Quando examinamos as diversas traduções da
Bíblia em português e comparamos com o texto original hebraico, chegamos a
triste conclusão de que a Bíblia não possui “traduções” e sim “traições”. Somos
obrigados a refletir sobre o porque de tantas alterações. Não queremos julgar
os tradutores, pois julgar é tarefa muito difícil, no entanto, temos que nos
questionar sobre as causas que levaram à tantas aberrações.
Apresentaremos a seguir uma breve história de
suas traduções para que o leitor possa tirar duas conclusões.
Os rabinos afirmam categoricamente que
traduzir a Bíblia é tarefa de muita responsabilidade e complexidade. Leia o que
afirma o “Rebe de Lubavitch” sobre a Bíblia:
“A Torá ou Bíblia tem sua própria
terminologia complexa e um único conjunto de regras e linhas mestras pelas
quais pode-se interpretá-la. Uma tradução direta pode facilmente levar a uma
distorção, mau entendimento, e até a negação da unidade de Deus”.
A
tradução da Bíblia para o Ocidente: uma Torre de Babel
O Gênesis nos relata, em seu capítulo 11, a
história da Torre de Babel. Toda a terra possuía uma só língua e serviam-se das
mesmas palavras. Os homens construíram uma
torre cujo cimo atingia os Céus, com o objetivo de tornarem célebres os seus
nomes. Mas Deus percebeu que eles queriam ir além dos seus limites, e lhes
confundiu a linguagem, dispersando-os por toda a terra.
Semelhantemente, a Bíblia possuía uma só língua,
que era completa e tinha seu conjunto de regras e terminologia próprias para o
seu entendimento. No entanto, vieram os gregos e mudaram a essência e
significados dessa língua, espalhando-a por todo o mundo. Produziram, assim,
uma nova “Torre de Babel” com sua Tradução.
Fica difícil compreender o porquê de tantas
modificações. Todos os livros do Pentateuco de Moisés foram alterados em seus
nomes hebraicos.
Os Salmos reencarnacionistas de David não
aparecem em nenhuma tradução em português. Podemos citar, por exemplo, o Salmo
19:8 que afirma: “O ensinamento de Deus é perfeito porque faz o espírito voltar”.
O Salmo 23:6 cita: “Certamente que bondade e benevolência me seguirão por todos os dias de
minhas vidas e habitarei na casa de Iahvéh por dias sem fim”.
Estas alterações continuaram, por todo o seu
texto, e o resultado é o que se tem, hoje, uma verdadeira “Torre de Babel”, nas
diversas versões da Bíblia, em português.
A Septuaginta ou versão dos LXX- Bíblia
Grega
A versão grega da Bíblia hebraica enfrentou
muitas dificuldades, desde a questão das idéias teológicas e exegéticas do
judaísmo palestino e alexandrino, até a questão linguística.
A questão linguística é a mais séria de
todas, senão vejamos: o hebraico é uma língua semítica oriental que se escreve
da direita para a esquerda, não tem vogais e possui um princípio gramatical
todo especial.
O grego é uma língua muito diferente do
hebraico, possuindo além disso, os seus modismos gramaticais e transformações.
Comparado ao hebraico que não tem vogais, o
grego tem muitas, constituindo-se de sete ao todo. É uma língua ocidental do grupo das
Indo-Européias, escreve-se como as línguas ocidentais, da esquerda para a
direita, tem uma gramática também específica e muito rica em declinações,
conjugações e casos gramaticais.
Hoje já é dividido em antigo e moderno. O
antigo com uma pronúncia e escrita que só existem basicamente nos textos
bíblicos. Já o moderno é o que se fala hoje na Grécia e está totalmente diferente
do antigo.
As
dificuldades enfrentadas pelos tradutores foram imensas, sem contar os
interesses pessoais que existiram e com certeza muita coisa importante ficou
perdida, pelas alterações ocorridas durantes as traduções.
A explicação e justificativa dadas pelo
Talmude mostram muito bem como não houve harmonia e igualdade nesta tradução.
Vejamos e analisemos a sua história e tiremos nossas conclusões.
No século III a. C. uma importante colônia
judaica vivia no Egito, especificamente em Alexandria, onde se falava comumente
a língua grega. Havia uma necessidade premente de que o povo judeu possuísse a
Bíblia em grego, além da importância que representava para a biblioteca de
Alexandria que ainda não possuía a Bíblia nessa língua.
No reinado do rei egípcio, Ptolomeu Filadelfo
II (285-247 a. C.), a pedido de Demétrio Falário, o bibliotecário do rei, o
sumo sacerdote Eleazar, conforme a carta apócrifa de Aristéias, enviou de
Jerusalém setenta e dois sábios, seis representantes para cada uma das doze tribos
de Israel, a fim de realizarem a tradução da Bíblia hebraica para o grego.
Aristéias foi um estudioso judeu que morava em Alexandria na segunda metade do
século II antes de Cristo e quis passar por gentio e valido na corte de
Ptolomeu Filadelfo. Conta ainda Aristéias que a tradução foi completada em 72
dias.
A tradução para o grego recebeu o nome de
Septuaginta e passou a fazer parte da biblioteca do rei Ptolomeu Filadelfo em
Alexandria.
O Talmude comenta que “o dia da tradução foi tão
doloroso quanto o dia em que o bezerro de Ouro foi construído, pois a Torá não
poderia ser acuradamente traduzida”. Alguns rabinos disseram que “as
trevas cobriram a terra por três dias” quando a LXX (Setenta ou
Septuaginta) foi escrita.
Segundo a versão talmúdica da história,
enquanto a traduzia, cada sábio era confinado em celas separadas, na ilha de
Faros, e cada um completou a tradução inteira em 72 dias, produzindo assim
traduções totalmente independentes. No entanto, seus corações estavam plenos de
sabedoria divina, e eles criaram versões idênticas. Todos fizeram as mesmas
mudanças em suas traduções, para que o rei não alimentasse qualquer dúvida que
talvez existisse se as traduções do hebraico fossem literais.
Fílon Judaeus afirma que cada sábio se encheu
de inspiração divina, orientando-o neste trabalho e fazendo com que esta
tradução fosse altamente valorizada pelos cristãos.
A designação de “versão da LXX”
referia-se, no início, somente à tradução do Pentateuco. Os demais livros foram
traduzidos mais tarde, até meados ou, no máximo, final do século II a. C.
Poderíamos comparar a Bíblia com um grande
banquete preparado para o mundo. Este banquete só pode ser realmente consumido
por aqueles que, pelo menos, entendem o HEBRAICO. Assim, nós ocidentais, por
exemplo, recebendo sua tradução literal e unilateral, podemos dizer que nos
restou, deste grande banquete, apenas o caldo.
A
vulgata de São Jerônimo
A
Vulgata é a tradução da Bíblia, do grego para o latim, que foi realizada por
São Jerônimo a pedido do papa Dâmaso.
A Septuaginta só contém os livros da Primeira
Aliança (Velho Testamento). O Novo Testamento em grego não é acoplado à
Septuaginta, só existindo em separado. Assim, quem quiser possuir a Bíblia
completa, em grego, tem que possuir a Septuaginta e o Novo Testamento em grego.
São Jerônimo fez exatamente isto, traduziu e uniu o Velho e o Novo Testamento numa
só obra, do grego para o latim.
Tudo começou com as dificuldades reinantes no
século III da era cristã. Escritos em meio das convulsões que assinalavam a
agonia do mundo judaico, depois sob a influência das discussões que
caracterizavam os primeiros tempos do cristianismo, os Evangelhos se ressentiam
das paixões, dos preconceitos da época e da perturbação dos espíritos. Grandes
divergências dogmáticas agitam o mundo cristão e provocam sanguinolentas
perturbações no Império, até que Teodósio, conferindo a supremacia ao papado,
impõe a opinião do bispo de Roma à cristandade. A partir daí, o pensamento,
criador demasiado fecundo de sistemas diferentes, há de ser reprimido.
“A fim de pôr termo a essas divergências
de opinião, no momento em que vários concílios acabam de discutir acerca da
natureza de Jesus, uns admitindo, outros rejeitando a sua divindade, o papa
Dâmaso confia a São Jerônimo, em 384, a missão de redigir uma tradução latina
do Antigo e do Novo testamento. Essa tradução deverá ser, daí por diante, a
única reputada ortodoxa e tornar-se-á a norma das doutrinas da Igreja”.
São Jerônimo sentiu o peso da
responsabilidade, escreveu ao papa um demonstrativo de suas preocupações, referindo-se
à sua tradução latina dos evangelhos. Eis o seu desabafo44: “Da velha obra me obrigais a
fazer obra nova. Quereis que, de alguma sorte, me coloque como árbitro entre os
exemplares das Escrituras que estão dispersos por todo o mundo, e, como diferem
entre si, que eu distinga os que estão de acordo com o verdadeiro texto grego.
É um piedoso trabalho, mas é também um perigoso arrojo, da parte de quem deve
ser por todos julgado, julgar ele mesmo os outros, querer mudar a língua de um
velho e conduzir à infância o mundo já envelhecido”.
“Qual, de fato, o sábio e mesmo o
ignorante que, desde que tiver nas mãos um exemplar (novo), depois de o haver
percorrido apenas uma vez, vendo que se acha em desacordo com o que está
habituado a ler, não se ponha imediatamente a clamar que eu sou um sacrílego,
um falsário, porque terei tido a audácia de acrescentar, substituir, corrigir
alguma coisa nos antigos livros?
“Um duplo motivo me consola desta
acusação. O primeiro é que vós, que sois o soberano pontífice, me ordenais que
o faça; o segundo é que a verdade não poderia existir em coisas que divergem,
mesmo quando tivessem elas por si a aprovação dos maus”
Observe como São Jerônimo foi sábio e
coerente diante da responsabilidade assumida, dando-nos, assim, um testemunho
das alterações que realizou na Bíblia e, com sua versão latina, tentou pôr fim
a estas dificuldades, surgindo, dessa maneira, a conhecida Vulgata (a
divulgada).
Vemos, nestas declarações, o testemunho das
modificações e adaptações por que passou a Bíblia e, por isso, não se pode
afirmar, categoricamente, que tudo que existe neste livro, em português, é a
pura verdade.
Santo Agostinho, bispo de Hipona, escreve a São
Jerônimo no ano 395, demonstrando sua preocupação com relação à sua tradução e
testificando a inexistência de exatidão nas traduções bíblicas. Vejamos a sua
carta: “A meu ver, eu preferiria que tu antes nos interpretasse as Escrituras
gregas canônicas que são atribuídas aos setenta intérpretes, pois se há
dissonância entre o latim das antigas versões e o grego da Setenta, pode-se ir
verificar, mas se há dissonância entre o latim da nova versão e o texto
conhecido do público, como dar a prova da sua exatidão?”
A
tradução de João Ferreira de Almeida
Para
maiores esclarecimentos, colocamos aqui algumas observações sobre a tradução da
Bíblia, realizada por JOÃO FERREIRA DE ALMEIDA.
JOÃO FERREIRA DE ALMEIDA foi um pastor
protestante nascido em Torre de Tavares, Portugal. Aprendeu o hebraico e o
grego, e assim usou os manuscritos dessas línguas como base de sua tradução, ao
contrário de outros tradutores que fizeram suas traduções a partir da Vulgata
Latina de São Jerônimo.
A tradução de JOÃO FERREIRA DE ALMEIDA foi
muito discutida e controvertida, porque apresentava muitos erros. Ele traduziu
primeiramente o Novo Testamento, publicando-o em 1681, em Amsterdam, na
Holanda. O título do Novo Testamento era ”O Novo Testamento, Isto he o Novo Concerto
de Nosso Fiel Senhor e Redemptor Iesu Christo, Traduzido na Língua Portuguesa”,
o qual por si mesmo revela o tipo de português arcaico que foi usado. Essa
tradução tinha numerosos erros e o próprio Almeida compilou uma lista de dois
mil (2.000). Muitos desses erros foram
feitos pela comissão holandesa, que procurou harmonizar a tradução de Almeida
com a versão holandesa de 1637.
Almeida baseou-se no Textus Receptus feito
por Erasmo, em 1516 (considerado um texto inferior), pois ele representa o
Texto Bizantino, o mais fraco e mais recente entre os manuscritos gregos.
Lembramos que na época de Almeida não existia nenhum papiro, razão pela qual
ele lançou mão de fontes inferiores.
Almeida só conseguiu a sua tradução e
publicação completa da Bíblia no século XVIII. Apesar do texto inferior por ele
usado, bem como dos muitos erros e das edições e correções, essa é a tradução
que tem sido mais bem aceita pelos nossos irmãos protestantes de língua
portuguesa.
Imagine todas estas dificuldades e erros,
aliados à descrença na reencarnação por parte de Almeida e seus seguidores! O
resultado de tudo isto é o que conhecemos hoje nas edições da Bíblia de
Almeida. Revisões e mais revisões, correções e mais correções. Por exemplo:
Revisão de 1945, por uma comissão, sob os auspícios da sociedade Bíblica do
Brasil, revisão da tradução de Almeida da Imprensa Bíblica Brasileira,
publicada em 1967, Bíblia de Estudo Pentecostal, revista e corrigida na Edição
de 1995.
No entanto, apesar de todas estas correções,
encontramos alguns irmãos protestantes mais entusiastas, afirmando que o
conteúdo de suas bíblias, em português, representa “a expressão inquestionável da
verdade”.
(*) professor de Ensino Superior, ex-seminarista, pesquisador do hebraico e das religiões, principalmente o judaísmo, base de todas as religiões cristãs. Sempre estudou a essência e conteúdo divinos da Bíblia em sua língua original, o hebraico. Autor das obras: Analisando as Traduções Bíblicas, O Sermão do Monte, O Evangelho e o Cristianismo Primitivo.
(*) professor de Ensino Superior, ex-seminarista, pesquisador do hebraico e das religiões, principalmente o judaísmo, base de todas as religiões cristãs. Sempre estudou a essência e conteúdo divinos da Bíblia em sua língua original, o hebraico. Autor das obras: Analisando as Traduções Bíblicas, O Sermão do Monte, O Evangelho e o Cristianismo Primitivo.
Uma verdadeira aula sobre as traduções bíblicas ofertada pelo professor Severino Celestino.
ResponderExcluirMatéria imprecindível para nós, leigos das Escrituras Sagradas em sua originalidade. Parabéns pela publicação desse texto. Ana Luiza Martins
ResponderExcluirExcelente!
ResponderExcluirProfessor Celestino, reflito que o sr foi paciente ao dizer que não há traduções e sim traições em determinadas bíblias que vemos por aí, na verdade eu acredito que algumas passagens não chegam a ser traições e sim: verdadeiros CRIMES (desculpe o caps lock), que incitam o ódio e o homicídio.
ResponderExcluirObserve o seguinte site:
http://www.bibliaon.com/espiritismo/
Eu não consigo entender, algo como isso. É coisa pra doido. Fizeram até uma página dedicada ao tema "Espiritismo", olha que bacana? Algum fundamentalista xiita Osaminha Bin Laden chega no site e já procura passagens a respeito do tema e se depara com isso? O Próximo passo é sair fazendo justiça com as próprias mãos, em nome da palavra de "Deus".
"Os homens ou mulheres que, entre vocês, forem médiuns ou consultarem os espíritos, terão que ser executados. Serão apedrejados, pois merecem a morte".
Levítico 20:27
Pasmem! Vou dormir que é melhor.