Por André Trigueiro (*)
A água do mar tem quase a mesma consistência
do soro fisiológico. Em nosso sangue carregamos a terra, pulverizada nos sais
minerais, que vitalizam tecidos e órgãos. Ferro, cálcio, manganês, zinco, que
jazem nas profundezas do solo, correm pelas nossas veias.
Desde o primeiro choro, quando inauguramos as
vias respiratórias e inalamos pela primeira vez o ar que enche os pulmões,
participamos de um grande espetáculo da natureza, que revela em pequenos
detalhes, a grandeza do universo. Nossa principal fonte de energia é o ar.
Podemos suportar dias sem comer ou beber. Mas não podemos ficar tanto tempo sem
ar. Enchemos os pulmões de oxigênio e devolvemos gás carbônico para a
atmosfera. Esse gás é absorvido pelas espécies vegetais, que através da
fotossíntese, devolvem generosamente, oxigênio. Como se vê, interagimos
intensamente com o meio natural. Nos confundimos com esse meio ambiente. Somos
parte dele e ele de nós.
Neste início de terceiro milênio, quando a
humanidade estabelece novos recordes de destruição dos recursos naturais,
perdemos o contato com a Mãe Terra e, não por acaso, com nós mesmos. Na
agitação da vida moderna, vivemos encubados em casas e apartamentos,
elevadores, escritórios, ônibus e carros. O tempo do relógio se sobrepõe ao
tempo natural, em que cada coisa acontece na hora certa, sem angústia ou
ansiedade.
Esquecemos de nos conectar ao que empresta
sentido à vida, que é a própria vida em essência, com um imenso repertório de
ensinamentos. Assim, deixamos de olhar para o céu e perceber como está o tempo,
perder alguns segundos admirando o esplendor de uma manhã ensolarada, o prazer
do vento que desgrenha os cabelos trazendo alívio e frescor, o horizonte sem
limites do mar azul, a imponência das montanhas, o brilho cintilante de uma
estrela que atravessa milhões de quilômetros na velocidade da luz, e que depois
de driblar as nuvens e a poluição, aparece no céu sem que percebamos seu
esforço heróico.
Mergulhados em afazeres mais urgentes, nos
afastamos de nossa essência. Será coincidência que o avanço da destruição da
natureza se dá na mesma velocidade com que registramos o crescimento das
estatísticas de depressão e suicídio? É preciso refazer os elos e perceber com
humildade que as pequenas coisas da vida encerram as grandes verdades da
existência. O mundo está em nós e nós no mundo. O meio ambiente começa no meio
da gente.
(*) jornalista
com Pós-graduação em Gestão Ambiental pela COPPE/UFRJ, Professor e criador do
curso de Jornalismo Ambiental da PUC/RJ, autor do livro “Mundo Sustentável –
Abrindo Espaço na Mídia para um Planeta em transformação” (Editora Globo,
2005), Coordenador Editorial e um dos autores do livro “Meio Ambiente no século
XXI”, (Editora Sextante, 2003). “Espiritismo e Ecologia” (FEB).
¹ fonte: http://www.mundosustentavel.com.br/
Muito bom!
ResponderExcluirA desconexão com nós mesmos,alienam nossa própria vida.
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