Por Roberto Caldas (*)
Quem foi mesmo que inventou a ideia
de que precisamos de unanimidade? Será que devemos fazer questão de que os
outros pensem da nossa mesma maneira? Como seria o mundo se todos pensassem e
fizessem de forma idêntica? Como seriam os campeonatos de futebol se todos os
torcedores pertencessem a apenas uma das agremiações? E se, por hipótese
houvesse no mundo apenas uma opinião científica, uma posição religiosa, uma
definição filosófica, haveria nisso algum benefício? Por outro lado, por que
nos encrespamos quando uma opinião diverge daquela que admitimos? Por que temos
dificuldade em discutir as idéias diferentes e acabamos por arremeter raiva,
desprezo e ironia em direção àquele que passamos a considerar um adversário?
Tais interrogações servem para
refletirmos o quanto estamos distantes de uma meta de conciliação com a nossa
própria consciência. O estado de sobressalto emocional acomete tão somente aos
colecionadores de dúvidas, aos que ainda não alcançaram as respostas aos seus
anseios mais profundos e pretendem utilizar o campo das relações humanas para
reforço de suas buscas com a imposição de suas convicções aos outros. Alguém
verdadeiramente convicto não precisa de procissões ou séquitos de seguidores
para se sentirem seguros, antes compreende que abrir diálogo para medir a
aceitação dos seus propósitos não pode ser confundido com atitude de conversão
da crença alheia.
O pensador que não se permite
abertura para informações que desconhece está condenado ao isolamento perigoso
que produz o fanatismo e essa disposição foi a grande responsável pelas maiores
tragédias que o planeta já experimentou quando dominou grandes massas. Pelo
fanatismo a primeira porta que se fecha é a do diálogo e é justamente pela
falha de comunicação que nos vemos cercado de guerras ideológicas de todas as
ordens, desde aquelas que norteiam os caminhos da riqueza material até aquelas
que deveriam acender as luzes das caminhadas espirituais.
Somos vítimas e ao mesmo tempo
geradores de verdadeiras disputas pela hegemonia da razão, como se a razão não
fosse ainda uma ruminação parcial, substrato relativo de nossas percepções
imperfeitas, muito distantes de um ideal superior. A pretensão de detentores da
verdade, embora saibamos categoricamente faltar-nos a sua integridade, retarda
os passos de quem planeje um salto de qualidade na compreensão mais ampla da
realidade.
Visitando o pensamento de Jesus, o
tipo mais perfeito que Deus nos ofereceu como guia e modelo (L.E. q. 625), é
possível apascentarmos o ímpeto de imposição aos outros do que consideramos o
melhor, isentos da tentativa de diminuir-lhes o espaço para as próprias
escolhas. O Mestre CONVIDOU um grupo de homens para a tarefa, RESPEITOU-lhes as
deficiências, DEU o exemplo da serenidade, CAMINHOU junto no aprendizado, ENSINOU
que o futuro lhes lançaria as luzes da compreensão, ACEITOU solitariamente a
imolação sem responsabilizar a qualquer outro nas suas piores horas. Aprendamos
com Jesus que as parcerias se confeccionam com generosidade honesta e
disposição da acatar as diferenças que nos caracterizam. A construção do Bem
Maior é uma tarefa de todos e o conjunto de nossas possibilidades é que compõe
o todo. A convivência pacífica prevê a celebração da diversidade.
¹ editorial do programa Antena Espírita de 23.11.2014.
(*) editorialista do programa Antena Espírita e voluntário do C.E. do Grão de Mostarda.
Aprender a conviver com as diferenças é uma questão complexa. Geralmente, é puro desenvolvimento do diálogo. Sabem aquela história dos porcos espinhos que ou aprendiam a conviver com os espinhos dos outros ou morriam de frio? ...pois é, a mesma coisa dentro de casa e fora desta. rsrs
ResponderExcluirMuito bom, seu artigo! Roberto Caldas! :)