Por Jorge Daher (*)
As autoridades
da Saúde definiram-na como estado de bem-estar físico, psíquico e social e não
apenas a ausência da doença. A Organização Mundial da Saúde tem esses
termos-chave em sua definição, que serve como roteiro de políticas públicas
para todos os governantes em todo o mundo.
No
cotidiano, cada indivíduo percebe saúde como sensação de bem estar e ausência
de doença e, para cada um, cabe ao médico zelar pela saúde por garantir a
erradicação de qualquer ameaça que possa acontecer ao seu bem estar, na forma
de doenças. Por isso, no conceito popular, o médico é tido como detentor não
apenas de informações, mas de uma sabedoria.
O
saber médico não se faz com o diploma, é construído ao longo de sua vida e deve
começar com a formação de uma base de conhecimentos anteriormente ao ingresso
na Faculdade de Medicina. Esses conhecimentos devem permitir ao aspirante à
Medicina uma capacidade de percepção do outro, seja como seu paciente, seja
como alguém que irá receber os resultados de sua atuação como homem da Ciência
Médica.
Na
faculdade, a formação do futuro médico deve ser segura e o maior ensinamento
que se deve receber é que o conhecimento é um campo ilimitado porque se
modifica a cada instante. Novos saberes são consequência de contínua
investigação pela necessidade incessante da Ciência Médica em compreender o
mundo e tudo o que se relaciona com a vida humana. E aprende-se que a carreira
à qual irá ingressar profissionalmente, é sustentada por uma base filosófica de
perquirição, que atualmente é baseada no chamado Reducionismo Biológico, onde o
conhecimento do todo se dá pelo conhecimento das mínimas partes envolvidas; em
outras palavras, para que eu conheça uma doença, não me basta saber como
diagnosticá-la e tratá-la, mas é necessário que conheça o porquê ela se
desenvolveu, o que ela modificou nas minúsculas partículas de cada célula.
A
saída da faculdade marca a era em que os livros são trocados por artigos
científicos e o médico recém-formado deve ter aprendido a bússola do bom-senso
para que seja guiado na escolha da fonte correta de trabalhos científicos em
cada área da Medicina. Para isso, índices bibliométricos, chamados índices de
impacto, oferecem à comunidade médica um norte para as boas revistas
especializadas.
Uma
vez diante de seu paciente, não cabe ao médico ser criativo, mas usar os seus
conhecimentos de forma adequada. E, principalmente, saber que os seus
conhecimentos devem ser os conhecimentos que a Ciência Médica oferece a cada um.
Esteja ele no Brasil ou no Cazaquistão, a Medicina é sempre a mesma.
Se
alguém procura um médico porque apresenta mal estar e sensação de dor na nuca
e, durante a consulta, apresenta pressão arterial elevada, o diagnóstico de
Hipertensão Arterial terá uma rotina de exames e condutas que será uniforme em
qualquer parte do globo. O tratamento pode diferir quanto à escolha, mas será
baseado em classes terapêuticas estabelecidas pelas sociedades médicas. Assim
com a Diabetes, com as doenças reumáticas, com todas as doenças crônicas e
agudas.
O
que diferencia um médico do outro é a forma como o saber é usado, mas
principalmente a forma como o paciente é tratado, e aqui o termo tratado tem o
sentido amplo de tratamento da doença e tratamento do ser humano, dos afetos,
do estabelecimento de uma relação de confiança entre o médico e seu paciente.
Quem estabelece a intermediação dessa relação é a Medicina, que deve ser
respeitada como a fonte do alívio do sofrimento, que tem como regra de ouro
milenar a frase latina primum non nocere,
ou, primeiro, não cause danos. E o médico que segue os saberes da Ciência
Médica, sabe que todo o arcabouço de conhecimento que é dispensado para todo o
mundo jamais deverá ser modificado somente pela pretensão de qualquer médico,
ou grupo de médicos, em contestar as conquistas que tivemos desde os primórdios
da Medicina até os dias de hoje sem que esse novo saber seja exaustivamente
comprovado pela experimentação e pela aceitação da comunidade médica.
O
médico não é o dono da verdade, não é o dono da saúde (ou da ausência da
doença), mas deve ser o dispensador do saber que a Medicina oferece, saber esse
que tem o sofrimento como alvo, saber que garante o alívio, saber que se rende
à amargura da morte e ao espanto dos milagres.
(*) Presidente da Associação Médico-Espírita de Goiás.
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