Auroville é uma pequena cidade localizada na
Índia. Foi fundada em 1968 pelo casal Sri Aurobindo e Mirra Alfassa. Ali, todos
os moradores recebem um salário mínimo e podem trabalhar com o que se adaptem.
É uma urbe que não tem políticos ou classes sociais. Não há religião oficial e
o dinheiro é de somenos importância. Atualmente, cerca de duas mil pessoas
moram na cidade, que tem capacidade de acolher até 50 mil habitantes.
É uma cidade autossustentável, tem campos
cultiváveis, pequenas fábricas, restaurantes, padarias, hospitais, escolas e
cinemas, além de um pequeno jornal local, tudo alimentado por energia solar.
Não existem prefeito, governador ou secretários. Sempre que surge um problema,
uma assembleia é convocada e os cidadãos da comunidade elegem um conselho para
solucioná-lo.
Os habitantes de Auroville são livres para
exercer seus rituais e acreditar no que quiserem, desde que não incomodem ou
tentem pregar suas crenças aos concidadãos. Para residir na cidade, o
interessado precisa comprar uma casa, que custa em média 3 mil dólares. No
primeiro ano que passa na cidade, o novato é observado e avaliado pela
comunidade. Depois de um ano, período que eles chamam de “estágio”, os cidadãos
de Auroville decidem se a pessoa pode ou não permanecer entre eles.
Observamos ser um lugar apinhado de utopias e
talvez não muito encantador, pois com meio século de existência e com
capacidade para receber até 50 mil moradores, hoje só habitam cerca de duas mil
pessoas. Como disse, deve ser um lugar pouco atraente, ou os cidadãos de
Auroville devem ser intransigentes (pouco democráticos, diria!). Pode ser que o
processo de seleção pela comunidade sobre os que podem ou não residir na cidade
(após um ano de “estágio” no local) seja muito rígido ou discriminatório,
sabe-se lá!…
Talvez tenham conquistado em Auroville a
virtual igualdade dos “bens”, mas convidamos os leitores a meditarem aqui
acerca da teoria da desigualdade das riquezas conforme ensinou Kardec,
demonstrando que o princípio da pluralidade das existências pode oferecer a
real explicação sobre as dessemelhanças dos “bens” na Terra.
Sabemos que há “espíritas progressistas”, que
apontam Kardec como um ingênuo por ter explanado sobre a desigualdade das
riquezas explicando-a sob a lei da reencarnação. Evocam tais “espíritas
progressistas” que o proprietário dos meios de produção gera riquezas só para
si, enquanto aos que trabalham resta o salário, representando apenas uma parte
da riqueza gerada. Creem no lema “de cada qual, segundo sua capacidade; a cada
qual, segundo suas necessidades”, por isso os “espíritas progressistas”
divergem de Kardec, dizendo que o Codificador se equivocou quando afirmou que é
um ponto matematicamente demonstrado que a fortuna igualmente repartida daria a
cada qual uma parte mínima e insuficiente.
Kardec assegurou também que se houvesse a
repartição dos bens materiais (riqueza), o equilíbrio estaria rompido em pouco
tempo, pela diversidade dos caracteres e das aptidões. Tal verdade espírita é
intolerável para os “espíritas progressistas”, pois estes defendem a
distribuição irrestrita dos bens produzidos pelas empresas a fim de que os
proletários possam viver na prerrogativa e violência ideológica do infausto
igualitarismo; os “espíritas progressistas” idealizam uma sociedade altruísta
(à moda deles), sem valorizar as legítimas conquistas individuais para a boa
performance das estruturas sociais.
Quando Kardec afirmou que se a repartição da
riqueza fosse possível e durável, cada um tendo apenas do que viver, e que
seria o aniquilamento de todos os grandes trabalhos que concorrem para o
progresso e o bem-estar da Humanidade, os “espíritas progressistas” blasonaram
que isso representa uma blasfêmia, pois as tecnologias produzidas têm atendido
fundamentalmente às necessidades supérfluas da grande massa de consumidores –
portanto, pessoas que já possuem o necessário podem utilizar a sua riqueza para
o consumo do supérfluo.
Gritam furiosamente os tais “espíritas progressistas”,
levantando por que supor que Deus é o agente da concentração de riquezas?
Bradam, então, que a riqueza concentra-se pelo simples fato de que quem já
possui fortuna tem mais chances de vencer num mercado competitivo, e assim
acumular mais riqueza num movimento crescente de concentração de capital. Como
se observa uma, dedução horizontalizada, superficial, mecanicista e nada
razoável dos “insurgentes progressistas”, que insistem em dizer que isso não
significa que devamos “ler a realidade” como um “plano de Deus”.
Creem os “progressistas” que a riqueza pode e
deve ser concentrada sob a propriedade coletiva (sic), visando exclusivamente o
benefício geral da humanidade, não permitindo a desigualdade de riqueza, pois
assim toda a sociedade acaba “refém” da decisão do endinheirado de bem ou mal
utilizar a riqueza. Além do quê, a sua apropriação fica sendo necessariamente
injusta, já que os trabalhadores que recebem salário como remuneração pela
venda de sua força de trabalho não ganham integralmente por toda a riqueza por
eles produzida.
Expõem ainda os “progressistas” que em dez
anos, no Brasil, as desordens distributivas estão na ordem do dia, pois os
ricos se tornaram mais ricos, os pobres se tornaram menos pobres e uma certa
classe média tradicional viu sua posição relativa em relação a essas duas
outras camadas prejudicada. A classe média perdeu status. Os ricos se
distanciaram e os pobres se aproximaram, daí o conflito atual. Que saibam
utilizar a inteligência a fim de entenderem que “as classes [sociais] existiram
e existirão sempre, o que porém deve preocupar, e é racional estabelecer a
solidariedade entre elas, a conciliação de seus interesses, a multiplicação
urgente das leis de assistência social, únicas alavancas mantenedoras da
ordem.”[1]
É bem verdade que a desigualdade social ou
econômica é um problema presente em todos os países (ricos ou pobres),
decorrente da má distribuição de renda e, ademais, pela falta de investimento
na área social. Compreendemos que uma repartição mais equitativa dos “bens” é
imprescindível. Há “trocentas” teorias sociológicas, mil sistemas diferentes,
tendendo a reformar a situação das classes desprovidas, a assegurar a cada um,
pelo menos, o estritamente necessário. Ótimo!
Mas, infelizmente, noutro cenário, ao invés
da recíproca tolerância que deveria aproximar os homens, a fim de lhes permitir
estudar em conjunto e resolver os mais graves problemas sociais, tem sido com
violência e atualmente no Brasil com ameaça na boca (verbal e saliva hostil ou
“cuspidela”) que o militante reivindica seu lugar na ágape social. Outrossim, é
uma lástima ver o endinheirado aguilhoado no seu egoísmo e recusando a ofertar
aos famintos as menores migalhas da sua fortuna. Dessa forma, um muro tem
separado ambos, e os quiproquós, as selvagerias, as cupidezes, as animosidades,
os desrespeitos acumulam-se dia a dia.
Politicamente sabemos que as leis elaboradas
pelos legisladores podem, de momento, modificar o exterior, mas não logram
mudar a intimidade do coração humano; daí vem serem os decretos de duração
efêmera e quase sempre seguidos de uma reação mais depravada. A origem do mal
reside no egoísmo e no orgulho. Os abusos de toda espécie cessarão quando os
homens se regerem pela lei da caridade.
Para confirmar as magníficas teses de Kardec
sobre o assunto, reflitamos com Emmanuel: “A
desigualdade social é o mais elevado testemunho da verdade da reencarnação,
mediante a qual cada espírito tem sua posição definida de regeneração e
resgate. Nesse caso, consideramos que a pobreza, a miséria, a guerra, a
ignorância, como outras calamidades coletivas, são enfermidades do organismo
social, devido à situação de prova da quase generalidade dos seus membros.
Cessada a causa patogênica com a iluminação espiritual de todos em
Jesus-Cristo, a moléstia coletiva estará eliminada dos ambientes humanos”.[2]
Referências bibliográficas:
[1] Xavier Francisco Cândido. Palavras do
infinito, III parte, ditado pelo Espírito Emmanuel, SP: Ed. LAKE, 1936
[2] Xavier , Francisco Cândido. O
Consolador, pergunta 55, ditado pelo Espírito Emmanuel, RJ: Ed. FEB, 1978
(*)
Articulista com textos publicados na Revista Reformador da FEB, O Espírita de
Brasília, O Médium de Juiz de Fora, Brasília Espírita, Mato Grosso Espírita,
Jornal União da Federação Espírita do DF. Artigos publicados na Revista
eletrônica O Consolador, no Jornal O Rebate, site da Federação Espírita
Espanhola, site da Espiritismogi.com.br
Sem palavras para qualificar a inteligência das colocações.
ResponderExcluirGostaria de declarar que TODA DESIGUALDADE reside no ORGULHO E EGOÍSMO, que Allan Kardec tão bem trata em OBRAS PÓSTUMAS. O BRASIL é infelizmente um dos PIORES exemplos de DEMOCRACIA pela nível de desigualdade social que permite, apenas POSSÍVEL nas Ditaduras. Talvez nós brasileiros precisemos tornar a aprofundar a DESIGUALDADE, como parece que PRETENDEMOS, para o despertar que tanto precisamos. Roberto Caldas
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