Por Roberto Lúcio (*)
Em continuidade ao tema sobre o qual
começamos a tratar em edição anterior, voltamos à visão dos efeitos da
dependência química nas mais diversas dimensões do ser.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) traz, no
conceito de saúde, as dimensões física, psíquica e social. Acrescentamos a elas
a dimensão espiritual, lembrando que, na perspectiva espírita, temos a Essência
Espiritual, ou o espírito propriamente dito, e o seu corpo espiritual, denominado,
por Allan Kardec, de perispírito, que serve de molde para o corpo físico.
A viciação é uma doença espiritual, como
descrito anteriormente, e é fruto da insegurança do ser. Um posicionamento
anômalo da criatura em sua caminhada, durante a qual o desejo de transcendência
sai do lugar verdadeiro, que é a sua realidade íntima no encontro com o seu
Criador, e se encaminha para objetos ou situações externas, as quais se
caracterizam pela possibilidade de um prazer fugaz e imediato, mas sem
condições de levá-lo ao crescimento necessário. Prazer este incapaz de
alimentar o espírito de forma adequada, pois nosso verdadeiro alimento é o Amor
Divino. Só no encontro com Deus, por meio da vivência integral das Suas Leis, alcançamos
o prazer maior, o êxtase dos místicos, que nos promove até a conquista da
Felicidade.
A dependência química é uma condição
patológica, caracterizada por uma necessidade incoercível da pessoa de utilizar
a substância pela qual se viciou, com aumento progressivo da quantidade para
obter o mesmo efeito que sentia anteriormente (tolerância),com a perda
paulatina da capacidade laborativa e relacional, devido à necessidade de viver
em função do uso da droga, com um comprometimento orgânico que pode chegar ao
óbito.
Assim, a dependência química leva a um
comprometimento do ser em suas mais diferentes dimensões. Tem como origem esse
sentimento de insegurança íntima, a partir do afastamento da criatura das Leis
Divinas, levando a alterações nas diversas estruturas comandadas por sua
essência espiritual. Entretanto, o abuso dessas substâncias, que adoece a
dimensão física de forma particular, conforme a droga, agride e compromete o
espírito em suas emoções, em suas relações interpessoais e em seus componentes
energéticos, pertencentes ao corpo espiritual.
As ações danosas dessas substâncias lesam os
órgãos físicos, reduzem a capacidade de funcionamento do organismo, tiram a sua
vitalidade, dirigindo-se para patologias graves ou óbito. Esse ato é entendido
pelas leis maiores como uma forma de suicídio, que leva o indivíduo a assumir
uma responsabilidade de reorganização e reparação dolorosa, por um tempo que só
a consciência pessoal é capaz de determinar.
Pela perda da capacidade de controle e a
necessidade constante do uso, o dependente passa a viver focado na aquisição da
droga. Por causa disso, deixa os demais interesses e abandona progressivamente
os laços familiares e sociais. Se trabalha, o faz para adquirir o objeto do
vício; se já não consegue trabalhar, age de forma complicada para consegui-lo, chegando
a roubar e matar para não ficar sem a droga. Ocorre um empobrecimento afetivo e
intelectivo, uma queda social, vivendo, muitas vezes, no campo da
marginalidade. Ele perde o sentido da dignidade humana.
A dependência química não se limita a esses
aspectos, segundo esclarecem os espíritos que orientam o conhecimento
espiritual. Tais substâncias não atuam apenas nas estruturas orgânicas, com as
repercussões acima citadas. Afirmam eles que essas drogas têm uma parte
energética, etérea, que atua de forma patológica nos corpos espirituais.
Por um lado, ocorre uma repercussão nos
órgãos do corpo espiritual, de acordo com as estruturas físicas comprometidas
pelo vício. Essas lesões demarcam energeticamente o corpo espiritual e
produzem, na vida espiritual, os sofrimentos relatados pelos espíritos viciados
e que se manifestam nas reuniões de intercâmbio mediúnico; e numa reencarnação
posterior, determinam as predisposições do espírito a certas doenças e a
repetição da atitude viciosa.
De outra forma, o abuso dessas substâncias
pode destruir as barreiras energéticas que mantêm as lembranças de vivências
pretéritas desligadas da memória do corpo físico ou que impedem a percepção do
mundo espiritual, colocando a criatura numa condição de patologia mental, em
que surgem alucinações e delírios, conforme a visão da psicopatologia, constituindo-se
nas psicoses causadas por essas substâncias.
Esse processo é uma emissão de pensamentos e
emoções adoecidas, que são, na verdade, ondas de pensamentos conturbadas, as
quais atraem outras criaturas, encarnadas ou desencarnadas, na mesma sintonia, produzindo
os processos obsessivos.
A situação obsessiva pode ocorrer por
afinidade, quando os espíritos que se vinculam o fazem por ter interesses
semelhantes; ou por vingança, quando o dependente tem uma história anterior de
agressão àquelas entidades que se juntam a ele no sofrimento, acreditando
fazerem justiça, em ressarcimento pelo passado criminoso.
Diante de tudo isso, fica clara a necessidade
do tratamento integral do ser no que se refere à dependência química, de modo a
reduzir os danos nos mais diversos níveis de manifestação do espírito.
A partir dessa abordagem mais profunda da
viciação, fica óbvio o motivo que inspirou os criadores dos Alcoólicos Anônimos
a enfatizarem que os primeiros passos para vencer a dependência são: a
constatação efetiva da pequenez da criatura diante da grandiosidade da vida e
do seu Criador (humildade) e a necessidade do reconhecimento de um Ser Superior
(Deus),fonte única da força imprescindível para a transformação.
Sem se prender às terapêuticas utilizadas
pelas diversas especialidades que atuam no campo da dependência química, cujo
conhecimento é tão divulgado pela mídia, enfatizamos a terapêutica espírita, que
tem a sua base maior na reforma íntima, através da evangelhoterapia e do
autoconhecimento. Nesse campo, a Doutrina Espírita ainda oferece as terapias
energéticas e de fonte mediúnica como instrumento da redução dos danos causados
pela dependência, agindo naquelas estruturas ainda desconhecidas pela ciência
oficial.
Concluindo, afirmamos que só o Amor é
verdadeiramente o remédio que nos leva à condição de saúde real ou felicidade e
Ele – o Amor – só é vivido em sua plenitude na relação com o próximo e com
Deus.
(*) médico psiquiatra, vice-presidente da AME Brasil, diretor clínico do Hospital Espírita André Luiz, psiquiatra e psicoterapeuta do Instituto de Assistência psíquica Renascimento (BH)
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