Por Roberto Caldas (*)
Poucas coisas são tão nefastas para a
consciência humana do que a perda da capacidade de indignar-se diante das
injustiças, tanto quanto o desprezo à ética e ao respeito diante da própria
indignação. Quando nos dispomos a uma atitude corretiva, algumas vezes
necessária, utilizando de expedientes escusos e tão indignos quanto a situação
contra a qual protestamos, chafurdamos na mesma poça de lama em que julgamos
refestelar-se o nosso alvo. O combate ao problema que nos incomoda não nos dá o
direito de espezinhar aquele que consideramos adversário, pois a adoção de
comportamento equivalente nos retira a condição de intenção positiva que toda
resolução superior cogita para se fazer efetiva.
Mormente
diante do comportamento indesejado que recebemos do outro é forçoso que
atentemos à busca de soluções que estejam muito acima da necessidade de
vingança, emoção que entorpece o raciocínio e cria a falsa ilusão de alegria em
face de uma provável derrota daquele a quem combatemos. Na realidade a sensação
de felicidade que fruímos nos capítulos finais dos folhetins de televisão
quando o inimigo do protagonista começa a agonizar o resultado de sua tirania,
destilada durante todo o enredo, revela o quanto temos sede de justiça com as
próprias mãos. Muitas vezes a ficção vira realidade e vibramos em baixa
frequência moral do pensamento sempre que nos comprazemos com a desdita seja lá
de quem for.
Considerado
o trânsito de todos os nossos projetos coletivos, eis que nos chocamos com
peculiaridades indesejadas que acabam por mover as instituições e pessoas que
as dirigem, gerando uma insatisfação justa que merece atenção, cuidados e
correção. Diante das questões de magnitude que fujam ao nosso poder de resolução
é terapêutico que busquemos a serenidade pela compreensão de que não passamos
por situações inúteis à educação da alma, seres espirituais que somos, por isso
implicados na equação do problema naquilo que nos cabe individualmente, sem
perder de vista que nos é obrigatória a boa intenção sempre.
Fundamental
que nos focalizemos na discussão de idéias, de forma clara e até mesmo
contundente, sem perdermos o senso de que o nosso opositor é também uma pessoa
e merece respeito de nossa parte, tanto quanto exigimos igualmente ser
respeitados. Em resposta à questão 793 de O Livro dos Espíritos, os mentores da
Codificação inferem que se reconhece uma civilização completa pelo
desenvolvimento moral, não apenas pelas invenções e descobertas maravilhosas ou
pelo vestuário ou habitação. O fato de não havermos banido de nossas relações
os graves vícios morais e vivermos fora do sentimento de caridade e igualdade
faz de nossa sociedade apenas um grupamento de pessoas esclarecidas, porém uma
civilização ainda muito atrasada.
Para
quem importa que o planeta e a sociedade mudem também deve importar que os
métodos utilizados para tratar o semelhante precisam ser modificados, de forma
que a nossa inserção em seu mundo de convicções deve estar pautada pelos
princípios da caridade e movida pela boa intenção, na perseguição do melhor
para todos.
¹ editorial do programa Antena Espírita de 15.06.2014.
(*) editorialista do programa Antena Espírita e voluntário do C.E. Grão de Mostarda.
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