“Amarás ao teu próximo como
a ti mesmo.”
(Jesus, Mt, 22:34-40)
John
Locke (1632-1704), filósofo inglês, com o propósito de apaziguar católicos e
protestantes, escreveu em 1689, Cartas sobre
a Tolerância. Voltaire (1694-1778), filósofo iluminista francês, impactado
com o episódio ocorrido em 1562, conhecido como Massacre da Noite de São Bartolomeu,
marcado pelos assassinatos de milhares de protestantes, por fiéis católicos, talvez
inspirado por Locke, em 1763, escreveu o Tratado
sobre a Tolerância.
Por meio da UNESCO¹, em sua 28ª Conferência Geral,
realizada de 25.10 a 16.11.1995, com apoio da Carta das Nações Unidas que “declara
a necessidade de preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra,...a
reafirmar a fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor da
pessoa humana,... e com tais finalidades a praticar a tolerância e a conviver
em paz como bons vizinhos", os Estados Membros decidiram firmar a
Declaração de Princípios sobre a Tolerância, proclamaram solenemente o dia 16
de novembro como o Dia Internacional da
Tolerância.
Qualquer definição
sobre a tolerância inicia-se com louvor à reencarnação, pois desta é que resulta
a diversidade humana. É através dela que se revelam o sábio e o idiota. Os equilíbrios
e desequilíbrios estéticos e psicológicos. As diferenças culturais. Os
contrastes étnicos, sociais e econômicos. Todas as anomalias que levam a acreditar
em um Deus impiedoso e cruel.
A
tolerância, como virtude, parte do princípio de reconhecer a existência do
outro, que além de ocupar um espaço, tem direitos e deveres iguais, mas são, no
fundo, essencialmente diferentes.
A
tolerância, além de exigir o conhecimento, necessita compreender o outro e
abrir a disponibilidade de se colocar em seu lugar e se enriquecer com a
diversidade pessoal que se estabelece com aquela existência.
No
exercício da tolerância é fundamental não considerar a pessoalidade na análise
dos valores, pois a tolerância é assimétrica, ou seja, o outro é igual em
direitos e deveres, mas o outro não sou eu, portanto, pode gostar ou não do
mesmo que eu gosto. É importante nunca se esquecer disso.
O
homem tem permanentemente buscado, embora dentro de um relativismo, a
perseguição do reconhecimento dessa diversidade, apelando para diversos
documentos, em vários momentos históricos, que pretendem delinear respostas a
tais questões. Nunca, entretanto, apoiada em conceitos filosóficos e
científicos que considerem a pré-existência do ser.
O poeta francês Paul
Claudel (1868-1955), ante a exigência ao exercício dessa virtude, de forma
espirituosa, afirmou: “Tolerância? Existem casas para isso...” É óbvio que em todas as casas fazem-se
necessário praticar a tolerância, principalmente a família, que se caracteriza
pelo grupo de espíritos normalmente necessitados, desajustados, em compromissos
inadiáveis para a reparação, graças à contingência reencarnatória.
Entretanto,
a tolerância não tem o apoio do mercado, transformando-a em imagens e ilusões,
dispostas em prateleiras, o que explica a passagem de data tão significativa
para a o futuro da Humanidade, sem os apelos midiáticos consumistas.
Tolerância é consciência.
O
meio mais eficaz de se criar consciências tolerantes é a educação. Assim está
firmado no artigo 4º da Declaração dos Princípios
da Tolerância.
O lar é o ambiente adequado
para se incutir educação voltada para uma cultura de tolerância. Na questão nº
383 de O Livro dos Espíritos, os
Luminares do Invisível afirmam que “na infância o Espírito encarnado é mais
acessível durante esse tempo às impressões que recebe e que podem ajudar o seu
adiantamento, para o qual devem contribuir os que estão encarregados da sua educação”.
O ambiente escolar é
outro espaço de fundamental importância para se cultivar a tolerância. Pela especificidade das tarefas a
realizar, a escola deve se organizar de modo a favorecer a cada dia a
construção e o desenvolvimento das personalidades individuais, o respeito, o
reconhecimento das individualidades e a aceitação da diversidade de
perspectivas e projetos, individuais ou grupais, e a convivência produtiva com
as diferenças.
Jesus
estabeleceu fundamentos para a tolerância através do “não julgueis para não
sedes julgados”, “atire a primeira pedra quem estiver sem pecado”, “tirar a
trave do próprio olho para enxergar o cisco no olho do irmão.”
Os
Benfeitores Celestes inseriram-na sob a sinonímia indulgência, juntamente com a
benevolência e o perdão, compondo a tríade celeste para definir a caridade
segundo Jesus Cristo, na questão nº 886 de O
Livro dos Espíritos.
Allan Kardec não só insculpiu a tolerância em
sua legenda sublime, associada ao trabalho e à solidariedade, mas a vivenciou, como
está registrada em sua biografia em Obras Póstumas:
“Em
sua bandeira, inscreveu o mestre estas palavras: Trabalho, Solidariedade e Tolerância. Sejamos, como ele,
infatigáveis: sejamos acordemente com os seus anseios, tolerantes e
solidários.”
Tolerância
é Espiritismo.
Tolerância
é Amor.
Tolerância
é Paz.
¹A Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO - acrônimo de United Nations Educational,
Scientific and Cultural).
Referências
DECLARAÇÃO de princípios sobre
a tolerância.
Aprovada pela Conferência Geral da UNESCO em sua 28ª reunião. Paris, 16 de
novembro de 1995.
KARDEK,
Allan. O livro dos Espíritos. São Paulo: LAKE, 2004.
____________. Obras
póstumas. São Paulo: FEB, 2003.
LOCKE, John. Carta acerca da tolerância.
Coleção Os Pensadores, Tradução de Anoar Aiex. Abril Cultural, 1991.
VOLTAIRE. Tratado sobre a tolerância.
Tradução de Paulo Neves. São Paulo:
Martins Fontes, 1993.
Muito bom e oportuno!
ResponderExcluirParabéns!
Everaldo Mapurunga
Viçosa do Ceará
Amigo Jorge Luiz, além do tema para o Editorial de Antena Espírita, com esse tema que explora nas páginas do Canteiro agora você acaba de me munir de argumentos para logo mais no curso do programa quando estarei para cumprir a pauta de Saúde e Espiritualidade. Será exatamente o papel da Tolerância na saúde espiritual dos seus praticantes. Roberto Caldas
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