quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

APENAS NATAL¹

               

Por Roberto Caldas (*)


           
 No exíguo tempo em que esse texto está sendo lido, milhares de existências estão chegando ao ocaso físico vitimadas pela fome, pela sede e pela violência das guerras. Nos motivos que as justifica é possível vermos a assinatura humana como a grande responsável, mandante e executora. Não se trata de uma providência geológica, de um cataclismo, a ação dos homens civilizados ceifa vidas numa proporção múltipla quando comparada com as catástrofes planetárias. O planejamento dos lucros e o desejo do sucesso político desdenham da necessidade da geração de uma vida com maiores oportunidades e menos desigualdade na divisão das riquezas que o planeta franqueia.
            Os direitos fundamentais e inalienáveis – à vida, à propriedade, à cultura e ao trabalho – sofrem golpes mortais diante da ambição desmedida da parte daqueles que insistem em prosperar em detrimento do vácuo social que promovem, o qual suga a energia da maioria precipitando uma sobrevivência sem qualidade para a imensa maioria da população. 
            Diante do espetáculo de transmissão “on line” da vida, fica impossível negar-se o quanto descuidamos das possibilidades do outro, sempre que os nossos interesses estejam em jogo. Substituímos as lutas das arenas, onde os escravos se matavam diante da torcida exigente por brigas sangrentas, pelo espetáculo das longas horas de trabalho que roubam dedicação à família, escravos modernos dos donos do poder que controlam o PIB mundial sem qualquer complacência diante das fragilidades de determinados grupos sociais, aqueles que desfilam à margem da sociedade.
            Natural nesse contexto que confundamos a comemoração do nascimento de Jesus com a expectativa de vendas do comércio e que a sua figura venha sendo substituída, anos após anos, pela proposital divulgação do papai Noel, pois enquanto esse garante o lucro dos poderosos, Jesus incentiva a partilha e a quebra dos desvãos da indiferença.
            Finalmente não podemos jamais perder uma oportunidade de reverberar, mesmo em difícil momento da humanidade, a possibilidade de Jesus tornar-se presente em nossas vidas. Acima de toda discussão que nos divide é importante que a palavra do Mestre seja a luminosa inspiração para todo aquele que almeja a mudança nos rumos de nossas existências. Sabemos que no alto de sua Majestade, diante da qual as forças opostas haverão de um dia se curvar, Jesus acompanha a movimentação de toda a humanidade e o seu olhar compadecido espalha o amor que mais cedo ou mais tarde impregnará a consciência humana de dentro para fora, de forma a trazer-nos de volta á simplicidade. 
            Enquanto esse momento não se torna realidade planetária, é possível que cooperemos com Jesus, qual vagalume que não consegue iluminar o mundo, mas cria um rastro luz trêmulo e passageiro, o qual consegue quebrar a rotina escura que nos cerca. Possamos nesse período do ano receber direto das mãos de Jesus o legado do Natal significando o nosso compromisso com a melhoria da vida na Terra, como operários de uma nova ordem de valores que “as traças não corroem nem os ladrões roubam”.

¹ editorial do programa Antena Espírita de 22.12.2014.

(*) escritor, editorialista do programa Antena Espírita e voluntário do C.E. Grão de Mostarda.

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