“É assim que
tudo serve, tudo se encadeia na Natureza, desde o átomo primitivo até o
arcanjo,
pois ele mesmo
começou do átomo. Admirável lei de harmonia, de que o vosso Espírito limitado
ainda não pode
abranger o conjunto.”
(O Livro dos
Espíritos, questão nº 540)
O
professor, filósofo, jornalista e escritor espírita José Herculano Pires
(1914-1979), em “O Céu e o Inferno” –
Notícia sobre o livro –,
afirma que a referida obra atesta que a evolução não se processa em linha reta,
mas, em ascensão espiralada. Para ele, a evolução do homem na Terra está
sujeita às vicissitudes da superposição periódica de camadas populacionais
inferiores que precisam aflorar na superfície cultural para se beneficiarem.
Assim ocorreu com os bárbaros na queda do Império Romano, que necessitavam
abeberar-se na cultura clássica.
Os
biólogos chilenos Humberto Maturana e Francisco Varela (1946-2001), nessa mesma
linha de raciocínio, definem esse fenômeno social como acoplamento estrutural,
no contexto do conceito por eles elaborado da Biologia da Cognição ou Biologia
do Conhecer. Para eles “Ser
é conhecer, conhecer é ser.” Portanto, são inseparáveis o ser e o
conhecer, ou então, havendo uma circularidade entre essas dimensões
constitutivas do ser. A teoria de Maturana e Varela se identifica claramente
com os pressupostos da Evolução Criadora de Henri Bergson, filósofo e diplomata
francês: “Aquilo que
fazemos depende do que somos; mas impõe-se acrescentar que somos, até certo
ponto, o que fazemos, e que criamo-nos a nós mesmos continuadamente.”
Cognição
é ato de adquirir conhecimento e conhecimento é o resultado da cognição. O
conhecimento é um dos principais atores da cultura, e esta por sua vez, é de
fundamental importância na espiral dialética da evolução
.
O
fundamento basilar dessa teoria é a Autopoiesis
(do grego = auto = “próprio”, poiesis “criação”) que tem como
princípio o funcionamento dos seres vivos como autopoiéticos, ou seja, produtores de si mesmos. Alguns vetores são
determinantes nesse processo: o devir, a auto-organização, a invenção, a
circularidade, a complexidade, dentre outros.
O
acoplamento estrutural surge da contínua interação entre o organismo e o meio.
Isto posto, os cientistas adotam a circularidade entre produtor e produto em um
sistema autorreferenciado.
Isso
explica em nos dias atuais as cotas raciais, a cota eleitoral do gênero, as bolsas
e outras concessões sociais governamentais e de organizações não-governamentais
(ONGs) assuntos que dividem opiniões, sempre arguidos sob ideologias
político-partidárias. No entanto, fazem parte da necessidade da transição
espiritual que se opera no Planeta, marcando o encerramento de um ciclo evolutivo
e o início de outro. Isso explica, ainda, a globalização do conhecimento
através da Internet.
Essa
é a grande dinâmica do Espiritismo quando realiza a transformação simultânea
entre o homem e o meio.
A
revolução científica ocorrida no final do século XIX, não permitia mais o
entendimento de uma lógica linear/binária e reducionista, como decorrência do
surgimento de fenômenos mais complexos que exigiam uma nova abordagem, nos
quais os círculos e espirais se fizeram necessários. Os fenômenos espíritas
foram decisivos para esse entendimento, pois em decorrência deles, surgiram
disciplinas para estudá-los, como por exemplo, a Metapsíquica, a
Parapsicologia, a Psicobiofísica, a Psicologia Transpessoal.
A
estrutura evolutiva espírita é bem definida por Kardec na questão nº 100 –
Escala Espírita - de “O Livro dos
Espíritos”, evidenciando essa visão. Por meio dela, ele esclarece que a
classificação nada tem de absoluto: “Nenhuma
categoria apresenta caráter bem definido, a não ser no conjunto: de um grau a
outro, a transição é insensível, pois nos limites, as diferenças se apagam como
nos reinos da natureza, nas cores do arco-íris, ou ainda nos diferentes
períodos da vida humana. (...). Para eles (Espíritos) o pensamento é tudo:
(...).”
Ora,
segundo Humberto Mariotti, médico, psicoterapeuta, professor, conferencista nacional e internacional, a circularidade – os efeitos retroagem sobre as causas e
retroalimentam - é o único conceito operacional do pensamento complexo, o qual
inclui os pensamentos linear/binário e sistêmico (não integradores de
conhecimento). O pensamento complexo (integrador de conhecimentos) é
fundamental para a evolução espiralada, sem prejuízo das demais formas de
pensar citadas.
Kardec
tem razão! O pensamento é tudo!
O
princípio de causa e efeito e da lógica circular para a explicação da vida está
presente em todos os povos desde a pré-história da humanidade, expressando-se
nos mitos, nas danças, e nas narrativas, rompido pelo racionalismo cartesiano,
que mutilou a compreensão do que é conhecer, na medida que concebia o
conhecimento alheio à ação do sujeito cognitivo.
As
discussões muito embora situem-se no campo da biologia, para os três a evolução
vai além da evolução biológica, pois alcança o nível da consciência. E
consciência, como se sabe, é patrimônio do Espírito, sendo lei uma só é para
todos no tempo e no espaço.
A
evolução do Espírito nos primeiros momentos se realiza naturalmente, de um modo
compulsório pela própria força das coisas.
Em
seguida, o próprio homem, através do livre-arbítrio, começa a interferir em seu
processo evolutivo, já pela tomada de consciência diante dos fenômenos da vida.
É de se notar que três elementos concorrem para a evolução: as dimensões física, social e cultural.
A
evolução dentro desse quadrante, ocorre não em linha reta e única, mas em
linhas assimétricas e paralelas, em forma de círculos. Como não há
retrogradação, a evolução pode permanecer em um círculo vicioso, caso o Ser permaneça preso às questões de
natureza material. Os círculos somente se abrirão para espirais a partir do
momento em que se inicia o processo do conhecimento
de si mesmo, como está assinalado na questão nº 919 de “O Livro dos Espíritos” e na expressão maiúscula de Jesus: “Vós
sois deuses!” (*) Vós sois a luz do mundo! (**)
Essa é uma questão de didática, uma vez que Bergson afirma que é impossível que
a consciência passe duas vezes pelo mesmo estado, por mais que as
circunstâncias sejam as mesmas. A esse respeito Allan Kardec, em O.E.S.E., cap. XXV:2 reforça o pensar bergsoniano: "Mas o progresso que cada homem realiza individualmente, durante a vida terrena, é coisa insignificante e, num grande número deles, até mesmo imperceptível."
O professor J.
Herculano Pires afirma na obra “O Centro
Espírita”, que tão logo se liberte do ponto neutro, da poderosa reação da
Terra, se está em condições de elevar-se ao plano angélico. Contudo, continua
ele, dar esse passo para a divindade, depende de um grau de compreensão dos
ensinamentos de Jesus e de uma vontade real e profunda, que afeta toda a
estrutura individual.
É
imperativo observar que o a evolução é consequência do conhecimento (círculos)
–podendo ocorrer, portanto nos dois planos – físico e espiritual. Todavia, o
progresso moral (em espirais) – que nem sempre segue o progresso intelectual -,
somente ocorre, no plano físico, por força do desenvolvimento do
livre-arbítrio, dando uma melhor compreensão sobre o bem e o mal, aumentando a
responsabilidade do homem pelos seus atos. (questões nº 780, 780 “a” e “b”, de “O Livro dos Espíritos”.)
A evolução do
Espírito, essa disposição inata de transcendência do homem, é um impulso
instintivo, sentimento intrínseco como o da Divindade, como está explicitado na
Lei de Adoração – Livro III – As Leis Morais – de “O Livro dos Espíritos”, e se eleva pela disciplina da razão, na
medida do desenvolvimento cultural da Humanidade.
Eis
o que encerra a verdade que liberta do Meigo Nazareno; liberta o homem dos
círculos inferiores da matéria, e pela força do AMOR, flui em espirais
simétricas/libertárias em fuga sideral em direção ao Eterno.
Bibliografia:
(*) João, 10:34;
(**) Mateus, 5:14;
AMORIM, Deolindo. Análises espíritas.
Brasília. FEB, 1993.
BERGSON,
Henri. A evolução criadora. Tradução de Adolfo Casais Monteiro. Rio de Janeiro,
1964.
KARDEC,
Allan. Obras póstumas. São Paulo: FEB, 2003.
___________.
O céu e o inferno. São Paulo: FEB, 2003.
___________.
O livro dos espíritos. São Paulo: LAKE, 2004.
MARIOTTI,
Humberto. Pensamento complexo. São Paulo, 2005.
MATURANA,
Humberto e VARELA, Francisco. A árvore do conhecimento: as bases biológicas do
conhecimento humano. Campinas: Psy, 1995.
PIRES,
J. Herculano. O Centro Espírita. São Paulo: Paideia, 1980.
Muito proveitoso o conteúdo.
ResponderExcluirA verdade sempre será libertadora. No nosso prosseguir , através do nosso amadurecimento espiritual individual.
Márcia