onde há a presença da sintomatologia mediúnica, esta não deve ser
estimulada, enquanto a criatura não estiver mais equilibrada moralmente, o que
só ocorre através da reforma íntima. Nos casos de transtornos mentais crônicos,
onde os sintomas psiquiátricos se fazem persistentes, mesmo com uso das
terapêuticas mais diversas, e o desequilíbrio moral permanece, não há indicação
para que essas pessoas sejam indicadas para uma tarefa mediúnica, já que pela
seriedade e pelo objetivo da mesma, não há lugar para elas no intercâmbio
espiritual.
Ao contrário, a experiência de todos esses
anos, atuando com pacientes daquele quilate, mostra que podemos agravar
profundamente o quadro mental e, por consequência, os processos obsessivos.
Nesses casos, o tratamento fundamental é o estudo doutrinário-evangélico
(objetivando a reforma íntima) e a laborterapia, através do trabalho
assistencial aos necessitados de todos os matizes.
Referências bibliográficas
1.
Kardec, Allan. "O Livro dos Espíritos". Pergunta 621; p. 307. FEB.
54. ed. 1981.
2.
Xavier, Francisco C. (pelo espírito Emmanuel) "Pensamento e Vida". p.
123. FEB. 4. ed. 1975.
3.
Andrade, Alcione A. e Souza, Roberto L. V. (espíritos diversos) "O Homem
Sadio - Uma Nova Visão". p. 45. Editora Esp. Cristã Fonte Viva. 1. ed.
Edição. 1992.
Fonte:
Associação Médico-Espírita de Minas Gerais (AMEMG), 2007
Muito esclarecedor! Muito bom!
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