Por Roberto Caldas (*)
Difícil imaginar a sociedade humana sem a
presença norteadora da justiça, mesmo que consideremos a justiça humana ainda
falha, mercê das nossas limitações coletivas. A sua ausência, no entanto nos
jogaria na barbárie, tornaria impossível vivermos em grupos e estaríamos em
navegação sem rumo, tamanha a nossa incapacidade de resolvermos questões que
ferem interesses mais profundos.
Por
analogia imaginemos a Ordem Universal destituída de justiça. Aquela justiça que
naturalmente extrapola o nosso controle humano. Se o Universo fosse dirigido
apenas pelas leis das ciências físicas e biológicas que conhecemos? Se a
Genética fosse a única responsável pela modelagem corpórea e pela inteligência?
Se a Política e a Sociologia fossem as únicas responsáveis pelas condições
sociais em que vivem as populações? Se as raias de julgamento do Direito fossem
as únicas possibilidades de estabelecer regras de convivência, punição e
reabilitação? Se o acaso fosse o maestro dos principais fatos da existência,
tais como o nascimento e a morte?
A
falta de uma concepção da Ordem Divina operando sobre todos os fatos da
existência é que leva o senso comum a julgar a Inteligência de Deus à
semelhança da inteligência humana. A teoria da existência única, da destinação
eterna em céu ou inferno, da ira e punição de Deus, do nada depois da morte,
são exemplos claros da pobreza que tentamos emprestar à Divindade, possivelmente
pela falsa compreensão de que Ela deva ser apenas uma ampliação menos
imperfeita do nosso senso.
A
Doutrina Espírita entra na discussão da Justiça Divina. Primeiro classifica a
idéia de Deus para torná-la compreensível ao pensamento humano: “Deus é a
inteligência suprema, causa primária de todas as coisas” (LE. q.1). Depois
busca em Jesus a sentença contida no Sermão do Monte (Lucas – cap. VI): “Até
que passem o Céu e a Terra, não passará um só jota ou um só ápice da Lei, sem
que tudo se cumpra”. Duas afirmativas que não deixam dúvidas quanto a
existência de uma Lei que regula as relações universais, sob as quais passa o
processo de evolução de todos os seres que habitam a infinidade dos espaços que
denominamos Universo.
A
atual existência que nos serve é apenas um capítulo de nossa Vida Eterna. A
justiça humana norteia os passos que devemos adotar em relação às atitudes de
convivência com os nossos pares, na divisão de espaço social a que todos temos
direito e precisamos louvar essa justiça apesar de todas as imperfeições
exaradas nas sentenças dos nossos magistrados. A Justiça Divina, porém impõe o
empoderamento sobre si mesmo, além do tempo e das distâncias que conhecemos
hoje, considerando a caminhada que empreendemos do átomo ao arcanjo num
processo de crescimento que jamais retroage e nos levará inexoravelmente à
perfeição, condição que a Divindade programou para toda a sua Criação. A
justiça humana é um dos ítens que a Justiça Divina previu para a capacitação do
homem encarnado, um degrau para que compreenda que o Universo é dirigido por
Leis Imutáveis. A compreensão de uma Lei Superior que não sofre as interpéries dotempo, tal a
que a Doutrina Espírita aceita em sua visão de Deus é essencial para estabelecer
a ordem do Universo e implantar na mente dos encarnados uma segurança capaz de
disseminar, pouco a pouco, a Paz no mundo.
¹ editorial do programa Antena Espírita de 27.07.2014
(*) editorialista do programa Antena Espírita e voluntário do C.E. Grão de Mostarda.
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