Por Roberto Caldas (*)
Somos atores de uma grande trama existencial.
O palco é o mundo, onde estrelamos as nossas disposições e talentos, apesar de
desconhecermos a totalidade do roteiro que seguimos a cada amanhecer. A
produção da obra que cobra a nossa participação na qualidade de protagonista
terá sido planejada antes que adentrássemos a tão amigável e protetora câmara
uterina, quando ainda gozávamos das lembranças amplas das experiências do
passado e tínhamos como foco as necessidades regenerativas. Certamente havia
amigos no papel de orientadores contornando-nos os arroubos e exageros das
escolhas, dosando o peso das decisões, conhecedores de nossas deficiências, com
a finalidade de proteger-nos de nós mesmos.
O
mergulho no corpo em formação limpou a memória de todas essas lembranças.
Despertamos, passados os meses da gestação, para um período reflexivo e de
descobertas, no qual somos completamente dependentes da solicitude e do amor
das pessoas que nos receberam, responsáveis que se tornam pela continuidade
dessa existência. Passo a passo adaptando-nos aos detalhes desse novo universo
de possibilidades, retomando as potencialidades adormecidas sob a orientação e
influência daquelas pessoas que escolhemos como os principais cuidadores de
nossa educação espiritual, nossos pais.
Enquanto
os anos vão passando, a anestesia patrocinada pelo cérebro limpo das
informações pretéritas cede espaço para uma avalanche de tendências, desejos e
necessidades que permitem assomarem velhos hábitos e características
estimuladas pelos enredos que se projetam no ambiente construído pela infância
e a adolescência. Tornar-se adulto é uma síntese de caminho, o descerrar de um
tempo que cobra responsabilidades e impõe propósitos, um tempo necessário de
solidão para reinício da jornada.
Ter
um espaço na superfície do planeta é, antes de qualquer coisa, um compromisso
que assumimos com a própria evolução espiritual. A encarnação significa na
maioria das vezes o retorno à lição não aprendida, a restauração do caminho que
exija correção, a oportunidade de afirmar o aprendizado e a comprovação do
atingimento da maturidade. As dificuldades e a ambiência social completam o
cenário na justa medida das exigências compatíveis com o tipo de tarefa a
realizar.
A
existência no corpo físico representa o grande passo da renovação que o
Espírito Imortal necessita para a conquista de uma condição progressivamente
mais elevada, sem a qual se viveria em completa estagnação, como esclarece a
questão 166 e as subsequentes dos itens A e B, de O Livro dos Espíritos ao
demonstrarem a impossibilidade de evolução sem as múltiplas passagens pela vida
corporal.
É
certo que não temos em mãos todo o enredo dos fatos que se desdobram nas
circunstâncias de cada dia, mas minimamente sabemos que coisa alguma nos
alcança sem que tenhamos nos comprometido com a sua resolução. Esse pensamento
pode ser suficiente para que paremos de nos dispor como parte integrante do
problema intentando, de forma decidida, nos transformar em peça de solução em
qualquer que seja a circunstância.
¹ editorial do programa Antena Espírita de 16.03.2014.
(*) editorialista do programa Antena Espírita e voluntário do C.E. Grão de Mostarda.
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