Por André Trigueiro (*)
Somos feitos rigorosamente dos mesmos
elementos que constituem o planeta. A palavra homem, de onde vem Humanidade,
tem origem no latim húmus. A
palavra Adão, que aparece simbolicamente no Velho Testamento como a primeira
criatura humana, significa terra
fértil em hebraico. Essa mesma terra – que empresta o nome ao
planeta e à nossa espécie – se revela no mais rudimentar dos exames de sangue,
quando descobrimos que por nossas veias transportamos minérios que jazem nas
profundezas do solo. Ferro, zinco, cálcio, selênio, fósforo, manganês,
potássio, magnésio e outros elementos são absolutamente fundamentais à nossa
saúde e bem-estar. Se descuidamos da ingestão desses nutrientes – presentes em
boa parte dos alimentos – nosso metabolismo fica exposto a diferentes gêneros
de desequilíbrio e doenças.
O mesmo ocorre em relação à água. As
primeiras estruturas microscópicas de vida do planeta apareceram nas águas
salgadas e quentes dos mares primitivos. Também quente é o líquido que nos
envolve durante todo o período de gestação no útero materno. O soro fisiológico
– bem como o soro caseiro – salva vidas quando recompõe a tempo nossa
necessidade deste precioso líquido. Por um capricho divino, a proporção de água
no planeta (70%) é a mesma com que esse elemento compõe o nosso corpo físico.
Precisamos ingerir pelo menos 2,5 litros de água por dia para assegurar o bom
funcionamento do metabolismo, irrigando células, glândulas, órgãos, tecidos.
Também precisamos de uma quantidade mínima de água no ar que respiramos. Segundo
a Organização Mundial de Saúde (OMS), se a umidade relativa do ar oscilar entre
20% e 30%, deve-se considerar estado de atenção; entre 12% e 20%, é estado de
alerta; abaixo de 12%, é estado de emergência. É absolutamente desagradável – e
ameaça a saúde – repirar num ambiente com pouco vapor d’água misturado ao ar.
O elemento fogo se revela simbolicamente em
diferentes fenômenos fundamentais à manutenção da vida. Vem do Sol a energia
que sutenta todas as estruturas vitais do planeta, cujo núcleo é composto de
uma grande massa de magma incandescente. O que se convencionou chamar de EFEITO
ESTUFA é a capacidade de a atmosfera reter parte do calor irradiado pelo Sol.
Trata-se de um fenômeno natural, que assegura a manutenção da temperatura média
do globo na faixa de 15C. Não fosse possível reter esse calor através dos gases
que compõem a atmosfera, a temperatura média do planeta seria de 23C negativos,
reduzindo-se drasticamente a presença da vida na Terra. O aquecimento global é
o agravamento do efeito estufa, causado principalmente pela queima progressiva
de petróleo, carvão e gás, que gera inúmeros problemas à Humanidade por meio de
mudanças climáticas. Por fim, somos animais de sangue quente graças ao trabalho
ininterrupto de um poderoso músculo do tamanho de uma mão fechada, que irriga
vida para todas as partes do corpo humano. O coração é a grande usina de calor
do organismo, símbolo maior do amor e da nossa capacidade de doar, de nos
entregar e de manifestar os mais nobres sentimentos.
O ar é o elemento mais urgente para nossa
existência. Podemos passar vários dias sem ingerir alimentação sólida, um
número menor de dias sem líquidos, mas apenas alguns poucos instantes sem ar.
Na milenar tradição mística da Índia, o prana – ou força vital – é absorvido
pela respiração. Numerosas práticas de meditação preconizam a necessidade de
respiramos com consciência, entendendo a inspiração e a expiração como
importante ferramenta de troca de energia com o meio que nos cerca. A
respiração profunda regula o batimento cardíaco, harmoniza os centros de força
(ou chacras) que acumulam e distribuem a energia vital, ajuda a clarear o
raciocínio e apaziguar as emoções.
Considerando a importância estratégica de
todos esses elementos para nossas vidas, é forçoso reconhecer que sem água
potável, terra fértil, ar respirável e incidência adequada de luz e calor nosso
projeto evolutivo encontra-se ameaçado.
As condições cada vez menos acolhedoras de
nossa casa (oikos) tornam o ambiente hostil à vida humana por nossa própria
imperícia, imprudência ou negligência. Sofremos as consequências dos estragos
que determinamos ao meio que nos cerca porque, na verdade, o que está fora
também está dentro. Não e mais possível separar a Humanidade do planeta. “O
meio ambiente começa no meio da gente”.(1)
No capítulo X de A Gênese, Allan Kardec
ratifica este princípio comum ao dizer que “são os mesmos elementos
constitutivos dos seres orgânicos e inorgânicos, que os sabemos a formar
incessantemente, em dadas circunstâncias, as pedras, as plantas e os frutos”.(2)
O que vale para o corpo físico também vale para a substância que envolve o
Espírito, como aparece explicado no primeiro capítulo de O Livro dos Espíritos. É o
que na Doutrina se convencionou chamar de perispírito.
– De onde tira o Espírito o seu invólucro
semimaterial?
– Do fluído universal de cada globo,
razão por que não é idêntico em todos os mundos, Passando de um mundo a outro,
o Espírito muda de envoltório, como mudais de roupa.
– Assim, quando os Espíritos que habitam
mundos superiores vêm ao nosso meio, tomam um perispírito mais grosseiro?
– É necessário que o revistam da vossa
matéria, já o dissemos.(3)
Esse fluído cósmico universal – matéria-prima
de tudo o que existe – assume diferentes formas e texturas na exuberante rede
de sistemas que se desdobram pelo Universo. Somos todos, essencialmente, feitos
da mesma coisa. A compreensão dessa realidade poderá determinar o aparecimento
de uma nova ética existencial, na qual nos reconheçamos como parte do Todo, e a
razão pela qual o Universo existe.
(1) Frase do poeta e jornalista brasiliense
Tetê Catalão.
(2) Kardec, Allan. A Gênese, capítulo X, ítem
15.
(3) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos,
questão 94.
(1) Frase do poeta e jornalista brasiliense
Tetê Catalão.
(2) Kardec, Allan. A Gênese, capítulo X, ítem
15.
(3) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos,
questão 94.
(*) jornalista
com pós-graduação em Gestão Ambiental pela COPPE/UFRJ, criador e professor da
disciplina “Jornalismo Ambiental” no curso de Comunicação Social da PUC/RJ,
autor, além deste, do livro “Mundo Sustentável” – abrindo espaço na mídia para
um planeta em transformação (Ed. Globo, 2005). Coordenador e um dos autores do
livro “Meio Ambiente no Século 21″ (Ed. Sextante, 2003; em 5ª edição pela Ed.
Autores Associados, 2008).
¹ Fonte: Espiritismo e Ecologia, André
Trigueiro.
Somos feitos da mesma coisa.....grande esclarecimento!
ResponderExcluirIsso nos serve de zelo, não temos condições de nos olharmos melhor do quê ninguém.
Márcia.
Excelente texto! Recomendo! Vale a pena gastar uns poucos minutos para sua leitura e divulgação! Parabéns Canteiro!
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