“Que
ninguém, portanto, se iluda: o estudo do Espiritismo é imenso;
liga-se
a todas as questões da metafísica e da ordem social;
é
todo um mundo que se abre ante nós.”
(Allan
Kardec, “O Livro dos Espíritos”, Introdução XIII)
“- Na hora atual
da humanidade terrestre, em que todas as conquistas da civilização se subvertem
nos extremismos, o Espiritismo é o grande iniciador da Sociologia, por
significar o Evangelho redivivo que as religiões literalistas tentaram inumar
nos interesses econômicos e na convenção exterior de seus prosélitos.”
(Espírito Emmanuel “O Consolador”.)
O
Brasil despencou para o 104º lugar no Índice de Liberdade de Imprensa, em uma
lista de 180 países. Dentre os motivos, o monopólio midiático segue na lista
dos culpados. A liberdade de imprensa sempre requisitada pelas organizações
midiáticas não pautam sua ética pela liberdade de pensamento, única liberdade absoluta que o homem pode
gozar, como está escrita em “O Livro
dos Espíritos”, questão 833. Assim, também está explícito no Artigo 18º da
Declaração Universal dos Direitos Humanos, bem como no Artigo 5º, inciso IV, da
Constituição Federal do Brasil.
Em
contrapartida, nova queda pela preferência pelo regime democrático fez crescer
o número dos indiferentes. Pularam de 18% em 2014 para 34% os que concordam com
a frase: “para as pessoas em geral, dá na
mesma se um regime é democrático ou não.” Somente 14% afirmaram estar satisfeitos
com o regime democrático. Paradoxalmente, a democracia é um conjunto de
princípios que protegem a liberdade humana; é a institucionalização da
liberdade.
Tendo
como base o Espiritismo, como explicar uma incongruência de tal relevo?
A
forma pela qual a Consciência Suprema age no mundo é através do impulso direto
do pensamento individual. Portanto, quando o homem alcança as suas metas, a
partir da sua capacidade de pensamento, essas metas se apresentam consentâneas
com a Consciência Cósmica, desde que de constructo ético-moral. Não pode haver ideia
original do homem no mundo se não for através da sua livre da capacidade de
discernir. Livre, observe-se!
A
questão nº 836 de “O Livro dos
Espíritos”, diz que “Deus, por suas
leis naturais, regula as relações do homem com Deus. E estas leis estão
insculpidas na consciência do
indivíduo – questão 621, da mesma obra. Vê-se,
portanto, que o homem é um Ser pensante, em permanente conexão do fulcro
divino. Por
isso Jesus advertiu: “Eu e o Pai somos
um.” (Jo, 10:30)
Para
exercer a liberdade da palavra é necessário que o indivíduo tenha acesso a
elementos básicos e gerais, sobre a origem do homem, do amor, da vida, da
própria sociedade, do estado de governo, da justiça e que o Estado e a
sociedade devem fomentar através dos agentes de educação. Quando esses
princípios faltam, as ideias serão ocas e vulneráveis ao controle do meio externo.
O indivíduo sem a educação
necessária sobre os valores pertinentes à cidadania nada tem a dizer. Sem
palavra, não há participação do indivíduo no processo democrático, é uma “democracia sem demos” (povo), definição
do filósofo francês Jacques Rancière, em sua obra “Ódio à Democracia.”. Consequentemente, para validá-la surgem
outros atores que ocupam o espaço do cidadão, como por exemplo, a religião, o
mercado, as instituições financeiras, a mídia. Esse modelo de
representatividade é Invenção moderna, segundo Rancière, que se distancia em
relação à democracia dos antigos. Adverte ainda, que esse sistema está
fundamentalmente centrado nos privilégios das elites que temiam o “governo da
multidão”, governando em nome do povo, sem a participação direta deste. O
sistema democrático-representativo, como o brasileiro, é na prática profundamente excludente. O processo de redemocratização do Brasil não é diferente do processo de colonização: latifúndio versus escravidão: capital versus trabalho.
Em
decorrência desses aspectos, encontra-se algumas visões pessimistas sobre a
democracia, enquanto outros ainda a valorizam. O italiano Jorge Angel Livraga,
filósofo da História, considera-a mito e afirma: “(...) o que chamamos hoje de “democracia” tem bastante de oligarquia
e não pouco de tirania, se pensarmos que as constituições e leis em geral não
são estáveis, mas movem-se e mudam com cada governo que as redige a seu gosto e
conveniência.”
Yannis Stavrakakis, teórico
político grego-britânico, retoma o conceito de “pós-democracia” surgido na
sociologia e política, considerando que “o
povo desaparece da cena política – seu papel na tomada de decisões é
substituído por uma aristocracia tecnocrática e a soberania popular, pela
soberania do mercado.”
Interesses distintos, o ódio
acirra os ânimos da população provocando divisionismo no seio da sociedade, que
se configura como luta de classes.
Allan Kardec não faz nenhum registro acerca da
democracia, a não ser um artigo inserto na Revista
Espírita, abril de 1864, psicografadas pelo Espírito Guttemberg.
Entretanto, em todo o conjunto da obra espírita veem-se valores transcendentais e transculturais que avalizam qualquer tipo de governança que busque a liberdade e igualdade entre os povos e nesse contexto se encontra a democracia.
Em “Obras Póstumas”, Allan Kardec em ensaio sobre a Liberdade, Igualdade e Fraternidade,
atesta que “Estas três palavras
constituem, por si sós, o progresso de toda uma ordem social que realizaria, o
mais absoluto progresso da Humanidade, se os princípios que elas exprimem
pudessem receber integral aplicação.”
No
capítulo seguinte, sobre as Aristocracias, Allan Kardec antevê com
muita clareza o período que a Humanidade atravessa, que se evidencia pela
prevalência da inteligência, substituindo o período marcado pela linhagem
social ou condição financeira, definido na atualidade como meritocracia, o que caracteriza as sociedades industriais. O que valida
essa condição é a quantidade de títulos acadêmicos. Kardec a avalia como mais
justa, pois diante dela todos podem
curvar-se, sem se envilecerem, por que pertence tanto ao pobre quanto ao rico. Entretanto,
ele acentua: “A inteligência nem sempre constitui
penhor de moralidade e o homem mais inteligente pode fazer péssimo uso de suas
faculdades.” A meritocracia dos
dias atuais é um ponto de corte da aristocracia intelecto-moral, na sequência
final de Allan Kardec.
A
situação sociopolítica que o Brasil atravessa é em seu estado mais agudo, além
do que já aqui exposto, decorre de focos de tensão entre as classes oriundas
das aristocracias do nascimento ou da riqueza (forças conservadoras do status quo) que tiveram acesso imediato
à meritocracia, com os ensaios de
igualdade que a aristocracia intelectual (meritocracia) favorece ao povo de forma geral e
irrestrita (forças propulsoras de igualdade). É óbvio que atrelado a esses
motivos, outros são adicionados oriundos do egoísmo e orgulho que ainda
predominam a natureza do homem.
É
comum se fazer referência à meritocracia espírita, designada por Kardec como aristocracia intelecto-moral,
desmerecendo-a por analogia à meritocracia vigente. A meritocracia espírita é
fundamentada nas conquistas morais do homem, enquanto Espírito encarnado. Na
funcionalidade política das qualidades intelectuais e mais as morais.
Isso posto, a liberdade de
pensamento se consolidará, ante os requisitos morais, favorecendo a Consciência
Suprema executar através do homem, o Seu plano social para a Terra, quando
desaparecerá a estratificação social consolidando-se a tríade: liberdade,
igualdade e fraternidade. Leia-se o que diz os Espíritos Reveladores em O
Evangelho Segundo o Espiritismo, no capítulo III, item 10:
“(...) Não existem, (nas sociedades
superiores) senhores nem escravos, nem privilégio de nascimento. Só a
superioridade moral e intelectual determina as diferentes condições e confere a
supremacia.”
A democratização de uma
sociedade é de valor inalienável individual e coletivamente. O espírita deve
ter a consciência de que a Doutrina Espírita fundamenta valores universais que
validam a cidadania nas duas dimensões – espiritual e física. É inadequado o
espírita se declarar apolítico. Há diferença importante na política (sentido stricto senso) e política partidária. O
espírita, portanto, “no momento em que
aceitou o Espiritismo, alistou-se na política do amor universal; seu único
partido é o Reino de Deus e a sua plataforma política é o Sermão das Montanhas;
(...) amor e caridade devem constituir as suas armas políticas, mesmo que isso
lhe custe a oposição dos próprios companheiros, pois é melhor estar só com a
Verdade, do que estar acompanhado pela mentira.”, afirma o filósofo e
jornalista espírita José Herculano Pires (Marcha para o Futuro – adendo).
Tudo
isso deve marcar a posição do espírita convicto, ante as dificuldades que
assolam a Nação Brasileira.
Além da prece, ação!
(*) blogueiro e expositor espírita.
Parabéns Jorge, seu texto faz uma análise dos dias que estamos vivendo e o comportamento dos espíritas. Segue na mesma linha do texto de Richard Simonetti. O Espírita não deve se omitir nesses tempos que estamos vivendo, por favor, não pensem que estou sugerindo transformar o Centro Espírita em palanque, mas nós vivemos em sociedade e devemos fazer uma análise dos momentos que estamos atravessando e devemos também defender as nossas ideias no ambiente social que frequentamos!
ResponderExcluirO artigo é uma riqueza de citações, revelando que o autor procura "servir" seus leitores com os melhores frutos de sua pesquisa. As colocações são complexas, um tanto difíceis de serem assimiladas pelo tipo mais comum de frequentadores das casas espíritas (o Brasil ainda é um País onde se lê pouco e o movimento espírita é mais afeito a leituras menos complexas). No entanto, é preciso haver espíritas que estejam em sintonia com o pensamento de conceituados filósofos, sociólogos, historiadores... mesmo os que contradizem o pensamento espírita... e assim tentar fazer a "atualização do pensamento espírita" (esse esforço por atualizar, Kardec recomendou: Ler, comparar, inferir!). Por isso, o artigo é uma contribuição ao "pensar" fundamentado na Doutrina Espírita. E essa conclusão de Herculano Pires, filósofo espírita, disse tudo.
ResponderExcluirvaleu seu Jorge. Esclarecer é o melhor caminho...
ResponderExcluirParabéns.
A questão das liberdades no Brasil repousa no binômio educação-cultura. A Lei Maior do país _ a Constituição Federal _ amiúde é posta de lado e afrontada por que tem o dever de cumpri-la. É assim no Executivo, no Legislativo e, algumas vezes, no Judiciário, que são os Três Poderes da República. Muitos detentores do Poder no Brasil agem com se estivessem acima da lei, sentido-se desobrigados de cumprir a lei que obriga a todos. Pode parecer até estranho dizer, mas nossas leis, notadamente e Código Penal e muitas leis civis, decorrem dos Dez Mandamentos. A liberdade expressão ganha ênfase na lei brasileira com o princípio constitucional constante do artigo 5°, inciso IV, da Constituição Federal que determina: "É livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato." Importante frisar que a vedação do anonimato é exatamente para se ter de aferir os excessos porventura existentes nessas manifestações do pensamento. A liberdade é plena, mas com responsabilidade. E muitos não observam as dimensões da liberdade, com respeito à dignidade de outrem e do direito de resposta, e terminam sendo penalizados. De tudo isso, pode-se dizer que os mais irresponsáveis para com a liberdade de expressão são aqueles que, abusando de poder ou do direito, negam esse direito e garantia individual de todos os cidadãos brasileiros.
ResponderExcluirO comentário anterior é de Toni Ferreira, advogado e jornalista.
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