quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

CRÔNICAS DO COTIDIANO: "O SUPERAVIT DO EGOÍSMO"










            Dados recentes, divulgados pela organização não-governamental (ONG) britânica Oxfam no relatório intitulado “Uma economia a serviço de 1%”, atestam que o capital acumulado por 1% das pessoas mais ricas do mundo suplantou os 99% restantes.
            A Oxfam exorta o fim dos chamados “paraísos fiscais”, considerando que nove em cada dez empresas que figuram “entre sócios estratégicos” do Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suiça, “estão presentes em pelo menos um paraíso fiscal”. Isso tem sido imperativo para o fomento das desigualdades no mundo.
            Enquanto isso, estatísticas apontam que há 800 milhões de pessoas desnutridas na Terra, um bilhão de pessoas passando fome, 30 mil crianças morrem de fome a cada dia, 15 milhões a cada ano, um terço das crianças dos países em desenvolvimento apresentam atraso no crescimento físico e intelectual, 1,3 bilhão de pessoas no planeta não dispõe de água potável, 40% das mulheres dos países em desenvolvimento são anêmicas e encontram-se abaixo do peso. Uma pessoa a cada sete da população mundial padece de fome. (1)

            O Brasil é, senão o mais, um dos países mais desiguais do mundo, onde a concentração de renda é associada à pouca tributação dos mais ricos. Segundo estudos também recentes, foram encontradas diferenças gritantes entre a concentração de rendas tributadas e a concentração de renda total. Sustenta ainda a posição do 9º país com o maior número de pessoas com fome, tem 15 milhões de crianças desnutridas. 45% de suas crianças, menores de cinco anos, sofrem de anemia crônica.
            A FAO – Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura exibe esse retrato da indiferença quando mostra que a cada ano 1,3 bilhão de toneladas de alimentos, ou seja, cerca de 1/3 do que se produz são perdidos por manipulação indevida, ou por se jogados fora. No Brasil, são mais de 25 milhões de toneladas de alimentos que vão parar no lixo todo ano, equivalente a 12 bilhões de reais, montante suficiente para alimentar 30 milhões de pessoas.
            Esses números atestam o que representa uma sociedade centrada no egoísmo. A esse respeito, o Espírito Viana de Carvalho, pela pena psicográfica de Divaldo Pereira Franco, na obra Atualidade do Pensamento Espírita, afirma que “A Terra tem condições para manter quase cinco vezes mais o número dos seus atuais habitantes, já que nas Esferas espirituais estão programados para a reencarnação mais de vinte bilhões de seres, que aguarda o momento próprio.”

            Em “O Livro dos Espíritos”, no capítulo da Lei de Igualdade, os Reveladores Celestes dissertam sobre a desigualdade das riquezas. Eles afirmam que a igualdade absoluta das riquezas, defendida por alguns, é impossível. Entretanto, advertem-nos que o “bem-estar é relativo e cada um poderia gozá-lo, se todos se entendessem bem..., e os homens se entenderão bem quando praticarem a lei da justiça.” Concluem a questão nº 812 afirmando que “O equilíbrio existe em tudo e é o homem quem o perturba.”
            A explicação também é clara no que tange as desigualdades sociais, que desaparecerão da Terra juntamente com a predominância do orgulho e do egoísmo, restando somente a desigualdade do mérito. Portanto, a estratificação social em vigor, que define os grupos sociais em função das dimensões social, econômica, política e ideológica deixarão de existir. O que prevalecerá é o status moral do Espírito, como mais ou menos puro o que não mais dependerá de posição social.
            No capítulo XII, questão nº 913, quando se reportam à Perfeição Moral, os Espíritos Superiores acentuam que no egoísmo se encontra a verdadeira chaga da sociedade.
            A crise do Brasil, como a crise do Mundo, é a crise moral do Homem.
            O ser humano é apenas um dígito no emaranhado de índices e siglas no contexto da economia da Nações. Figura nos quesitos dos superavit, PIB, como também nas estatísticas das misérias sociais. A fome que mata. As guerras que matam. O terrorismo que mata.
            Allan Kardec, no robusto ensaio sobre “O Egoísmo e o Orgulho”, publicado em Obras Póstumas, adverte que a maior parte das misérias humanas, como as aqui colocadas, são oriundas do egoísmo. Faceta do instinto de conservação, foi importante para a construção da individualidade do Espírito. Entretanto, sua exacerbação é fomentador das paixões mais vis do homem. Necessita-se atingir um novo estágio de consciência, superando-o através da Lei do Amor, tendo na caridade a sua dinâmica. Caso isso não aconteça, continuaremos a contabilizar o seu superavit, refletido nas misérias sociais que ainda assolam à Humanidade, em contraposição à concentração de renda como a publicada pela Oxfam.
            Jesus, consciente dos prejuízos espirituais da riqueza, em uma passagem encontrada nos evangelhos sinóticos ao ser indagado por um jovem rico de como proceder para herdar a vida eterna, já que afirmava conhecer e guardar os mandamentos, recebe dele a resposta para que vendesse todos os seus bens e doasse o dinheiro aos pobres, o que deixou o interlocutor profundamente entristecido.
            Allan Kardec, buscando esclarecer melhor o assunto, pergunta aos Benfeitores Celestes, na questão nº 816, de “O Livro dos Espíritos”, que apesar das tentações que provoca, a riqueza também abre maiores possibilidades para se fazer o bem. Recebe como resposta:
“- E justamente o que nem sempre faz; torna-se egoísta, orgulhoso e insaciável; suas necessidades aumentam com a fortuna e julga não ter o bastante para si mesmo.”
            Na sequência, Allan Kardec comenta:
“A riqueza e o poder despertam todas as paixões que nos prendem à matéria e nos distanciam da perfeição espiritual. Foi por isso que Jesus disse: - “Em verdade vos digo, é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus.”
Aí estão as causas do superavit do egoísmo.


FRANCO, Divaldo. Atualidade do pensamento espírita. Salvador. LEAL. 1998.
KARDEC, Allan. O Livro dos espíritos. São Paulo. LAKE. 2014;
_____________ Obras póstumas. São Paulo. FEB. 1987.

2 comentários:

  1. "O ser humano é apenas um dígito no emaranhado de índices e siglas no contexto da economia da Nações. Figura nos quesitos dos superavit, PIB, como também nas estatísticas das misérias sociais."
    Lamentavelmente tem sido assim, com respeitáveis exceções.

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  2. Como sempre, são matérias que nos levam a reflexão e daí, compartilhar com os companheiros espíritas.
    Muita paz.

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