Por Roberto Caldas (*)
A vida é pontilhada por atos simples. Água
para a sede, alimento para a fome, conforto para a dor, sono para o cansaço,
amigo para a solidão. Eis uma regra que dificilmente venha a ser contestada por
alguém. Costumeiramente não são os grandes acidentes que nos acontecem, senão
pequenas situações que se propõem reversíveis, quando estamos despertos para a
solução do problema evitando que se torne de grandes proporções.
O
dia que vivenciamos a cada nascer de sol e que se estende até o seu ocaso, em
todos os hemisférios do planeta, representa a realidade que temos disponível
para o que precisamos aprender nessa fração que o tempo permite. Não sabemos
definitivamente se teremos um novo dia de sol para despertar nessa encarnação
ou se seremos chamados para encerrar um ciclo de existência no corpo físico.
Importa, pois, que cuidemos desse dia que temos em mãos. Importa que estejamos
atentos para os atos de cortesia que tornam mais fácil a convivência humana.
Importa que tornemos esse dia mais leve de cobranças. Importa praticar sem
medos, conforme o poeta Guilherme Arantes na canção “Brincar de Viver”, “A arte
de sorrir cada vez que o mundo diz não”.
Temos tantas imperfeições para cuidar em nós
mesmos que convém nos debruçar sobre elas, esquecidos de qualquer atitude de
exigir ao outro a mudança que devemos buscar inapelavelmente para si próprios.
Tudo começa quando nos sentimos responsáveis pela harmonia dos ambientes em que
vivemos desde o despertar pela manhã no ambiente doméstico, até a convivência
de longas horas nos ambientes de trabalho. Interessa o comportamento no
trânsito, o respeito à democracia das filas, a atitude dentro dos ônibus, a
ampliação da arte do ouvir antes de emitir opinião em qualquer circunstância.
O avanço da compreensão de que tudo muda
quando nós mudamos a nossa atitude frente aos desafios do nosso tempo, se
encontra contemplado na opinião de Santo Agostinho, no capítulo III, item 19,
do Evangelho Segundo o Espiritismo, quando declara: “Ao mesmo tempo que todos
os seres vivos progridem moralmente, progridem materialmente os mundos em que
eles habitam”. A proposta defendida pelo mentor espiritual fortalece a ideia de
que uma abordagem de gentileza tornada paulatinamente mais plural é capaz de
transformar o mundo animado e inanimado que nos cerca.
Chega de faca, fogo e fuzil. Precisamos de
amores, afagos e afetos. O coração jamais se abre pela explosão e a mente não
se curva à coerção, dessa forma alcançaremos, no máximo, a obediência que
deseja um dia a chance da vingança. Necessário a semeadura dos germens da
concórdia, uma visão que contemple como uma necessidade imperiosa para o nosso
crescimento espiritual, a adoção de uma prática renovada diante dos exageros
dos últimos tempos. O despertar do outro haverá de dar-se no tempo que ele
determine. O nosso despertar urge e só nós mesmos podemos determinar o que
fazer com esse dia que temos em mãos. Adotar a gentileza nos pequenos atos da
vida pode ser o começo.
¹ editorial do programa Antena Espírita de 14.09.2014.
(*) editorialista do programa Antena Espírita e voluntário do C.E. Grão de Mostarda.
Nenhum comentário:
Postar um comentário