A mais recente pesquisa sobre voluntariado no
Brasil revelou que apenas 3 em cada 10 brasileiros já realizaram alguma ação
voluntária na vida. Entre os que jamais doaram parte do tempo ou energia em
benefício de alguma obra ou projeto, o principal motivo alegado para isso é
“falta de tempo” (40%), “nunca foram convidados” (29%), “nunca pensaram nessa
possibilidade” (18%) e “não sabem onde obter informações a respeito” (12%).
A pesquisa também mapeou o (des)interesse dos
mais jovens pelo assunto. Oito em cada 10 jovens brasileiros (16 a 24 anos)
jamais se envolveram com voluntariado. O que estaria por trás desse número?
Falta de apoio dos pais, das escolas e universidades? Por que a cultura da
solidariedade (e a mão de obra voluntária é a expressão mais contundente dessa
capacidade de sermos solidários uns com os outros) encontra-se tão distante das
novas gerações de brasileiros?
Apenas para registro: é curioso observar que
o “tempo” que falta para ser voluntário parece estar sobrando para longas
imersões nas redes sociais com trocas frenéticas de textos e imagens, em sua
maioria, absolutamente desimportantes, efêmeros, descartáveis. O fascínio
crescente da juventude (e de muitos adultos também) por essas novas ferramentas
tecnológicas que promovem espetáculos virtualizados de comunicação nos impede
de estabelecer contato real com outras realidades que teriam muito a nos
ensinar. E isso fica claro a partir do depoimento de quem exerce alguma
atividade voluntária (sem necessariamente abrir mão das redes sociais, bem
dito).
Apenas 11% dos brasileiros realizam hoje
alguma atividade voluntária. São 16,4 milhões de pessoas que se doam – sem
remuneração – em prol de alguma obra ou projeto. Qual é a recompensa? “Sensação
de bem estar” foi a primeira razão apontada pelos entrevistados. “Sentir-se
útil” foi a segunda e “gratificação pessoal”, a terceira.
Em outro momento da pesquisa evidencia-se o
altruísmo dessas pessoas, e o desejo sincero delas em transformar o mundo num
lugar melhor e mais justo. Quando indagadas a explicar por que são voluntárias,
as principais respostas foram: “vontade de ser solidário” (55%) e “influência
de pessoas e instituições” (18%).
Encomendada pela Fundação Itaú Social ao
Instituto Datafolha, a pesquisa ouviu 2.024 pessoas em 135 municípios e foi
divulgada na última sexta-feira (5), Dia Internacional do Voluntariado. A
própria Fundação reconhece os benefícios indiretos do fomento ao voluntariado
no ambiente de negócios, ao apontar as ações sociais como uma “forma de
aprimorar competências como o trabalho cooperativo e a liderança”.
Invariavelmente, os voluntários enfrentam
realidades adversas e lidam com poucos recursos para atender a muitas
necessidades. Essas são as condições ideais para o desenvolvimento de
habilidades específicas cada vez mais valorizadas pelas organizações.
É sabido também que muitos empresários já
incorporaram às rotinas de recrutamento e seleção de novos estagiários ou
funcionários uma investigação nos conteúdos das redes sociais dos candidatos
que revele aspectos da vida pessoal que não aparecem nos currículos. Uma
informação que costuma contar pontos é se o pretendente à vaga disponível já se
engajou em alguma atividade voluntária.
Não é possível imaginar um país justo, que
consiga alcançar a condição de desenvolvido no sentido mais amplo do termo, sem
a cultura do voluntariado. Nenhum governo em qualquer lugar do mundo consegue
resolver sozinho todos os problemas. Por maior que seja a soma dos impostos, a
sofisticação da máquina pública ou a eficiência dos servidores, a complexidade
dos problemas exige mobilização da sociedade e a organização de frentes de
trabalho voluntário.
Por exemplo: dá para imaginar o que seria de
boa parte dos alcoólatras espalhados pelo Brasil na escala dos milhões sem a
preciosa ajuda do AA (alcoólicos anônimos)?
Em um país como o Brasil, onde o suicídio é
considerado caso de saúde pública, qual seria a situação hoje se os voluntários
do CVV (que realiza um serviço gratuito de apoio emocional e prevenção do
suicídio) não atendessem voluntariamente a aproximadamente 1 milhão de ligações
por ano (uma ligação a cada 40 segundos)?
São tantas as causas urgentes do Brasil que
fica difícil enumerar todas as instituições (religiosas, educacionais,
ambientalistas, esportivas, de saúde, de inclusão social, de combate ao
preconceito etc.) que fazem a diferença graças ao precioso auxílio dos
voluntários.
O principal beneficiado, como a própria
pesquisa confirma (e os voluntários já sabem), são aqueles que se doam.
E aí, se animou?
Vamos fazer a nossa parte?
Belo artigo! Belo chamado!
ResponderExcluirFaço eco ao apelo do companheiro André Trigueiro embora tenha me surpreendido positivamente com a cifra que publica. 11% é excelente marca de ativismo, apesar de podermos ambicionar MAIS, é claro! Finalmente não podemos perder de vista os grupos que utilizam voluntários para se refestelarem em suas atividades espúrias de tomar valores da humanidade, pois dão com uma mão e tomam com a outra (exemplos? Globo, Bradesco, Itaú, entre outros). Roberto Caldas
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