Por Jorge Hessen (*)
As tecnologias pessoais, sobretudo os
smartphones, revolucionaram o formato com que as pessoas se expressam no
dia-a-dia na atualidade, e a selfie faz parte dessa transformação.
Experimenta-se a neurose do selfie (derivada do termo inglês self (eu) junto ao
sufixo “ie” – um tipo de fotografia), para indicar uma espécie de autorretrato,
tradicionalmente exposto na rede social que tem contagiado a muitos,
principalmente no Instagram e Facebook. O indivíduo aponta o smartphone para o
próprio rosto e busca o melhor ângulo para tirar uma fotografia esmerada. Pode
ser na praia, na festa, no parque, no restaurante ou em situação de alto risco
de vida. A obsessão é tamanha que neste último caso chega a causar acidentes
fatais.
Quando falamos em selfies aqui, os números
não são nem de longe inexpressivos, ou seja, nada menos que 880 bilhões de
fotos foram feitos apenas em 2014. Uma parcela relevante de auto-exposição na
forma de autorretratos. Tais imagens podem camuflar ameaças, sobretudo quando
as fotografias revelam uma conotação erotizante, uma posição lasciva.
Obviamente a exposição de dados pessoais, informações e fotografias
supostamente inocentes pode servir de matéria prima para os criminosos sempre
de plantão.
Uma pessoa equilibrada, na maioria das vezes,
posta selfies com imagens mais espontâneas, ao invés daquelas estrategicamente
montadas e editadas. Pessoas mais invigilantes tendem a postar selfies às vezes
mais erotizadas e exibicionistas, com o intuito de receber o maior número de
“curtidas”, e com isso obterem uma falsa percepção de que são “amadas”. Há
aqueles que fazem selfies nas academias retratando os corpos “sarados”, e se
não tiverem “curtidas” e “comentários” ficam frustrados, deprimidos e ampliam
os exercícios para esculturar o visual.
Pessoas que possuem pouca autoestima
hipervalorizam o “olhar” do outro, ou seja, a aprovação do outro tende a ser
muito importante para elas. Há alguns transtornos que podem estar associados ao
comportamento descontrolado da produção de selfies, como depressão, fobia
social, transtorno afetivo bipolar e transtorno dismórfico corporal (termo
usado para designar a discrepância ou diferença entre aquilo que a pessoa
acredita ser, em termos de imagem corporal, e aquilo que realmente é). Tais
transtornos trazem prejuízos concretos à vida do indivíduo, como isolamento
social, anorexia, bulimia, automutilação e até suicídio.
Neste sentido, o vício de tirar centenas de
selfies não é uma prática recomendável, até porque a “auto representação
seletiva” não aumenta a autoestima e nem a autoconfiança. É preciso então
estabelecer limites, critérios e cuidados para evitar os excessos. Ademais, o
que leva um indivíduo a necessitar das curtidas e compartilhamentos da rede
social?
Normalmente, carências afetivas são as
principais causas da necessidade de se expor, de chamar a atenção. Quando não
preenchidas, comumente provocam situações psicopatológicas extremas. Há pessoas
(insanas) que vão tirar selfie próximas a animais ferozes, subindo no trilho de
um trem, equilibrando-se no parapeito de uma ponte, nas culminâncias das torres
ou ainda nos pontos mais altos de edifícios gigantes, que aliás têm sido uma
das “modas” mais perigosas dos últimos tempos, e isso tem trazido consequências
graves.
Os ‘selfies’, muito comumente têm o poder de
desencadear a procura descomunal por atenção e dependência social, indicativas
da precária autoestima e do patético egocentrismo. Essa forma de narcisismo
excessivo pode ter efeitos trágicos sobre as relações pessoais, mormente quando
não há limite entre o prudente e o extravagante no contexto da autopromoção
visual, obviamente se isso transformar-se em prática muito frequente.
Será que estamos exagerando no diagnóstico de
uma tendência inofensiva? Ou existem efeitos colaterais sociais e psicológicos
graves no horizonte? A tecnologia precisa estar a nosso favor e a benefício da
sociedade. Que tal se, em vez de postar constantemente o próprio retrato,
postássemos imagens com informações culturais ou compartilhássemos projetos
sociais importantes? Isso sim seria muito útil à sociedade. Porém não será
através da postagem de milhares de fotos de si mesmo que se estará colaborando
com a melhoria da vida no planeta. É necessário construir uma sociedade menos
individualista e menos egocêntrica, colaborando para que as redes sociais
possam ter sobretudo uma função de contribuição para a sociedade!
O nosso avanço espiritual consiste,
exclusivamente, na forma de ver a vida, e isso nada mais é do que a
demonstração de uma nova visão de nós mesmos e do mundo ao nosso redor. O
sentimento de inferioridade ou de baixa autoestima associa os viciados nas
selfies a uma auto-exposição exagerada, a uma autonegligência ou desmazelo das
coisas pessoais.
A incapacidade de avaliação do senso de
autoconhecimento é também decorrência do sentimento de inferioridade, que nos
remete à vivência entre “hábitos egoísticos” e a uma “hibernação dos
sentimentos”. Portanto, o máximo sentido de nossa atual encarnação deve ser a
conscientização da prosperidade de nosso mundo íntimo. Somos essências
grandiosas à procura da perfeição relativa, cuja porta de entrada é o
autodescobrimento.
(*) escritor
com dois livros publicados, professor, jornalista e articulista com diversos
artigos publicados na Revista "O Médium" de Juiz de Fora,
"Reformador" da FEB, "O Espírita" de Brasília, Jornal da
Federação de Mato Grosso e Jornal da Federação do DF, Revista O Consolador,
Revista Espiritismo e Ciência, Jornal o Imortal, e é orientador do Portal
“Autores Espíritas Clássicos”.
Seria a síncope de "self figure"?. Com a palavra os linguistas.
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