Por Roberto Caldas(*)
Quando analisamos a
palavra de Jesus identificamos as suas orientações dirigidas ao cuidado com o
tempo. Apesar de discorrer a respeito do passado e do futuro, a sua visão
estava concentrada na atenção ao momento vivido, mesmo sabendo que a
significação daquelas informações demoraria ainda muitos séculos para ser
entendida e incorporada na dinâmica psicológica dos povos. Essa talvez tenha
sido a sua opção em falar por parábolas, pois relato de histórias e simbologias
tornam possível que, em todas as épocas e idades, se faça o entendimento
pontual esperado pelo contador de casos.
Apreciando uma das passagens
narradas no Evangelho de Lucas (XIV, 59 a 62), cuja fala principal estabelece
“aos mortos enterrarem os seus mortos” e “pegar no arado e não olhar para trás”
vemos claramente que o discurso do Mestre conclamava para uma atitude renovada
que propunha deixássemos as ocorrências do passado no lugar que lhe pertencia,
obviamente resolvidas, para que não se tornassem fardos a ser carregados dias
afora.
Defrontando-nos com aquilo que se
encontra inscrito em Mateus (VI, 34) quando nos incentiva a “deixar para amanhã
o que cabe ao amanhã” fica evidenciado que nos vincularmos ao futuro com o
ensejo de antecipação é perder a oportunidade de vivenciar as experiências que
visitam o dia que se apresenta. Nessa passagem nos encanta com a alusão aos
pássaros do céu e aos lírios dos campos, numa das mais belas poesias já
recitadas em todos os tempos.
O entendimento que uma leitura
interpretativa de Jesus nos permite, calcada nos novos conhecimentos adaptados
da moderna Psicologia, dão sentido á importância de sua linguagem parabólica e
preditiva. Ele sabia que, “como o vento que sopra onde quer” segundo consta em
João (III, 8), haveria uma época em que o conhecimento humano teria
possibilidades de mergulhar mais fundo na compreensão dos seus ensinamentos
alcançando muito além que a mera repetição de palavras, como se estivéssemos
ainda em sua época.
A Doutrina Espírita, profetizada ao
ser anunciado o envio do Espírito da Verdade em João (XIV, 15 a 25 e 26) que
esclarece quanto ao “advento do Consolador” que relembraria o que houvesse sido
esquecido e traria novas informações, ocupa um espaço importante na
reverberação da atualidade de Jesus. Ao propor que a Lei de Deus está escrita
na consciência de cada Espírito (LE q. 621) e que Jesus terá sido o tipo mais
perfeito para nos servir de guia e modelo (LE q. 625), a Doutrina Espírita nos
faz um convite a refletir a sua mensagem contemporânea. Ensina-nos que o
caminho para os avanços que sonhamos para a própria existência se encontra no
exercício de vencermos as feridas amargas do passado, caracterizadas pelo
remorso que paralisa ou pela vingança que embrutece, assim como
desvencilhar-nos da ansiedade que estressa e antecipa julgamentos.
Clarice Lispector dizia: “você só
terá sucesso na vida quando perdoar os erros e as decepções do passado” e que “não
se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento”.
Vencer as amarras de ontem e estar tranquilo
quanto ao amanhã são atitudes que nos permitem fazer o que é certo no dia de
hoje.
¹ editorial do programa Antena Espírita de 01.09.2013.
(*) integrante da equipe do programa Antena Espírita e voluntário do C.E. Grão de Mostarda.
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