Por Francisco Cajazeiras (*)
Somos todos passageiros do veículo da
evolução, utilizando-nos do instrumental da nave terrena que viabiliza os
recursos de que necessitamos para o nosso treinamento anímico. Para tanto
recebemos o kit corporal, composto de todo o material para a vida na dimensão
física.
Porém, no atual estadiamento em que se
encontra a Humanidade, como decorrência das andanças inumeráveis a que já nos
expusemos e especialmente porque temos percorrido a escalada do progresso
espiritual, invariavelmente atrelado à matéria mais densificada, é muito forte
a nossa identificação com essa matéria grosseira e a nossa atração por ela.
Aliás, mesmo quando retornamos à dimensão
entendida como “espiritual” aqui na Terra, ainda assim somos transferidos para
planos materiais, ou como queiram semimateriais, o que implica em uma gradação
fluídica que, ao ser comparada à do corpo planetário, é bastante sutil
conquanto ainda seja matéria.
O fato é que grande parte das pessoas
considera-se unicamente corpo somático e aplica todos os seus recursos para a
manutenção do prazer corporal, fixando sua idéia e consumindo toda sua energia
para a execução desse ideal: saúde física, modelagem corporal, manutenção da
vida somática.
Busca-se sofregamente ampliar os bens
terrenos e desviar a própria atenção com exclusividade para a faceta humana da
sua consideração: o imóvel, o carro, a roupa, o dinheiro…
Até as religiões que, em número, crescem de
forma vertiginosa, prometem, no comum (e indevidamente), a solução para todos
os problemas daquele que lhe segue: afetivos, familiares, sociais, de emprego,
relativos à aquisição de riquezas etc…
E por orientar-se, especialmente, para tal
posição, quando não consegue ver esses seus problemas solucionados, o indivíduo
deprime-se e se amargura.
É indiscutível a necessidade de certos bens
materiais para que sejam asseguradas as mínimas condições para uma vida digna e
produtiva. Porém, preciso é entender que somos muito exigentes quanto a essas
supostas necessidades e frequentemente ocupamos demais a nossa atenção na ânsia
de possuirmos cada vez mais, esquecendo-nos que, via de regra, somos mesmo é
possuídos pela posse, permitimo-nos escravizar por Mamon.
Jesus, em sua fabulosa sabedoria, deixou-nos
singular e belo ensinamento inserido no denominado Sermão do Monte:
“Não andeis ansiosos pela vossa vida quanto
ao que haveis de comer ou beber; nem com o vosso corpo, quanto ao que haveis de
vestir. Não é a vida mais que o alimento e o corpo mais que o vestuário? (…)
Observai como crescem os lírios do campo. Eles não trabalham nem fiam.
Eu porém vos digo que nem mesmo Salomão em
toda a sua glória se vestiu como qualquer um deles.
Se Deus assim veste a erva do campo, que hoje
existe e amanhã é lançada no forno, não vestirá muito mais a vós, homens de
pequena fé?(…)
Portanto não andeis ansiosos pelo dia de
amanhã, pois o amanhã se preocupará consigo mesmo. A cada dia basta o seu
próprio mal”.(1)
Essa magnífica e bela passagem evangélica não
deve naturalmente ser observada de modo literalista, posto que assim veríamos
abolido qualquer esforço no sentido da automanutenção, o que sem dúvida viria a
redundar em retumbante desastre.
O trabalho é uma das leis naturais de que nos
falam os Espíritos Reveladores no Terceiro Livro da obra primeira da
Codificação Kardeciana: “O Livro dos Espíritos”.
É exatamente pela realização dessa atividade
mantenedora da sobrevivência do ser que o Espírito vai desenvolvendo a sua
capacidade intelectual e de discernimento, bem como cumprindo a sua parte no
desenvolvimento da obra da criação.
Como se vê não é possível nos atermos à letra
do ensinamento, mas extrairmos a mensagem de que é detentora.
Aqui, vemos Jesus, de forma didática e em
consonância com a capacidade interpretativa de sua época, lembrar-nos da
impropriedade de nos mantermos apegados à coisa material, assim como também,
fazer-nos refletir e compreender a ação da Providência Divina em nossas vidas.
O Criador a ninguém desampara. Estejamos em
qualquer lugar, façamos o que fizermos, digamos o que dissermos, Deus nunca nos
faltará e sempre nos proverá das melhores possibilidades a fim de nos permitir
agir invariavelmente da melhor forma e sempre com o desiderato no Bem. Para
tanto, contamos com a nossa consciência, falando-nos pela via intuitiva;
contamos com os familiares e amigos (encarnados e desencarnados) que se fazem
consciente ou inconscientemente mensageiros da Divindade, alertando-nos para os
perigos, dirigindo-nos a atenção para as melhores soluções e pondo ao nosso
dispor as mais diversas situações capazes de facilitarem-nos o melhor
desempenho possível.
Se a natureza é tratada com indiscutível
amor, por que ocorreria o oposto conosco, também criação divina?
O grande problema é que, repetidas vezes,
fazemo-nos surdos aos clamores naturais, cegos à luz da lógica e do bom senso,
impermeáveis à ação do orvalho ameno que se faz em nossas existências. Essas
limitações que nos impedem de perceber a ação magnânima do Criador, através do
que se passou a chamar de Providência Divina, são uma decorrência da descrença,
da ambição, da inveja, do egoísmo, do inconformismo e de outras tantas mazelas
que nos amarguram a existência terrena.
Indispensável, pois, a adoção de uma postura
mais humilde ante a vida, do desenvolvimento da fé pela razão, do conhecimento
capaz de iluminar as consciências.
Nesse sentido, muito poderá nos beneficiar o
estudo continuado da Doutrina dos Espíritos, capaz de oferecer-nos os recursos
de que carecemos para esse despertar para as coisas do Espírito.
Deus está conosco! É bastante atentarmos para
a observação do Mestre de Nazaré:
“Observai
os lírios do campo... Eles não trabalham nem fiam...”
(1) Mateus,
06: 25, 28, 29, 30, 34.
(*) escritor e orador espírita, presidente do Instituto de Cultura Espírita do Ceará e Associação Médico-Espírita do Ceará.
Excelente interpretação!
ResponderExcluirEveraldo Mapurunga
Viçosa do Ceará