Por Roberto Caldas (*)
A
Doutrina Espírita trafega na mesma estrada de outras filosofias que ensinam o
caminho da liberdade humana, apenas convida a pessoa para reflexões nunca
experimentadas. Parte do princípio de que todos somos Espíritos que trilham
cursos independentes, apesar das vinculações que ocorrem à medida que os
relacionamentos acontecem. Zela pelos laços de família e as amizades esculpidas
pelas afinidades espontâneas, mas faz compreender que os laços que nos unem não
passam pelo parentesco sideral, desde que podemos em cada encarnação modificar
o papel que desempenhamos no concerto familiar e social. Espiritualmente não
somos pais ou filhos ou irmãos ou primos ou tios ou sobrinhos ou esposo ou
esposa, nem chefes ou subalternos ou diretores ou gerentes. Todas essas posições
mudam a cada encarnação, daí não são essas posições familiares ou sociais que
caracterizam a nossa condição no contato uns com os outros. Esclarece quanto
aos cuidados que devemos ter com os papéis que desempenhamos em diversos
retornos à existência corporal sem impedir-nos de antever que a evolução é uma
posição individual, abstida de todas as pessoas que completam o cenário de
convivência humana qualquer responsabilidade sobre as decisões que a existência
nos exige, exceto nos períodos em que a educação e a autoridade dos pais deve
se expressar para manter a sanidade e a educação dos filhos ainda menores de
idade.
Assim sendo a Doutrina Espírita
defende a liberdade de consciência como o maior bem que o ser encarnado tem ao
seu alcance. Esse tema foi auscultado por Allan Kardec na questão 837 de O
Livro dos Espíritos (Qual o resultado
dos obstáculos postos à liberdade de consciência?) cuja resposta lúcida
dos Espíritos Superiores não permite dúvidas: “– Constranger os homens a agir de modo diferente do que pensam,
torná-los hipócritas. A liberdade de consciência é uma das características da
verdadeira civilização e do progresso.”
Faz
parte do aprendizado saudável, munido desse instrumento que é a Doutrina
Espírita, a necessidade da convivência plural, aquela que nos permite fugir da
intolerância ao direito de opinião e de crença por parte das pessoas que povoam
o nosso universo de relações, qualquer que seja o status social que ocupem
essas pessoas, uma vez que o status é condição passageira e o saber do outro
tem detalhes que fogem a nossa capacidade de interpretação. Cabe à pessoa
consciente do seu papel no mundo apenas lamentar a intolerância daqueles que se
julgam ungidos e eleitos baseados que se encontram em concepções que lhes
conferem o direito de arbitrar sobre as crenças alheias como se fossem inferiores
àquelas que defendem.
O
conhecimento espírita é uma estrada iluminada que permite a qualquer pessoa que
se encontre em seus domínios a possibilidade de tornar a jornada uma bela
caminhada de enriquecimento em busca do autoconhecimento, a maior das riquezas
a que podemos aspirar. Segundo Thoreau “o
homem é rico na mesma proporção do número de coisas que pode dar-se ao luxo de
abandonar”. Abandonemos a postura de intolerância dando ampla repercussão à
necessidade existencial de abrirmos espaço para a liberdade plena de
consciência. Com essa atitude estaremos nos tornando mais ricos pela abertura
de recebermos do outro uma experiência que jamais teríamos, se caminhássemos
sozinhos.
¹ editorial do programa
radiofônico Antena Espírita de 21.02.2016
(*) escritor espírita,
editorialista do programa Antena Espírita e voluntário do C.E. Grão de
Mostarda.
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