Tive oportunidade de comentar, seja em programas radiofônicos,
em livros, seja em palestras ou seminários, sobre as doutrinas de J.- B.
Roustaing. E Deus sabe o preço que pago por isto... Mas nada vale o silêncio
acerca deste assunto, senão em proveito de colaboração com erros manifestos, a
pretexto do cultivo de virtudes que são quase sempre desconhecidas da turminha seráfica
do deixa-disso. Aliás, o estudo das instruções de Kardec e dos espíritos
superiores que o assistiram não deixa qualquer dúvida quanto ao que se deve
fazer:
Ah! crede-me,
não temais desmascarar os velhacos que, novos Tartufos, [1] se
introduziriam entre vós sob a máscara da religião; sede igualmente impiedosos
para com os lobos devoradores, que se ocultariam sob peles de cordeiro. [2]
É preciso que se saiba que o Espiritismo sério se
faz patrono, com alegria e apressuramento, de toda obra realizada com critério,
qualquer que seja o país de onde provém, mas que, igualmente, repudia todas as
publicações excêntricas. Todos os espíritas que, de coração, vigiam para que a
doutrina não seja comprometida, devem, pois, sem hesitação, denunciá-las, tanto
mais porque, se algumas delas são produtos da boa-fé, outras constituem
trabalho dos próprios inimigos do Espiritismo, que visam a desacreditá-lo e
poder motivar acusações contra ele. Eis porque, repito, é necessário que saibamos
distinguir aquilo que a Doutrina Espírita aceita daquilo que ela repudia. [3]
Nunca me interessou a polêmica em si. Fui surpreendido em meus estudos
pelo que se me revelou a simbólica matriz de todos os esforços deturpadores do
pensamento kardeciano, do legítimo ensino espiritual de Jesus a novos tempos.
Como deixar de denunciar tal foco vicioso se isto corresponde a genuínos
interesses doutrinários e das futuras gerações de espíritas?
Um quase silêncio fomentou-se à custa de tolerância
bastarda e de rotunda ignorância... A verdade costuma cair no esquecimento.
Então, alguns vêm com a tarefa ingrata de lembrá-la aos outros e a si mesmos,
num trabalho tão necessário ao conjunto quanto todos os demais. Sempre que
emerge uma nova geração ávida pela verdade, justiça costuma ser feita aos que,
embora carentes do reconhecimento de seus pares, não hesitaram em trabalhar
pelo próprio futuro e pelo de todos, ainda que sob os golpes da tibieza e da
incompreensão de seus contemporâneos... Tal, a razão que levou o mestre lionês
a dizer:
O presente é fugidio; amanhã não existirá mais;
para nós nada é; o futuro é tudo, e é para o futuro que trabalhamos. Sabemos
que as simpatias verdadeiras nos seguirão; as que estão à mercê de um interesse
material não concretizado ou de um amor-próprio insatisfeito, não merecem este
nome. [4]
Devendo o Espiritismo notabilizar-se nos fastos da Humanidade,
será interessante para as gerações futuras saber porque meios ele se terá
estabelecido. [...] A intriga e a ambição não devem usurpar o lugar que lhes
não pertence, nem um reconhecimento e uma honraria que lhes não são devidos. Se há Judas,
forçoso é que sejam desmascarados. [...] o Espiritismo sendo chamado a desempenhar um
grande papel na História, importa que seu papel não seja desnaturado, e opor
uma história autêntica às histórias apócrifas que o interesse pessoal poderia engendrar.
[5]
Portanto, espelhemo-nos em Kardec e naquele que o protegia
“de modo muito particular”. [6] Fiquemos em guarda contra o “fermento”
dos fariseus e saduceus. Fixemos a higidez perene da individualidade imortal,
que conhece a verdade porque ama e ama porquê de fato conhece a verdade.
[1] Falsos
devotos, indivíduos hipócritas.
[2] Revista
Espírita . Nov/1861. Primeira Epístola de Erasto aos Espíritas de Bordéus.
[3] Viagem
Espírita em 1862. Instruções Particulares. VI.
[4] Revista
Espírita . Jun/1865. Nova Tática dos Adversários do Espiritismo.
[5] Revista
Espírita . Set/1862. O Que Deve Ser a História do Espiritismo.
[6] Cf. Obras
Póstumas, 09/09/186
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