Por Roberto Caldas (*)
Conta a história que nos idos de 1875, ao
receber um exemplar de O Livros dos Espíritos, recém lançado em língua
portuguesa, O Dr. Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti, médico com carreira
consolidada, sentiu-se temeroso com o suposto conteúdo da obra. O exemplar
havia sido ofertado pelo tradutor da obra, também médico, e um dos seus grandes
amigos, Dr. Joaquim Carlos Travassos. O fato de ter um longo percurso de bonde
entre o local de trabalho e sua residência aliado à falta de algo para fazer
nesse tempo foram os motivos para se propor à leitura. Católico fervoroso,
temendo cometer algum sacrilégio, caso lesse aquele livro, tomou a decisão de
lê-lo com a seguinte inflexão de pensamento, segundo suas próprias palavras:
“ora, Deus! Não hei de ir para o inferno por ler isso... Depois, é ridículo
confessar-me ignorante desta filosofia, quando tenho estudado todas as escolas
filosóficas...”. Daí em diante o que se desenrolou em sua vida é conhecido por
todos os espíritas do Brasil.
O
fato que nos chama a atenção no caso relatado é que passados tantos anos desses
acontecimentos e tanta popularização da obra básica de conteúdo espírita, ainda
sentimos a necessidade de repetidas vezes voltarmos à discussão em torno da
tônica do estudo da Codificação por parte das casas espíritas.
Na
oportunidade em que festejamos em abril o advento de O Livro dos Espíritos, e
tendo essa obra sido o pontapé inicial para o novo caminho espiritual adotado
por Bezerra de Menezes, cabe-nos a exortação da grande importância de sua divulgação
antes de qualquer outra. É importante que o profitente do Espiritismo saiba,
pela leitura repetida várias vezes, como manuseá-la e encontrar os diversos
aspectos que possam interessar em ocasiões específicas. É fundamental que ao
leigo interessado em aventurar-se no aprendizado relativo ao mundo espiritual
que essa obra seja a primeira a ser-lhe indicado para iniciar as suas
reflexões. Nenhum outro autor, que não Allan Kardec, nenhuma outra obra, que
não O Livro dos Espíritos, deveria ser indicado para pessoas que buscam trilhar
os caminhos do conhecimento do Espiritismo.
A
narrativa que envolveu os passos iniciais de uma das mais conhecidas
personalidades espíritas no mundo é um exemplo da maior qualidade, a quem
interessar possa, da força que O Livro dos Espíritos exerce sobre pessoas
dotadas de capacidade intelectual adequada pelo chamado à razão que permeia
cada um dos seus 1019 questionamentos, inteligentemente adornados pelas
respostas dos arautos do mundo espiritual.
Diante
da grandiosidade do Ensino Universal dos Espíritos possamos sentir que nos
caiba a análise crítica que toda grande ideia enseja e obriga, mas igualmente
nos compete a humildade de confessar-nos verdadeiros ignorantes diante da
sabedoria do além que sobressai dos estudos de Allan Kardec. Detenhamo-nos
diante da enganosa atitude de querer inventar a roda. O Espiritismo haverá de
avançar com ou sem o nosso aval.
Bezerra
de Menezes desencarnou no Rio de Janeiro em 11/04/1900 e recebe todas as
homenagens dos espíritas do Brasil e do mundo pela profícua passagem com
contribuições importantes ao Espiritismo nascente em terras brasileiras. O
Livro dos Espíritos completa 158 anos neste ano.
¹ editorial do programa Antena Espírita de 12.04.2015.
(*) editorialista do programa Antena Espírita, escritor espírita e voluntário do C.E. Grão de Mostarda.
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