Por Roberto Caldas (*)
Monumento homenageia a abolição da escravatura em Redenção (CE). (Foto João Marcelo Sena) |
Nada igual à força do tempo para construir a
história de um povo. Triste daquele que não avalia os fatos históricos para
compreender o tempo em que vive, como se os eventos sociológicos funcionassem
como o piscar de um relâmpago, de forma imediata. São necessários decênios,
séculos mesmos para que os fatos transformem uma sociedade. Foi assim que o dia
25/03/1884 entrou para a história do povo brasileiro, como um dos mais
importantes capítulos em prol da luta pela igualdade e pela liberdade. Nessa
data, quatro anos antes de assinada a Lei Áurea pela Princesa Isabel de
Orleans, num movimento que iniciara em 1881 ao serem entregues 116 cartas de
Alforria na então Província do Ceará, onde hoje é conhecida a cidade de
Redenção. Então, o Porto de Fortaleza se encontrava fechado para a movimentação
do mercado negreiro em decorrência da ação dos jangadeiros capitaneados por
Chico da Matilde, também conhecido pelo codinome de Dragão do Mar.Pela
magnitude dos fatos a Província do Ceará é citada em discurso por um dos pais
da Abolição da escravatura, José do Patrocínio, como Terra da Luz, Berço da
Liberdade, convidado que fora por Paula Nei a se fazer presente na entrega das
cartas de libertação de escravos.
Pouco
mais de um século daqueles fatos, apesar de ainda vivermos cercados de
preconceitos que ainda tisnam de obscuridade a sociedade brasileira, é possível
dizer que vivemos numa época em que as conquistas sociais se encontram
resguardadas pelo Estado de Direito e apenas pelo viés da desonestidade é que
os homens se compram e se vendem, não mais pela escravidão imposta pela cor da
pele. Apenas a insensatez dos poderosos poderia ter sequestrado e aprisionado
milhões de homens e mulheres, retirados do seu ambiente de plena liberdade para
lhes infringir a humilhante condição de escravos.
Questionados
em O Livro dos Espíritos (q. 829) a respeito da sujeição e posse de um homem em
relação ao outro, os Espíritos Superiores ensinam: “Toda sujeição absoluta de um homem a outro é contrária à lei de Deus.
A escravidão é um abuso da força e desaparecerá com o progresso, como
desaparecerão pouco a pouco todos os abusos”.
Importante
atentarmos à referência final dessa resposta dos Espíritos, “como desaparecerão
pouco a pouco todos os abusos”, pois a sentença dita em 1857 se antecipava ao
ato de Abraham Lincoln que assinara a libertação dos negros dos Estados Unidos
em 01/janeiro/1863. Assim também ocorrerá com todos os entraves que reduzem a
marcha da humanidade, mercê das leis humanas que ainda nos mergulham na escura
vala dos problemas sociais. O planeta Terra tem uma destinação e vai cumpri-la
e nada haverá de deter os passos dos Planos Divinos em sua caminhada de
evolução do gênero humano. Nenhum interesse escuso resistirá mais do que as
nossas necessidades de restauração da Lei de Causa e Efeito permita. Haverão de
cair uma a uma as armadilhas que nos fazem presa fácil das calamidades sociais
que ainda grassam na humanidade. O laboratório dos renascimentos vai nos dispor
frente a frente, várias vezes, diante de nossos próprios delitos, para o ajuste
que necessitamos para o ajuste de opiniões e atitudes.
Enquanto
caminhamos para novas aventuras de mudanças, louvemos o esforço daqueles que,
no passado recente de nossa história, tiveram a coragem de iniciar a mudança
que hoje usufruímos. Salve 25/03/1884, data em que a cor da pele começou a deixar
de fazer diferença entre os homens. Viva
a liberdade e a igualdade!
¹ editorial do programa Antena Espírita de 22.03.2015.
(*) escritor espírita, editorialista do programa Antena Espírita e voluntário do C.E. Grão de Mostarda.
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