Por Dora Incontri (*)
(Escrevi esses
pensamentos, muito sentidos, há alguns anos. Pretendia publicá-los num livro,
mas antes que ficarem guardados, na memória do computador, melhor partilhar com
outros que, como eu, estejam amadurecendo essa que é a maior herança divina em
nós: a capacidade de amar.)
Parque Nacional da Tijuca - Rio de Janeiro |
O
amor é o oposto da indiferença. O amor nunca tanto faz, com o que o ser amado
faz. Por isso se empenha sempre por um fazer de luz.
O
amor pode curar, salvar, elevar, educar, regenerar. Mas tudo a longo prazo,
pois para se mostrar, atuar e agir, precisa muito ter paciência, perseverar,
persistir, muitas, infinitas vezes perdoar… Tudo devagar.
O
amor desgovernado, tumultuado pelas paixões, queima os corações, provoca
afastamentos, descontentamentos, dilacerações… Por isso, o amor precisa se
asserenar, se suavizar, alimentando-se de eternidade!
Mesmo
o amor mais forte, mais viril, mais ativo precisa ser feminino… Cuidadoso,
gentil, acolhedor, sabendo se esconder para o outro brilhar!
O
amor se muda, se adapta, se transforma, se sublima, mas nunca desiste. O amor
pode estar triste, agitado, aflito, cansado com os atritos do dia a dia. Mas se
for amor, nunca esfria! O amor tudo sofre – diz Paulo – e nunca se acaba. Mesmo
ofegante, prossegue; mesmo ferido, perdoa! Mesmo desacreditado, insiste! E
mesmo rejeitado, resiste! O amor tudo pode, tudo alcança! Força divina que nos
move e nos transfigura! Mesmo ainda misturado aos cascalhos das paixões, sua
fonte profunda é sempre pura! E por isso limpa com o tempo os corações!
O
amor é o único motivo, o único estímulo, o único impulso suficientemente forte,
elevado e belo para nos levar à superação de nós mesmos! Por amor a quem amamos
e por amor a Deus, alcançamos a transcendência!
O
amor para bem comunicar-se, precisa aprender sutilezas, precisa fazer recuos,
precisa ocultar ímpetos e transfigurar angústias! Precisa calar e falar com
sinceridade serena, compreensiva, derramando-se muito mais no olhar, que na
palavra; muito mais nos gestos, que nas anunciações!
O
amor compreende mais que julga! Não se endurece, antes se enternece! Quer mais
se doar do que receber! E o tempo todo tece o carinho, que alimenta!
O
amor sempre renova a confiança, refaz a esperança, alimenta o otimismo, porque
seu horizonte é a eternidade!
O
amor é combativo, mas não agressivo! É ativo, mas pacífico! É enérgico, mas
suave!
O
amor para ser saudável deve ter dignidade, autoestima. Mas para ser pleno, não
pode ter orgulho nenhum!
O
amor, por amor a quem ama, busca melhorar-se todos os dias, para elevar-se em
altura e grandeza, sendo sempre mais digno do ser amado!
O
amor só descansa com a perfeição, por isso está sempre à procura… Só se
satisfaz com a felicidade, por isso quer sempre mais!
O
amor está sempre perto do coração amado, mesmo que este esteja trancado, mesmo
que esteja distante! Está perto, nem que seja por uma prece ardente e por um
pensamento constante!
O
amor quando nasce é uma flor cheia de perfumes e cor, com ilusões de primavera!
Mas quando amadurece, é fruto doce, sem ornamentos, alimento perene!
O
amor, quanto mais se asserena, mais conquista; quanto mais se desapega, mais se
aproxima do ser amado!
Não
há um só dia em que o amor não dedique um serviço, um pensamento, uma prece, um
algo, em favor de quem ama! Mesmo à distância, mesmo oculto!
O
amor desfaz todas as tragédias, desanuvia todas as angústias, cura todos os
desequilíbrios, harmoniza todas as almas… O tempo tudo refaz, regenera,
reergue, sublima… Só o que sobra para sempre é o amor!
Nada
mais doce que um olhar de amor trocado, nada mais confortador que uma vibração
de amor permutada. Nada mais apaziguante que uma comunhão de pensamento
elevado, projetado para o infinito!
O
amor inventa sempre novos caminhos, não se conforma com obstáculos… Caminhos
que chegam ao coração, caminhos que levam ao céu!
O
amor sempre encontra um ponto de equilíbrio, um consenso confortável, uma
sintonia fina… E o arremate das piores situações será sempre uma costura de bom
gosto!
O
amor é delicado como uma flor, forte como uma rocha, vasto como o universo! Por
isso, não cabe apenas no corpo, não cabe apenas numa vida! É necessário que
seja infinito! Lógico que seja eterno!
O
amor pode se melhorar, pode se elevar, se transformar, se sublimar… Perder
sensualidade e ganhar asas; desfazer-se do feminino e do masculino e ser
divino… O amor pode até ficar guardado por um tempo até a próxima esquina da
vida… Mas se for amor, nunca termina.
O
amor está sempre conectado com o ser amado. Lê seu olhar, percebe sua alma,
capta seu coração. O amor é lúcido, desperto, vidente. Não para controlar,
tomar posse, mas para estar ao lado, estar dentro, estar em ressonância. A
postos para proteger, servir, ajudar e se ofertar.
O
amor se entrega inteiro, confia, se abre. Mas sem deixar de ser reto nos
princípios, elevado nos propósitos, correto na ação
Podem
surgir desavenças, o amor as supera! Podem se erguer ofensas, o amor as perdoa!
Podem se formar mágoas, o amor as desfaz! Para o amor, qualquer sombra é
tempestade passageira e a bonança volta sempre a brilhar!
Não
há dor que o amor não cure! Não há mal que o amor não desmanche! Não há
escuridão que o amor não ilumine! Não há queda que o amor não restaure! E seu
único aliado é o tempo. Por isso, o amor é infinitamente paciente
O
amor tem que tornar melhor quem ama e quem é amado. Se não torna (ou se torna
pior) não é ainda amor.
O
amor pode se sentir impotente, rejeitado, diante de um coração trancado,
ensimesmado numa concha de solidão! Mas então, o amor tem sempre que continuar
amando, aguardando brechas de entrada, uma estrada, um clarão… E pouco a pouco
se abre o outro coração!
O
amor pleno sereno, inteiro, é aquele que percebe cada sutil necessidade, cada
mensagem calada, cada aceno do ser amado. Percebe, compreende e age. Mas é
preciso caminhar muitos séculos juntos, é preciso se desfazer de muitos egos
para que o amor seja assim.
Quando
o amor está presente, nenhum dia passa inútil e cada problema revela uma lição!
Quando
não é compreendido, o amor compreende mil vezes, até que o outro alcance a
compreensão!
O
amor nada faz de banal, não fica na superfície, não age com leviandade. Por
isso desmancha o mal e lida com a verdade. Por isso não é mesmice e com energia
e meiguice se lança na eternidade!
Nem
tudo o que sabe, o amor fala, porque não faz falta. Nem tudo o que faz o amor
fala, porque não se exalta. Nem tudo o que dói o amor fala, sem mágoa incauta.
E quando o amor cala, sua luz brilha mais alta!
Amar,
amar, amar é a única maneira de ir se esquecendo de si! E quando se esquece
completamente, o amor encontra Deus!
O
amor ensina, sem ofuscar e aprende, com gratidão!
Quando
se está possuído de amor, os pés andam mais leves, o coração alado e o ar mais
rarefeito. Mesmo que às vezes, pesem a caminhada, o coração e o ar, logo tudo
se desanuvia e o céu claro logo de novo se anuncia!
Entender
como o outro expressa amor e saber fazer chegar ao outro o nosso amor é
alcançar o milagre da comunicação.
O
amor não precisa ter medo de amar mesmo que o outro não ame, mesmo que o outro
ame menos. O amor não precisa ter medo de amar o diferente, o oposto, o
desaprovado, o endurecido… Pois o amor transpõe qualquer barreira e um dia
alcançará a plena comunhão!
O
amor saberá tornar a franqueza tão doce, que não fira… Saberá usar a crítica
com tanto acolhimento que não afaste… O amor não faltará jamais à verdade mas
não há de buscar seus interesses e não a vestirá como arma, sendo-lhe ao invés
uma túnica sutil!
O
amor não se deixa aprisionar pela rotina seca do cotidiano! Ao invés, resgata a
flor, a poesia, o sorriso e o toque suave das mãos!
Quantos
espinhos o amor precisa colher na terra, por breves momentos de sintonia plena!
Mas sempre esperando a certeza de uma eternidade de comunhão!
Quando
o amor é muito grande e se vê no inferno, não desiste, resiste, insiste, mesmo
triste! E de salto em salto (porque se sabe eterno) se faz fraterno e afinal se
dilata tanto, regado a pranto, que se alcança materno!
Quando
o amor nasce materno, doce, sem nuvens, já nasce eterno, mas não evita a luta,
a labuta… Então precisa apenas secar o pranto, aceitar as penas e de alma
enxuta, persistir para sempre, como anjo sem desencanto!
O
amor restaura pacientemente o que se quebrou. Dá asas aos que se arrastam,
fazendo de vermes borboletas, fazendo de homens, anjos.
O
amor não se agasta, não se gasta, nunca se afasta e só doar-se já lhe basta.
A
colheita do amor é farta, exuberante, ensolarada. Alimenta e conforta. Quando
vem, falta nada. Apenas um pleno bem escancara a porta.
Quando
não se cobra, o amor dá de sobra. Quando não se apega, o amor transborda pleno,
doce e sereno. Quando se respeita e nenhum ciúme à espreita e quando se entrega
inteiro, sem medidas, floresce singelo, campestre, como margaridas.
Amar
sem posse é amar mais. Amar melhor. Amar em paz. Amar sem desejo de nada,
recebendo o que se deseja, de mão sobeja.
(*) Jornalista, educadora e
escritora. Suas áreas de atuação são Educação, Filosofia, Espiritualidade,
Artes, Espiritismo. Tem mestrado, doutorado e pós-doutorado em Filosofia da
Educação pela USP.
fonte:http://doraincontri.com
Esse texto de Dora Incontri, realmente é um amor de ponta a ponta e realmente foi escrito com amor, não poderia mais ficar guardado, foi uma decisão feliz publicá-lo.
ResponderExcluirDora, sempre oportuna e bem-vinda!
ResponderExcluirEveraldo C. Mapurunga
Viçosa do Ceará (CE)
Nossa que lindo texto!!
ResponderExcluirA cada frase lida eu queria ler mais e mais... e a vontade de que nunca terminasse.. de tão lindo a sua forma de expressar, de mostrar os vários significados do que é Amar.
Obrigada Dora Incontri por compartilhar tão belas palavras!