Por Jorge Hessen (*)
Christopher Catrambone, um milionário
empresário americano, dono de uma companhia que oferece seguros em zonas de
conflitos, criou sua própria fundação de resgate de imigrantes. Desde 2014 sai
com sua família pelo Mediterrâneo para salvar estrangeiros que se arriscam a
atravessar o mar para chegar à Europa. Sem receio de investir toda fortuna e
confiante de que se algum dia seu negócio falir, ele e sua mulher não teriam
nenhum arrependimento em ter gastado todo dinheiro e tempo nas operações de
resgate dos imigrantes. [1]
A tradição da filantropia americana vem de
longe. Cremos que Andrew Carnegie seja seu maior ícone e, de certo modo,
definidor conceitual. Imigrante pobre, Carnegie fez fortuna na siderurgia
americana, na segunda metade do século XIX. Em 1901, aos 66 anos, vendeu suas
indústrias ao banqueiro J.P. Morgan e tornou-se o maior filantropo americano.
Uma de suas tantas proezas, não certamente a maior, foi construir mais de 3 mil
bibliotecas nos Estados Unidos. Em 1889, escreveu o artigo “The Gospel of
Weath”, defendendo que os ricos deveriam viver com comedimento e tirar da
cabeça a ideia de legar sua fortuna aos filhos. Melhor seria doar o dinheiro
para alguma causa, ou várias delas, à sua escolha, ainda em vida. [2]
Em 2009 Bill Gates lançou, junto com Warren
Buffett, o mais impressionante movimento de incentivo à filantropia já visto:
The Giving Pledge. A campanha tem mais de 120 signatários. Para participar,
basta ser um bilionário e assinar uma carta prometendo doar, em vida, mais da
metade de sua fortuna a projetos humanitários. Para boa parte dessas pessoas,
doar 50% é pouco. Larry Elisson, criador da Oracle, comprometeu-se em doar 95%
de sua fortuna, hoje avaliada em US$ 56 bilhões. O próprio Buffett foi além:
vai doar 99%. Como bem observou o filósofo alemão Peter Sloterdijk, parece que,
ao contrário do que acreditávamos no século XX, não são os pobres, mas os ricos
que mudarão o mundo. [3]
Sloterdijt obviamente não conhece bem o
Brasil. Aqui na suposta “Pátria do Evangelho” a grandeza d’alma dos milionários
em prol do altruísmo é pura miragem, ressalvando-se as infrequentes exceções.
Nos Estados Unidos, o valor das doações individuais à filantropia chega a US$
330 bilhões por ano. No Brasil, os números são imprecisos, mas estima-se que o
montante não passa de US$ 6 bilhões por ano. Apenas 3% do financiamento a
nossas ONGs vem de doações individuais, contra mais de 70% no caso americano.
Há, segundo a tradicional lista da revista Forbes, 54 bilionários no Brasil.
Nenhum aderiu, até o momento, ao movimento da Giving Pledge.
Explicações não faltam para essa disparidade.
Há quem goste de debitar a mesquinhez dos endinheirados brasileiros na conta de
nossa “formação cultural”. Por essa tese, estaríamos atados a nossas raízes
ibéricas, sempre esperando pelas esmolas do Estado, indispostos a buscar formas
de cooperação entre os cidadãos para construir escolas, museus e bibliotecas,
ou simplesmente para consertar os brinquedos e plantar flores na praça do
bairro. É possível que haja alguma verdade nisso. O rei Dom João III, lá por
volta de 1530, dividiu o país em capitanias hereditárias e as repartiu entre
fidalgos e amigos da corte portuguesa. Fazer o quê? Enquanto isso, os
peregrinos do Mayflower desembarcaram nas costas da Nova Inglaterra (EUA),
movidos pela fé e pelo amor ao trabalho, para construir um novo país. [4]
O príncipe da Arábia Saudita, Alwaleed Bin
Talal Al-Saud, é um dos homens mais ricos do mundo. Com uma fortuna que gira em
torno dos US$ 32 bilhões, ele ocupa a 20ª posição no ranking de bilionários da
Bloomberg. Porém, parece que ele quer mudar esse cenário. Ele pretende doar
toda sua fortuna para causas filantrópicas. Em um comunicado em seu site,
Al-Saud afirma que busca construir um mundo com mais tolerância, aceitação,
igualdade e oportunidade para todos. O dinheiro vai para a Alwaleed
Philanthropies, que tem parceria com a Bill & Amp; Melinda Gates
Foundation, Carter Center e Weill Cornell Medical College, para reforçar os
cuidados de saúde e de controle de epidemias pelo mundo. [5]
Há pessoas arquimilionárias que tem
experimentado significativo desprendimento. Como vimos acima, Warren Buffett,
quarto homem mais rico do mundo, prometeu doar 99% de sua fortuna antes de
desencarnar. Buffett começou anunciando o direcionamento de 83% para a Fundação
Gates. O bilionário afirmou que quer dar aos seus filhos somente o suficiente
para que eles sintam que podem fazer tudo, mas não o bastante para que eles
achem que não precisam trabalhar. O poderoso Bill Gates, Michael Bloomberg,
Nigella Lawson e o músico inglês Sting não deixarão suas fortunas como herança
para os filhos. Ambos defendem a tese que seus filhos precisam trabalhar para
ganhar o próprio dinheiro. [6]
Em rápida digressão, vale aqui interpolar uma
oportuna reflexão. No Brasil, o paternalismo e o inócuo assistencialismo
estatal não atende às necessidades dos deserdados. Tal cultura gera cada vez
mais dependência de raras doações e de crescentes arrecadações. Enfraquece a
sociedade, diminui as expectativas de recursos para redistribuição de recursos
financeiros. A filantropia pública é uma maneira disfarçada de ditadura
ideológica, coerção de liberdade, que não sobrevive ante a necessidade do
trabalho de todos. Para que a filantropia sustentável seja praticada, é preciso
estímulo ao trabalho, igualdade nas ações públicas e eficiência na
administração de recursos arrecadados (impostos). Temos muito o que amadurecer
nesse quesito nestas plagas tupiniquins.
Mormente para os ricaços brasileiros, vai
aqui um alerta do além. A reflexão é do Espírito Humberto de Campos: “se você
possui algum dinheiro ou detém alguma posse terrestre, não adie doações, caso
esteja realmente inclinado a fazê-las. Grandes homens, que admirávamos no mundo
pela habilidade e poder com que concretizavam importantes negócios, aparecem,
junto de nós [no além-túmulo], em muitas ocasiões, à maneira de crianças
desesperadas por não mais conseguirem manobrar os talões de cheque.” [7]
Abastados mãos à obra!
Referências:
[1]
Disponível em
http://veja.abril.com.br/noticia/mundo/o-milionario-que-resgata-imigrantes-no-mar acesso 12/08/2015
[2]
Disponível em
http://epoca.globo.com/ideias/noticia/2015/06/por-que-os-milionarios-brasileiros-nao-doam-suas-fortunas-universidades.html acesso
18/08/2015
[3]
idem
[4]
idem
[5]
Disponível em
http://www.infomoney.com.br/carreira/gestao-e-lideranca/noticia/4137147/principe-saudita-decide-doar-toda-sua-fortuna-mais-bilhoes acesso em 18/08/2015
[6]
Disponível em
http://veja.abril.com.br/noticia/economia/sting-entra-para-a-lista-de-ricacos-que-nao-deixarao-heranca-para-os-filhos acesso em 02 de agosto de 2014
[7]
Xavier, Francisco Cândido. Cartas e Crônicas, ditado pelo espírito
Humberto de Campos, cap. 4 “Treino para morte” Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1967
(*) articulista
com textos publicados na Revista Reformador da FEB, O Espírita de Brasília, O
Médium de Juiz de Fora, Brasília Espírita, Mato Grosso Espírita, Jornal União
da Federação Espírita do DF. Artigos publicados na Revista eletrônica O
Consolador, no Jornal O Rebate, site da Federação Espírita Espanhola, site da
Espiritismogi.com.br
Muito boa a reflexão. Melhor seria se fosse publicada na revista Forbes, porque assim todos os milionários brasileiras poderiam ler! Parabéns ao articulista.
ResponderExcluirExcelente matéria! É bom saber que o desprendimento existe, é sustentável, pouco divulgado e quando praticado, quase que não se acredita nele, talvez por estar em meio ao interesse pessoal (joio e trigo). Pura questão de lógica, por que Deus, verdadeiro proprietário de tudo, ofecere-nos os recursos para a sobrevivência em permanente doação. São grandes inteligências, esses homens citados no artigo. O Brasil há de aprender com eles, principalmente no que diz respeito a economizar os recursos públicos, o que daria para melhorar em 100% a qualidade de vida. E quanto a nós, pessoas físicas, vivermos com menos, por pouco que tenhamos. Mas aqui mesmo, no Brasil, há organizações invejáveis. Conhecemos uma em que pessoas bem remuneradas praticam uma espécie de DÍZIMO SOCIAL: Reservam um percentual de suas rendas, doam para essa organização (que não possui nenhum patrimônio e também nenhum custo) e esta destina a outras obras humanitárias: Parques de equipamentos hospitalares, cozinhas... É comovente a ação que fazem, discreta, chama-se Provida, atua em alguns países, os doadores recebem um comprovante bancário para se documentarem, só eles sabem da doação, por que não visam visibilidade. Há muita coisa boa no mundo. Por que se divulga tão pouco? Parabéns a este blog, por divulgar.
ResponderExcluirCaro Anônimo, tentei localizar pelo google essa instituição PROVIDA, e o que encontrei foi um movimento iniciático, será essa a organização a que você se refere? Por favor poste o endereço correto para que aqueles que tiverem interesse possam entrar em contato!
ResponderExcluirSim! É essa mesma organização, cujo site é http://www1.provida.org.br/main
ExcluirVeja abaixo como eles se definem no dito site. A julgar pelos bem que espalham, o processo iniciático consegue melhorar as pessoas que dele participam, pois não fazem acepção e nada exigem das organizações beneficiárias, com exceção de se conservarem sérias --, seriedade que constatam previamente, através de exame documental e visita surpresa.
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A PRÓ-VIDA é um movimento filosófico iniciático, que se propõe a conduzir pessoas interessadas a reconhecer e despertar o enorme potencial de suas capacidades mentais, psíquicas e espirituais.
Oferece a seus participantes um programa gradual de treinamento e desenvolvimento mental, ordenado em níveis de formação, apresentados através de cursos, exercícios, treinamentos, reuniões para discussão sobre temas, palestras, pesquisas e convívio. Um conjunto de atividades que permitem o desenvolvimento e a ampliação da consciência, ou seja, da percepção e reconhecimento de si mesmo e do meio, favorecendo a realização de seus objetivos.
A PRÓ-VIDA foi idealizada e criada em 1978 pelo médico e filósofo Dr. Celso Charuri (1940-1981), em São Paulo, Brasil. Desde então, tem crescido constantemente, tornando-se um movimento de presença internacional, com atividades em vários países além do Brasil, contando com mais de 200.000 integrantes.
Obrigado pelos esclarecimentos, vou procurar conhecer melhor esse trabalho!
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