Por Roberto Caldas (*)
Há dois mil anos uma verdade foi dita,
depois muitas vezes repetida e outras tantas repetições ainda serão
necessárias:”Não se vê o Reino de Deus se não nascer de novo”. Os créditos da
frase cabem a Jesus (João III: 3 a 7) em sua conversa com Nicodemus. Em O Livro
dos Espíritos (parte II, cap. 4 - Da Pluralidade das Existências) a questão 166
com a sua conseqüente resposta vem em socorro e reforço à assertiva milenar: “Como a alma, que não alcançou a perfeição
durante a vida corporal, pode acabar de se depurar? – Submetendo-se à
prova de uma nova existência”.
Cometemos
um erro grave de interpretação quando queremos atribuir à sucessão das
encarnações um caráter punitivo e igualmente o faremos quando lhe ensejarmos
uma suavização das obrigações que temos a cumprir em favor da harmonização
interior. O fato de existir a aquisição de compromissos que retornam à conta de
quem os produziu não faz da reencarnação uma perspectiva de sofrimentos
futuros, tampouco o saber que haveremos de experimentar outras oportunidades
futuras não é razão para afundarmos na preguiça que congela para amanhã o
desempenho que é exigido no presente.
Decididamente não há qualquer chance
de evolução moral e científica sem que a sucessão de existências traga as
múltiplas experiências ao cotidiano de todos os Espíritos, sem exceção. Todos
os grandes produtores da sabedoria humana que nos emociona e impulsiona o
crescimento são frutos da repetição de nascimentos: Confúcio, Sócrates, Platão,
Krishna, Buda, Jesus. Independente da posição atual que ocupem na hierarquia
dos mundos, todo ser espiritual experimentou os caminhos da evolução passando
pela fieira da ignorância optando por passar ou não pela fieira do mal (LE,
q.120). A lei das sucessões das existências se aplica indistintamente e essa a
razão maior pela qual os grandes mestres da humanidade, por terem sentido em
corpo e alma todas as dificuldades que ora enfrentamos, conseguem nos ensinar
imprimindo em suas lições as cores das verdades universais envolvidas pela
doçura de quem conhece os grandes obstáculos da escalada evolucional.
Reencarnar não pode ser visto como a
mão de ferro de Deus castigando os seres espirituais em razão dos delitos do
passado, tampouco como uma forma de afrouxar as obrigações adiando para um
amanhã as necessidades correcionais que se apresentam agora. Reencarnar é Lei
até que alcancemos a condição de estar acima dos motivos pelos quais essa lei
se impõe, o que faz com que o número de encarnações seja diferente para cada
Espírito e impossível para seres de nossa categoria espiritual contabilizá-lo.
Aos que afirmam não aceitar a Reencarnação cabe se renderem a ela, pois a
tentativa de negar uma determinada lei não nos confere isenção diante da mesma.
Reencarnamos, isso é fato, aceitemos ou não.
A Doutrina Espírita simplesmente adotou
a Reencarnação em seu corpo doutrinário, sem tê-la criado, a mesma faz parte do
pensamento dos povos da maioria das civilizações mais antigas. Conseguiu, no
entanto dar-lhe uma visão lógica, filosófica mesma, que a tornou irrefutável
aos olhos das pessoas que consigam se despir de sectarismos quaisquer para
mergulhar na absoluta perfeição da Natureza. Se aceitamos que o Reino de Deus
está dentro de cada um, como dizia também Jesus (Lucas 17:20), a sucessão das
existências é o único caminho para alcançarmos os nossos potenciais plenos de
ciência e espiritualidade, a partir do que desenhamos para nós nessa atual
encarnação.
¹ editorial do programa Antena Espírita de 03.03.2016.
(*) escritor espírita, editorialista do programa Antena Espírita e voluntário do C.E. Grão de Mostarda.
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