Por Jorge Daher (*)
(inspirado em “Panda S.C. (2006), Medicine: Science Or Art?
In : What Medicine Means To Me (Ajai R. Singh, Shakuntala A. Singh Eds.), MSM,
III:6, IV:1-4, p127-138.”)
A Medicina é Ciência
ou Arte? Hipócrates de Cós, no texto que se tornou o juramento proferido por
todos os médicos, estatui a Medicina como Arte de Curar e o juramento tem
início com a célebre frase: “Prometo, que ao exercer a Arte de Curar...” .
A
Medicina não é pura Ciência, como a Física, ou a Química, onde os eventos
obedecem o rigor da uniformidade a ponto de serem descritos em fórmulas
matemáticas. Todavia, Medicina é uma Ciência Aplicada, onde a base de seu
conhecimento é toda ela científica, o conhecimento surge como conclusão de
vários experimentos rigorosamente controlados.
Medicina
é Ciência e Arte. Como Ciência aplicada, o conhecimento científico é dirigido
com objetivo de conhecer a verdade, no caso o paciente e sua doença e essa
aplicação é a Arte de Curar.
Toda
arte tem seus mestres. Os mestres da Arte de Curar são inúmeros, poucos são
conhecidos e a grande maioria persiste anônima ao conhecimento geral, mas
conhecida pelos que são seus pupilos, ou discípulos. Conhecemos nossos mestres,
geralmente, nos hospitais, onde a arte é dirigida aos pacientes, para o alívio
do sofrimento. A maior parte dos mestres se revela durante a Residência Médica,
onde somos por eles escolhidos para receber deles os seus ensinamentos. Alguns
mestres encontramos mais tardiamente em nossas vidas, chegam como aqueles que
nos ensinam a materializar nossos sonhos na Medicina, nos ensinam uma face da
Arte de Curar que conhecíamos por intuição mas não sabíamos como exercê-la.
Talvez sejam esses os mestres verdadeiros, por chegarem quando os discípulos
estão prontos.
Os
mestres são a bússola de nossa vida como médicos. Eles chegam e passamos a nos
nortear, no exercício da Arte de Curar, pelos ensinos que nos passaram, pelas
novas fontes de conhecimento da Ciência Aplicada que nos fazem buscar com
vívido interesse.
Quando
os mestres partem, deixando a materialidade da palavra que tange nossos
ouvidos, se tornam mais que saudade, ensinam-nos a viver a transcendência ao
buscar seus ensinos em cada fato novo que a Arte de Curar nos exige. E
percebemos que a imortalidade se torna uma construção necessária por
compreendermos que esses mestres continuam vivos.
Em
cinco de janeiro, minha mestra da Arte de Curar deixou o corpo já cansado,
depositando-o na urna de seus familiares, mas antes disso, cuidou de construir
em cada um de seus discípulos sua voz imortal que continua vívida em nossos
ouvidos.
Marlene Nobre não é conhecida nos anais da
Medicina, os egrégios conselhos jamais terão o interesse em prestar-lhe
qualquer homenagem. Como grande mestra, foi conhecida apenas de seus
discípulos. Ensinou ativamente, durante toda sua vida, mas mais particularmente
desde agosto de 1968, um novo modelo de Medicina, capaz de enxergar o homem em
sua dimensão transcendente, ser compreendido como ser integral, portador não
apenas de uma história, mas de uma vida que dá significado à vida do médico
quando dele se torna paciente.
Marlene nos ensinou que o médico é
indissociável de seu paciente, que a Ciência Médica, por não ser pura ciência,
deve ser a Ciência do Espírito, que conhece o corpo em profundidade, mas não
desconhece a alma e a tem como o fundamento da vida, como a identidade do ser.
Marlene deixou seu corpo, legou seu ensino como mestra, continua viva como a
mulher que reuniu em torno de si mais de mil médicos, no Brasil e no exterior,
ávidos de beberem do cálice de sua arte, a arte hipocrática, a Arte de Curar.
(*) presidente da Associação Médico-Espírita de Goiás.
ssffss
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