quarta-feira, 20 de agosto de 2014

EDUCAR: UMA ARTE AINDA DESCONHECIDA



“Educa a criança no caminho em que deve andar; e até quando envelhecer não se desviará dele.” 
(Provérbios, 22: 6).




Por Francisco Castro (*)





João Amós Comenius (1.592-1.670) em sua Didática Magna – Tratado da Arte Universal de Ensinar Tudo a Todos, no número quinze, nos diz textualmente: “Um dos primeiros ensinamentos, que a Sagrada Escritura nos dá, é este: Sob o sol não há nenhum outro caminho mais eficaz para corrigir as corrupções humanas que a reta educação da juventude.“ Como exemplo, ele cita o provérbio que transcrevemos acima.
Dizendo ele no número dezoito: “Cristo ordena que nós, adultos, nos convertamos como criancinhas, isto é, para que desaprendamos os males que havíamos contraído com uma má educação e aprendido com os maus exemplos do mundo, e regressemos ao primitivo estado de simplicidade, de mansidão, de humildade, de castidade, de obediência, etc. (...) Daí resulta que não há coisa mais difícil que voltar a educar bem um homem que foi mal educado. Na verdade, uma árvore, tal como cresce, alta ou baixa, com os ramos bem direitos ou tortos, assim permanece depois de adulta e não se deixa transformar.” 

Comenius, um estudioso da arte de educar, coloca a educação da juventude como a única forma de corrigir as corrupções humanas, colocando a criança como elemento central do processo educativo, ou seja, “antes que a árvore cresça muito e se encha de galhos.”
No final do século XVIII e início do século XIX, Johann Heinrich Pestalozzi - (1746-1827), apresenta um ensaio pedagógico onde procura traçar as linhas gerais que deveriam ser seguidas com o objetivo de fazer da criança um adulto bom, no qual trata dos princípios para evitar que a criança se torne má, e que tem como pressuposto básico a crença na bondade natural do homem.
Segundo Pestalozzi, o mecanismo da natureza segue uma marcha elevada e sensível em toda a sua extensão: “o homem imita-a!” Todo o ulterior desenvolvimento espiritual da pessoa se baseia no vínculo natural (ou “animal”) entre filho e mãe. Por isto ele insiste na influência da família como fator de educação.

Para ele, o professor, e muito antes o pai e a mãe atuam como educadores, ocupam uma posição especial no ponto de encontro, entre o desejo sensível e a razão social na criança. Pestalozzi considerava a educação como um processo que devia seguir a natureza, a liberdade, a bondade inata do ser humano, unindo mente, coração e mãos. A educação consistia, assim, no desenvolvimento moral, mental e físico da natureza da criança, de todas as crianças, independentemente de suas condições sociais.

Pestalozzi entendia que a criança se desenvolve de dentro para fora como, naturalmente, a semente se transforma em uma árvore; seus impulsos são inatos. Assim, toda a instrução educativa deve ser extraída das próprias crianças e nascer dentro delas. Assim, O método de toda educação consiste em um princípio muito simples: seguir a natureza.

Coerente com o que pensava, no início do século XIX Pestalozzi inicia uma experiência bastante exitosa, em Iverdon-Suiça onde, durante cerca de vinte anos, desenvolveu suas ideias sobre a educação chamando atenção de toda a Europa para o seu método. Muitos pais enviaram seus filhos para o seu Instituto, dentre eles um inteligente jovem Francês, nascido em Lyon, Hippolyte Léon Denizard Rivail (1804-1869), foi enviado para lá por seus pais.

Não se tem com exatidão em que ano isso aconteceu, entretanto, considerando-se que, naquela época, somente após os oito ou dez anos de idade é que as crianças eram mandadas para a escola na França, é possível que a ida do jovem Rivail para Iverdon tenha acontecido por volta de 1814, lá permanecendo, possivelmente até por volta de 1822, com dezoito anos completos.

Retornando para a França, o jovem Rivail passou a se dedicar ao magistério e aos estudos sobre a educação, assim é que, aos vinte anos de idade (1824) lançou sua primeira obra nessa área com o título: Curso Prático e Teórico de Aritmética segundo o método de Pestalozzi, para uso dos professores e mães de família, essa obra fez grande sucesso na França sendo reeditado por várias décadas.

Os estudos e prática do professor Rivail em Paris, aliados ao seu aguçado senso de crítica e observação, o levaram a publicar um Plano Para o Melhoramento da Instrução Pública (1828), lançado no Brasil pela Editora Comenius sob o título Textos Pedagógicos.

Nessa obra o Prof. Rivail analisa em profundidade o assunto, concluindo que: A educação é a arte de formar os homens; isto é, a arte de fazer eclodir neles os germens da virtude e abafar os do vício; de desenvolver a inteligência e de lhes dar instrução própria às suas necessidades; enfim de formar o corpo e de lhe dar força e saúde. Numa palavra, a meta da educação consiste no desenvolvimento simultâneo das faculdades morais, físicas e intelectuais.

Quer nos parecer que o Prof. Rivail, ao dizer que “a educação é a arte de fazer eclodir nos homens os germens da virtude e abafar os do vício,” era como tarefa da família que ele estava pensando, deixando para a escola o mister de “desenvolver a inteligência e dar instrução própria às suas necessidades.” Podendo se identificar nessa conceituação do Prof. Rivail uma síntese das ideias de Comenius e Pestalozzi, concluindo que o alicerce sobre o a qual a escola desenvolverá o seu trabalho deve ser uma construção da família. O trabalho do Prof. Rivail dirigido para a educação continuou, com a publicação de várias obras voltadas para essa área, de 1831 a 1849.

A partir de 1854 sua atenção foi sendo gradualmente atraída para uma série de fenômenos que invadiram os Estados Unidos e a Europa, denominados de Mesas Girantes, e que também dominaram sua atenção até 1869, culminando com a publicação de O Livro dos Espíritos (1857), O Livro dos Médiuns (1861), O Evangelho Segundo O Espiritismo (1864), O Céu e o Inferno (1865) e A Gênese (1869) dentre outras, e de 1858 a 1869 publicou um periódico mensal sob o título Jornal de Estudos Psicológicos (REVISTA ESPÍRITA).

A partir da publicação da obra “O Livro dos Espíritos” ele passou a adotar o pseudônimo, Allan Kardec, esse livro é composto de 1019 perguntas formuladas por ele e respondidas pelos Espíritos que ele entrevistara, em diferentes lugares e por diferentes médiuns, estranhos uns aos outros, vindo a compor, juntamente com as demais relativas a essa área, o que ficou conhecida como a Cofificação Kardeciana, conhecidas como as obras básicas da Doutrina Espírita.

No Capítulo III, da parte segunda de O Livro dos Espíritos, que trata sobre a infância, na questão 383, Allan Kardec pergunta de forma especifica aos Espíritos, o seguinte: Para o Espírito, qual a utilidade de passar pelo estado de infância? E a resposta textual é a que segue:

“Encarnado, com o objetivo de se aperfeiçoar, o Espírito, durante esse período, é mais acessível às impressões que recebe, capazes de lhe auxiliarem o adiantamento, para o que devem contribuir os incumbidos de educá-lo.”

Pela resposta acima, se analisada isoladamente, pode dar a entender que a tarefa de educar cabe à escola, através dos professores, no entanto, na resposta que os Espíritos deram à pergunta de nº 385, que é bastante extensa, nos dois últimos parágrafos, essa questão fica totalmente esclarecida, senão vejamos:

 “A infância ainda tem outra utilidade. Os Espíritos só entram na vida corporal para se aperfeiçoarem, para se melhorarem. A delicadeza da idade infantil os torna brandos, acessíveis aos conselhos da experiência e dos que devam fazê-los progredir. Nessa fase é que se lhes pode reformar os caracteres e reprimir os maus pendores. Tal o dever que Deus impôs aos pais, missão sagrada de que terão de dar contas. (Grifei)

“Assim, portanto, a infância é não só útil, necessária, indispensável, mas também consequência natural das leis que Deus estabeleceu e que regem o Universo.”

Conclusão a que chegamos:

“Cabe à família educar a criança no caminho em que deve andar; e até quando envelhecer não se desviará dele!” (Provérbios, 22: 6).
 



(*) integrante da equipe do programa Antena Espírita e voluntário do C.E. Grão de Mostarda.


4 comentários:

  1. Caríssimo Castro!
    Abordagem pertinente. A maior missão do Espírito encarnado, é educar os Espíritos que chegam ao cadinho do Lar.
    Parabéns!

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  2. Reflexão extremamente importante para todos que se arvorem em instrumentos intermediários entre o instituto da reencarnação e a destinação evolutiva do espírito encarnado. A educação vem do respiro em querer oferecer ao outro o que ansiamos de providências em nosso favor, quando defrontamo-nos com o desafio de vencer as próprias imperfeições. Roberto Caldas

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  3. Excelente texto para reflexão nos tempos atuais em que famílias estão transferindo para a instituição escolar atribuições que cabem aos pais. Educar é tarefa para a vida toda e não somente para um período dela, a escola atua em parte da vida do educando, mas à família cabe iniciar e dar prosseguimento à missão da educação. Falar de educação como uma arte ainda desconhecida é a mais pura verdade, pois a família vincula esta palavra ao papel exclusivo da escola, quando na verdade é missão dos pais a educação do espírito. Kardec, em comentário na questão 685 de O Livro dos Espíritos fala mais sobre a educação, especificamente, sobre a educação moral, afirmando que "quando essa arte for conhecida, compreendida e praticada, o homem terá no mundo hábitos de ordem e de previdência para consigo mesmo e para com os seus, de respeito a tudo o que é respeitável, hábitos que lhe permitirão atravessar menos penosamente os maus dias inevitáveis." Em vários trechos deste livro encontramos Kardec e suas heranças pestalozzianas, ressaltando a importância de uma boa educação e firmando o valor da educação moral para o espírito, portanto, é de suma importância que os estudiosos da Doutrina Espírita não deixem passar tais orientações de Kardec, compreendendo que vivenciar a Doutrina Espírita é praticar a educação do espírito. Parabéns pelo texto, querido tio!

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    1. Querida Sobrinha, obrigado pelo comentário que repercute as ideias acanhadas que alinhavamos no texto. Digo acanhadas porque não sou autoridade no assunto mas, partindo de uma Doutoranda em Educação seu comentário me deixa sobremodo lisonjeado. Mais uma vez obrigado pelas palavras gentis. Bjs. Castro.

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