Por Roberto Caldas (*)
Diz a poesia “é pau, é pedra, é o fim do
caminho, é um resto de toco, é um pouco sozinho... são as águas de março
fechando o verão...” (Águas de Março – Tom Jobim). O texto fala de uma situação
cíclica que sugere uma inadvertida incapacidade de solução de problemas e que
acabam se repetindo, como se fosse normal e aceita.
Jesus
nos chama a atenção aos compromissos que adquirimos com a própria consciência
sempre que decidimos agir nos contextos a que somos chamados nas curvas dos
caminhos. É urgente e necessário sabermos efetivamente que os nossos estados
emocionais é a pedra de toque para a manutenção do equilíbrio diante das ações
exigidas a cada momento. Quando nos chama a atenção, de forma imperiosa, que
“... a boca fala do que está cheio o coração” (Mateus 12:34), Jesus traduz um
alerta para que lembremos que sentimentos de raiva, perseguição e vingança
jamais serão capazes de gerar uma única atitude sadia.
Serenidade
e análise de contexto, diante de qualquer propositura que nos traga de rebote a
hesitação ou a dúvida, pode ser a melhor postura antes de desenhar os rumos a
serem escolhidos, pesadas as expectativas e redimensionamentos da escolha.
Durante
as suas peregrinações no planeta, por onde passava e era seguido pelas
populações, Jesus permitia que três gradações de vibrações fossem produzidas,
fato percebido em diversos relatos do Novo Testamento, a saber: a sua própria
vibração, aquela dos discípulos e enfim a da multidão. Estariam tais vibrações
no mesmo nível de intenções? Teriam a mesma categoria de valores?
Vivemos
na Terra numa psicosfera conjunta sendo influenciados e influenciando uma
diversidade de pessoas, encarnadas e desencarnadas, associando-nos aos grupos
que pensam em sintonia conosco. Se fosse possível decidir em qual vibração sintonizar,
entre essas que Jesus promovia, qual delas escolheríamos?
As
questões de O Livro dos Espíritos que tratam da Influência Oculta dos Espíritos
Sobre os Nossos Pensamentos e as Nossas Ações 459 a 472) podem ser ampliadas
para a compreensão da mutualidade de nossas influências também entre
encarnados. O tempo todo estamos secundados por pensamentos e juízos que nos
propositam sensações, intuições, vislumbres e sentimentos. Felizmente não somos
joguetes de tais possibilidades. A individualidade nos confere a condição de
filtro para que se absorvam apenas os conteúdos que se adéquem ao estágio
mental que ocupamos.
A
construção verdadeira, aquela que intenta um novo tempo para a humanidade
jamais poderá ser forjada sob sentimentos que se traduzam em ódio, senão no
amplo consenso de fraternidade. Avaliemos o nosso coração diante de qualquer
passo a ser dado. Caminhemos na direção apontada apenas quando os sentimentos
que nos animem possam nos permitir fazer parte do grupo de vibrações daqueles
que seguem a Jesus e não estejam simplesmente na multidão. Águas de Março,
apenas na canção. Na vida, viremos a página. Deixemos que a paz vença a
guerra.
¹ editorial do programa Antena Espírita de
13/03/2016.
(*) escritor espírita, editorialista do
programa Antena Espírita e voluntário do C.E. Grão de Mostarda.
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