Cena da novela "Amor Eterno Amor" |
Respeitar os despojos mortais do ente querido
que atravessou os portais da morte é atitude aceitável, saudável e até
elogiável; mas tomá-los pela consciência imortal,
paralisando-se em sintonia e preocupação demasiadas com eles é comportamento
incompatível com a razão, na realidade última e vera da vida.
Pensar no familiar ou no companheiro que
partiu no cumprimento vital do fenômeno biológico da morte como um finado,
somente é admissível no sentido de epílogo de sua experiência carnal, jamais
como seu aniquilamento, sua nadificação ou sua ausência eterna e irremissível.
Prantear e entristecer-se com a separação e a
saudade inexoráveis e decorrentes do advento do túmulo que se manifesta por
símbolo de morte e ruptura dos laços familiares e sociais desta vida ilusória e
efêmera é atitude humana, compreensível, aceitável e até desejável.
Mas desesperar-se e desequilibrar-se na vida que
se segue, enveredando pela estrada inditosa do luto patológico, da descrença
inconsolável e da negação da vida, em isolamento permanente e abandono da lida
existencial, costuma refletir estado psíquico regressivo e adoecimento a
requererem terapia.
A vida é muito mais que um corpo perecível.O amor é bem mais forte e permanente que uma
separação. Os laços de afeto têm o dom de nos manter
unidos para sempre. A morte é só fenômeno do corpo, roupagem
temporária da alma. O desespero reflete enfermidade d'alma, a
clamar consolo na fé.
Deus é vida e não geraria a morte, senão como
relatividade e promoção para a vida maior e plena. Morrer é simplesmente
superar as injunções existenciais, na comprovação do sentimento inato de
sobrevivência, inscrito indelevelmente no imo mais profundo de cada criatura.
*****
Faze da dor, da saudade e da tristeza apenas
tributo momentâneo aos que te antecederam na grande viagem; mas transforma-as
viris em tributo eterno de vida e de certeza, de amor e de renovação para o
encontro futuro, ofertando-o ao ser amado como reconhecimento de sua vitalidade
post-mortem.
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