Cultura
contemporânea e ansiedade
O veloz mundo contemporâneo fornece poucos
valores essenciais à vida em equilíbrio. Novas “necessidades” são artificialmente
criadas a cada dia, imbuídas da falsa promessa de bem-estar. Incentiva-se
a pressa, a praticidade e o consumo imediato dos bens que, supostamente, trariam
conforto e aplacariam a angústia e a ausência de sentido para a existência.
Temperança
e significado para vida
A temperança e o tempo para um mergulho
íntimo são necessários na busca do significado mais amplo para o viver e a
psicoterapia tem ajudado muitas pessoas dispostas a mudarem suas vidas para
melhor. A melhora consistente da qualidade de vida das pessoas que após eventos
traumáticos decorrentes da ansiedade crônica (acidentes por dirigir e falar ao
celular, internações hospitalares, enfarto, etc.) buscaram a psicoterapia
envolve geralmente cinco fatores: (1) desenvolvimento de novos interesses e
objetivos com maior significado para existência, (2) apreciação e valorização
da vida, (3) melhor relação familiar e interpessoal, (4) resgate da
religiosidade e espiritualidade no dia-a-dia e a (5) descoberta de força e
recursos pessoais para superação de adversidades.
Ansiedade
A ansiedade é um estado emocional comum e
provavelmente tenha sido selecionada como um importante fator para a preservação
da espécie humana. O estado ansioso é definido como um comporta mento de
alterações físicas (taquicardia, sudorese, hiperventilação, aumento da pressão
arterial) e psíquicas (apreensão, inquietude, alerta). Como um sinalizador
antecipatório de possíveis ameaças ou mesmo diante da ameaça, a ansiedade
altera de forma vantajosa o pensamento, a fisiologia e o comportamento humano
com ajustes para sobrevivência. Nossos ancestrais provavelmente tenham
antecipado riscos reais durante a caça e a vida diária, exercendo algum
controle sobre a incidência de ameaças letais por intermédio da ansiedade.
Apesar de a ansiedade estar presente em todos os seres humanos, alguns
indivíduos a manifestam com intensidade e duração exacerbadas, impedindo a
continuidade equilibrada da vida. A relação ansiedade x desempenho deixa de ser
vantajosa quando o “sistema é sobrecarregado cronicamente”, impactando em
déficits cognitivos como lapsos de memória e dificuldade de concentração, assim
como sintomas de hiper-estimulação autonômica (insônia, irritabilidade,
descontrole emocional, intolerância, agressividade, etc.).
Estresse
O médico austríaco Hans Selye empregou em
1936, com o termo médico, a palavra inglesa stress para definir os mecanismos
neuroendócrinos adaptativos do organismo a estímulos exteriores, sejam
positivos ou negativos. Em 1950, Selye publicou a obra que o consagrou, na qual
expôs a síndrome geral de adaptação. Apesar de o termo inicialmente ser
definido como uma resposta necessária e saudável, hoje o conceito está
associado à sobrecarga e ao prejuízo da qualidade de vida. A cultura
metropolitana cada vez mais estimula o sobrepeso do alto desempenho, da
competitividade e de metas desafiadoras, às vezes impossíveis de serem
alcançadas. Esse contexto de excessiva competitividade favorece tensões,
conflitos, depreciação do relacionamento interpessoal, além de baixa autoestima
e solidão.
¹ Entrevista com o Dr. Julio Peres à Revista
BOA FORMA – Marica Di Domenico
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