Por Roberto Caldas (*)
Correria,
exaltações, pânico, estampidos certeiros e o mundo até conseguiu esquecer os
milhares de mortes impostas pelos conflitos que cercam os territórios dominados
pelas guerras, guerrilhas e perseguições étnicas. O coração da democracia
moderna pulsava sangrento e dolorido. A simples troca da caneta pelo fuzil,
dois instrumentos em mãos humanas, criava uma assinatura capaz de estarrecer uma
humanidade adaptada aos noticiários que proclamam diariamente a violência que
nos atinge de todos os lados.
Retrospectivamente
percebemos que criamos deuses que obedecem aos nossos clamores de ignomínia,
fracos e pusilânimes que nos licenciam a seguir orientações e produzir
cometimentos que nos embrutecem numa forma de selvageria jamais encontrada
sequer entre os mais primitivos seres da fauna planetária em todos os tempos.
Tamanha desproporção, de pronto nos lançou no pior dos infernos, jamais
descrito por teólogos ou eruditos, aquele de labaredas frias quais lâminas que
dilaceram a cada navalhada. A sociedade humana inteira bradou: Je suis (eu
sou)! Uma imediata busca de identidade numa conturbada esquina de
incredulidade, estupor mesmo. O grito mais pareceu uma pergunta assustada: quem
sou eu? O que sou eu?
Finalmente
conseguimos tornar renascida a prática da punição fatal tão somente por
exprimir-se o pensamento, nos moldes modernos, sem julgamentos eclesiais, sem
fogueiras, agora representadas pelo fogo das armas pesadas, sem a pretensa
desculpa de salvar almas, apenas para vingar os deuses que erguemos.
O
brado, porém, não soa em vão. A busca da identidade (Je suis) é a necessidade
de tomar para si as complexas dores que invadem as ruas. A terra que
universalizara os princípios da Liberdade, Igualdade e Fraternidade agora
conclama ao exercício do compromisso individual, ao fazer-nos vestir a carapuça
do que exigimos para o mundo ainda em trevas.
A
Doutrina Espírita esclarece desde os seus primórdios que vivemos como
intérpretes das leis naturais, entre as quais os Espíritos Superiores definem
na questão 648 (ver O Livro dos Espíritos) ser a Lei de Justiça, Amor e
Caridade, aquela que resume todas as demais. A força das idéias que expressa
dignifica a capacidade de cada pessoa (Je suis) em contemplar as diversidades
interpessoais com o senso da crítica com respeito e da ação construtiva naquilo
que lhe compete. O Deus que não fabricamos e nada tem de semelhança com a nossa
imagem, define na questão 875 (LE) que “A justiça consiste no respeito aos
direitos de cada um”, desdobrando o entendimento que tais direitos são
defendidos pelas leis - humana e natural.
Reflitamos
nos riscos de assumirmos a posição Je suis, cujas cobranças e ônus haverão de
recair oportunamente sobre cada pessoa, cedo ou tardiamente porque, não importa
quantos deuses inventados aplaudam as nossas barbaridades, é a consciência que
pulsa em cada um que terá de se reinventar tantas vezes quantas necessárias até
que se diluam as brumas das ilusões que nos afundam na ignorância de intentar silenciar
o pensamento de alguém. Vencemos um período negro da história e haveremos de
fazê-lo outra vez, em nome de Deus!
(¹) editorial do programa Antena Espírita de 11.01.2015.
(*) escritor e expositor espírita e voluntário do C.E. Grão de Mostarda.
Jorge veja esse comentário, no facebook, feito por Edi Carlos R. de Oliveira.
ResponderExcluirEdi Carlos R. de Oliveira "Vera Silva, conheci o canteiro de idéias por conta de suas publicações. Um espaço muito bem elaborado com textos muito bons. Continue postando, e por aqui também. Abraço!!!"
Olá, amiga!
ResponderExcluirQuanto tempo!
Grato pela sua contribuição em divulgar o Canteiro de Ideias. Felizes, mais ainda, pelo reconhecimento dos esforços de todos nós em levar aos corações espíritas e não espíritas, a consoladora Doutrina Espírita.