Por Roberto Caldas (*)
Avaliando o conteúdo exposto em "O Livro dos
Espíritos" a questão 207, que trata das semelhanças físicas e morais dentro dos
contextos familiares, não há como fugirmos à compreensão de que os elos que nos
vinculam uns aos outros decorrem de inequívocas atrações/repulsões geradas pela
multiplicidade dos convívios espalhados pelos milênios e reprisados pelas
inúmeras encarnações recheadas de encontros e desencontros. A consanguinidade é
capaz apenas de permitir a reprodução fisionômica, marcada pelos traços
biológicos que exibimos e denunciam a assinatura genética daqueles que nos
doaram os seus caracteres.
Inegável
que em certos momentos vemos conglomerados familiares se movimentarem
apresentando os mesmos pendores sejam para a arte, os negócios, a ciência, de
outras vezes por caminhos nem tão meritórios, o que nos faz questionar se as
tendências apresentadas também não se encontrariam nas entrelinhas das
informações do DNA, opinião que domina a convicção de vários especialistas em
Sociologia e Educação. Quando desconhecemos as vinculações espirituais só nos
resta apropriar o organismo de condições que lhes superam a capacidade.
Claro
que convivemos com um programa intencional do Universo, no qual somos
responsáveis em projetarmos mutuamente as qualidades que nos são inerentes na
direção do enriquecimento próprio e ao serviço de cooperação com o outro, na
aquisição de novas disposições de comportamento. Não há quem duvide da força de
uma atitude repetida na configuração moral de um indivíduo, especialmente nas
primeiras fases de sua infância.
Entendamos,
no entanto que as tendências morais que exibimos vida afora não se encontram
criptografadas na carta genética, para a qual a ciência adota a nomenclatura de
genoma. A semelhança física decorre dos tijolos físicos ofertados pelos nossos
pais, mas o comportamento adotado diante da vida é consequência das
experiências individuais e coletivas do passado, cuja semelhança se explica
pelos laços de convivência impregnados em nossa mente inconsciente. Porém, a
boa notícia que se propicia de forma explícita na mensagem trazida pela
Doutrina Espírita é que podemos nos influenciar de forma positiva, dentro e
fora do núcleo familiar na produção de novas condutas.
Esse
o papel daqueles que tem o privilégio de receber amigos e inimigos de ontem,
através da paternidade, auxiliá-los na caracterização de um projeto renovado de
amor a si mesmo e ao mundo. Ensiná-los que a existência é o maior presente que
Deus nos oferta para a redenção de todas as almas encarnadas. Caminhar junto
com os seus filhos na construção de um mundo melhor. Permitir-lhes se tornarem
pessoas que consideram o respeito humano a maior das aquisições da alma.
Propiciar-lhes que um dia, as semelhanças físicas retratem a irmandade de almas
que só se consegue construir quando nos doamos sinceramente uns aos outros o
melhor de tudo que conquistamos.
¹ editorial do programa Antena Espírita de 10.08.2014
(*) editorialista do programa Antena Espírita e voluntário do C.E. Grão de Mostarda.
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