Por Roberto Caldas (*)
Alcança-nos direto da inspiração de um poeta
popular a reflexão que enseja alto comprometimento de nossa parte: ”eu era
criança, hoje é você, e no amanhã, nós” (Fazenda - Milton Nascimento). De
princípio, nada que nos cause susto pela constatação do óbvio. Fosse uma
sentença aparentemente apenas poética, ainda assim retrataria uma realidade
forçosamente cada vez mais aceita pela pelo senso que se atribui ao
inconsciente coletivo que norteia as buscas da humanidade.
Ressalta-se
uma temática a ser explorada. Se fomos, e seremos crianças, significa que de
certa forma estamos preparando o mundo para nós mesmos, considerada a
perspectiva do futuro que nos aguarda nesse balanço existencial. Importa,
então, e muito, o que estamos repassando para as gerações de pequeninos que se
encontram momentaneamente sob as influências de nossas teorias e práticas.
Outra consequência dessa ruminação é que o nosso psiquismo adulto não difere
muito em questão de capacidade daqueles, simplesmente impregnamos o corpo que
nos serve de uma quantidade de informações que ainda não chegaram ao universo
deles nessa encarnação.
É
exatamente assim que alude O Livro dos Espíritos quando propõe na questão 383,
“Qual é, para o Espírito, a utilidade de passar pela infância? – O Espírito,
encarnando para se aperfeiçoar, é mais acessível, durante esse tempo, às
impressões que recebe e que podem ajudar o seu adiantamento, para o qual devem
contribuir aqueles que estão encarregados de sua educação.”
O
tema nos permite uma infinidade de elucubrações, todas necessárias à atitude a
ser tomada diante das exigências dos novos tempos, com uma visão ampliada ao
porvir de nossas próximas existências. A Pedagogia atual é materialista e
fomenta a competição exacerbada. A Saúde do momento ressalta a tecnologia das
indústrias farmacêuticas que objetivam o lucro antes do benefício. A Diversão
moderna prioriza a produção da adrenalina que fabrica a ansiedade e predispõe
ao pânico. A Educação Doméstica terceirizada aos profissionais remunerados
transferindo afetos. A Instrução privilegia a inteligência formal e abandona os
aspectos emocionais alargando solidões. A Ciência Política, artífice das
mudanças que precisamos, respira asfixiante tóxico que envenena os princípios filosóficos
da honestidade.
Não
importa o quanto demore, mas seremos nós mesmos que precisaremos retornar para
o conserto do que destruímos. A escolha do caminho mais fácil nos arremete para
a exigência da estrada necessária. Se percebemos claramente o benefício da
diferença entre tais opções, urge que tratemos com extrema seriedade o tema.
Semente leva tempo para alcançar a maturidade do fruto, para voltar a ser
semente um dia, na multiplicação dos valores que traz dentro de si.
O
emprego do melhor que há em nós na direção aos que hoje são crianças é ação,
cujo efeito se reverte em prol da sociedade que desejamos encontrar no futuro.
Aí seremos nós as crianças que retornam para desfrutar do plantio. “E o
semeador, saiu a semear... havendo grãos que rendiam cem, outros sessenta,
outros trinta por um. Quem tem ouvidos, ouça” (Mateus 13: 1- 9).
¹ editorial do programa Antena Espírita de 30.03.2015.
(*) escritor espírita, editorialista do programa Antena Espírita e voluntário do C.E. Grão de Mostarda.
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