Por Roberto Caldas (*)
Chico Xavier, na cabeceira da mesa, durante reunião mediúnica em 1972 |
Habitualmente encontramos saudosistas que
questionam o porquê das casas espíritas, em sua quase totalidade, terem se
fechado às práticas mediúnicas antes abertas ao público de forma empírica.
Geralmente se resgata situações em que prodígios de reconhecimento ficaram
patentes entre algum participante improvisado e um comunicante que falava
através de médiuns. Julgam que tais ocorrências serviam de comprovação
inapelável dos fenômenos espíritas e que terá sido um erro tê-los tornado
privados.
Raciocinam
como se a Doutrina Espírita ainda estivesse em seu período de pesquisas
probatórias, quando havia um esforço concentrado para a observação fenomênica,
como se a mesma ainda se constituísse na mais importante das atividades a serem
propostas aos grupos. Precisamos admitir que a curiosidade em torno da
mediunidade foi um dos mais potentes combustíveis para acender a chama dos
ensinamentos doutrinários em outros tempos.
Não
há como negar, no entanto que os tempos mudaram e na atualidade, depois de
milhares de obras psicografadas, textos de pesquisas publicados, experimentos
em universidades tornados populares, a exposição pública da mediunidade com as
mesmas finalidades de outras épocas não se justifica mais. Isso se arrazoa
porque o Espiritismo embora promane dos efeitos mediúnicos e tenha criado em
torno deles toda uma argumentação que os legitima, já não depende com
exclusividade do viés fenomênico para manter a lógica de sua construção. O seu
apelo à racionalidade, o convite para uma análise lúcida dos processos da
Natureza sob a óptica da imortalidade, a discussão em torno da Justiça Divina,
a reimplantação da ética de Jesus no contexto da sociedade moderna, a exigência
da vitória sobre as más inclinações passaram a ser o grande objetivo do
Espiritismo a ser trazido para a observação da humanidade.
Os
efeitos mediúnicos, retirados do âmbito da ânsia de popularização, devem mesmo
estar restritos aos grupos de estudos que se aplicam então ao trabalho de
aprenderem os ensinamentos exalados em O Livro dos Médiuns, destituídos do
objetivo de conversão de crença, mas para aprofundamento de conhecimentos com
finalidades mais nobres de serviço aos necessitados, bem entendido que o maior
necessitado é aquele que mergulha no estudo.
Vivemos
em um tempo que exige de forma cada vez mais intensa uma postura coerente à
prática espírita. Precisamos ampliar os mecanismos de convivência dentro e fora
das casas espíritas para a adoção de uma atitude de valorização daquele que é o
mais importante papel da Doutrina Espírita no mundo, o qual se constitui em sua
missão, que é a renovação da humanidade, pela compreensão de sua destinação
evolutiva. Tal só será possível pelo esforço de nossa parte em conhecer a
essência dos ensinamentos dos Espíritos, traduzidos nas obras da Codificação de
Kardec, imbuídos da visão de que as idéias pessoais são importantes reforços
para os debates que fundamentam o entendimento crescente, mas não podem se
constituir em expressão dogmática a ser imposta aos demais.
A
forma do Espiritismo se mostrar ao mundo passou da Fenomenológica para se
tornar Esclarecedora. Quem sabe precisemos trazer para dentro de nós tal
mudança?
¹ editorial do programa Antena Espírita de 15.03.2015.
(*) escritor espírita e editorialista da do programa radiofônico Antena Espírita e voluntário do C.E. Grão de Mostarda.
Meu caro Roberto Caldas, você está colocando o dedo em uma ferida exposta. É comum se ouvir em algumas casas a seguinte conversa após uma reunião mediúnica: Essa comunicação é a maior prova de que os espíritos existem! Será que após quase 158 anos da publicação de O Livro dos Espíritos e 154 anos de O Livro dos Médiuns, em pleno século XXI, ainda precisamos desse tipo de comprovação? Está na hora de procurarmos orientar a nossa conduta familiar, profissional e social pelos postulados espíritas, para que a nossa família perceba os benefícios que essa Doutrina maravilhosa pode fazer na nossa atual existência!
ResponderExcluirCastro/Caldas
ExcluirAlgum tempo atrás, aqui em Fortaleza, não sei se ainda existe, fundaram um Instituto para realizar pesquisas com o propósito de comprovar a existência do Espírito. Não sei se conseguiram comprovar.
rsrs... Nossa, estou sem palavras.
ExcluirSão tantas obras sendo psicografadas que muitos acabam esquecendo um poucos daqueles 5 livros tão importantes cujo teor ainda estamos longe de compreender. A doutrina é tão simples, tão consoladora e mesmo assim não conseguimos acompanhá-la. Reuniões mediúnicas abertas acabam se transformando em espetáculo para curiosos, infelizmente. Se for para ter mais adeptos, que estes venham pelo estudo das obras e não pelos fenômenos. Roberto Caldas parabéns pelo texto. Precisamos promover a reflexão sobre pontos como estes, promovendo a essência do verdadeiro espiritismo dentro de nós. :)
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