Por Jorge Hessen (*)

Historicamente, segundo alguns modelos
previsíveis, os males humanos pareciam não mais destinados a preocupar os
pensadores, pois que a maldade parecia ser circunscrita. Para alguns estudiosos
o “holocausto”, durante a Segunda Grande Guerra, reacendeu-se o debate sobre os
limites da barbárie, da perversidade humana, lançando no universo intelectual
europeu e mundial uma onda de pessimismo e ceticismo.
Hanna Arendt, filósofa judia, que estudou as
questões do mal, escreveu o livro “Eichmann em Jerusalém”, que analisa o
julgamento do verdugo nazista, mentor da morte de milhares de pessoas. Tendo
como referencial o “caso Eichmann”, a autora justifica que o mal pode tornar-se
banal e difundir-se pela sociedade como um fungo, porém apenas em sua
superfície. Para Arendt, as raízes do mal não estão definitivamente instaladas
no coração do homem e por não conseguirem penetrá-lo profundamente a ponto de
fazer nele morada, podem ser extirpadas.
Para muitos, o mal seria mais forte que o
bem, e que os Espíritos do mal estariam conseguindo sobrepujar os Benfeitores
espirituais, frustrando-lhes os desígnios superiores. Em que pese a antiga
tradição de tais assertivas, elas são insustentáveis e falsas; diríamos mesmo absurdas.
Admitir o triunfo do maligno a prejuízo da humanidade é o mesmo que negar ao
Senhor da Vida os atributos da onisciência e da onipotência, sem os quais não
poderia ser o Senhor da Vida.
O mal não advém dos Estatutos do
Todo-Poderoso como concebem alguns incautos, especialmente aqueles que vivem
distanciados do entendimento da Boa Nova. O mal é transitório, não tem raízes.
Para o Espiritismo o mal é criação do próprio homem e não tem existência senão
temporária, transitória, pois no arranjo maior da Vida não tem sentido a
permanência do mal. No capítulo em que trata da escala espírita, o Codificador,
ao situar os Espíritos imperfeitos na terceira ordem, traça como seus
caracteres gerais “Predominância da matéria sobre o Espírito. Propensão para o
mal. Ignorância, orgulho, egoísmo e todas as paixões que lhes são
consequentes.”. [1]
A humanidade vem nos últimos anos passando
por transformações viscerais. A influência do materialismo sobre as questões e
a vida social cresce consideravelmente. Os valores morais estão sendo
corrompidos com assombrosa velocidade. Nunca o mundo precisou tanto dos ensinos
espíritas como nestes tempos atuais. Vivenciamos instantes em que se aguça a
revolta nos corações em face da imposições de ideologias falidas, e nos vendavais
da tecnologia somos remetidos aos acirramentos das separatividades e
isolamentos, estabelecendo-se níveis de revoltas sociais inaceitáveis.
Obviamente não há como se desconhecer a luta
pela subsistência. Há as enfermidades, as insatisfações, os conflitos
emocionais, os desenganos. As imperfeições próprias daqueles com os quais
convivemos. Enfim, as variadas vicissitudes da existência. Nessa autêntica
desordem, usando e abusando do livre arbítrio, cada qual vai colhendo vitórias
ou amargando derrotas, segundo o grau de experiência conquistada. Uns riem
hoje, para chorarem amanhã, e outros que agora se exaltam, serão humilhados
depois.
Devemos interrogar a própria consciência,
passando em revista os atos cotidianos, para a identificação dos desvios dos
deveres que deveriam ter sido cumpridos e dos motivos alheios de queixa por
conta dos nossos atos. Revisemos periodicamente nossas quedas e deslizes no
campo moral, ativando a memória para nos lembrarmos dos tantos espinhos que já
trazemos cravados na "carne do espírito"[2], tal como ensina Paulo de
Tarso. Estes espinhos nos lembrarão a nossa condição de enfermos em estágio de
longa recuperação, necessitados de cautela. O mal não é invencível, pelo
contrário.
Não conseguiremos nos livrar das
consequências advindas dos males que praticamos. O mal que nasce em nós nos
impregna e temporariamente passa a fazer parte de nossa personalidade. Paulo de
Tarso, na sua carta aos romanos, tece comentários sobre as lutas que se deve
travar para combater o mal em nós mesmos, em frase já célebre: "Porque não
faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço"[3]. O mal a que
se refere Paulo em suas epístolas é o mal trivial que subsiste em nós e é
alimentado por nossa vontade. E que, em certa medida, nos proporciona prazer
pelo torpor de consciência.
A escuridão é somente ausência da luz. Não é
real. Só Deus é Vida; somente o Bem é a finalidade da vida. Para que possamos
vislumbrar um mundo sem angústias e nem problemas sociais, livres das misérias
econômicas e políticas, apelemos para o amor incondicional, que possui os
recursos eficazes para a conciliação, o perdão, a transformação moral,
fomentando o bem para o progresso, o que concorre para enriquecer nossa
sensibilidade, aprimorar nosso caráter, fazer que se nos desabrochem novas
faculdades, o que vale dizer, se dilatem nossos gozos e aumente nossa
felicidade.
Em suma, o mal deriva do coração humano e a
batalha do bem contra o mal, tema de incontáveis livros e filmes, deve ser
travada nos domínios dos nossos próprios corações, acima de tudo.
Referências
bibliográficas:
[1] Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos,
pergunta 89, RJ: Ed. FEB, 2000
[2] II Coríntios 12:7
[3] Rom 7:19
(*) articulista com textos publicados na Revista
Reformador da FEB, O Espírita de Brasília, O Médium de Juiz de Fora, Brasília
Espírita, Mato Grosso Espírita, Jornal União da Federação Espírita do DF.
Artigos publicados na Revista eletrônica O Consolador, no Jornal O Rebate, site
da Federação Espírita Espanhola, site da Espiritismogi.com.br
"A escuridão é somente ausência da luz." Essa frase resume a situação sobre a maldade, pois um dia em algum momento de nossa jornada deixaremos que a luz penetre o nosso ser e neste dia não haverá mais lugar para o mal. Muita boa a reflexão!!
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirBem e mal não são antônimos. O mal, em essência, não existe. O que há, e antagoniza com o bem, é a ignorância da verdade que gera uma falsa percepção da realidade. A verdade de fato liberta, mas só atinge aqueles que a buscam com sinceridade. E isso só acontece quando o espírito já atingiu certo grau de maturidade pra discernir melhor e de maneira mais apurada.
ResponderExcluirO bem é a única opção que temos. Só existe livre arbítrio, livre escolha para o ignorante. Lembremos de Jesus, que nunca teve duas opções, por isso só fez o bem. Se admitirmos que ele podia escolher entre o bem e o mal, então temos que admitir que o mal ainda estava nele. Ora, espíritos puros não conseguem escolher, eles só fazem o bem, porque, em essência, é só o que temos.
O mal, portanto, é sinônimo de ignorância. Não adianta lutar contra o mal, ele não existe, temos que vencer a ignorância, então o bem será instaurado neste planeta.