Há dois dias, Lucinha conservava sob sua guarda,
para adoção por terceiros, encantadora menina recém-nascida. Três casais que ainda
ignoravam sua existência aguardavam por aquela oportunidade, com a
ansiedade de quem, após infrutíferos
esforços no propósito de ter seus próprios
filhos, decidiu acolher filhos alheios. Porem havia um problema: Lucinha não se inclinava por nenhum deles.
Em
qualquer daqueles lares, a criança estaria bem. Eram famílias bem
constituídas, gente boa, excelente condição financeira, ambiente
saudável... Por que, então, a dúvida? Impossível definir. Apenas sentia assim...
O
tempo corria célere. Imperioso definir rápido ou teria problemas em
sua própria casa, porquanto uma de suas filhas tomara-se de amores pela menina. Pensara em ficar com ela. Adoraria fazê-lo. Mais forte, entretanto, era o sentimento de que era
outro o destino daquela criança.
À noite, ao se deitar,
alma em conflito, orou pedindo ajuda a Deus.
Estava consciente da enorme
responsabilidade que tinha em suas mãos. Queria acertar! Para tanto,
empenhava-se em apurar a sensibilidade! Era
preciso estender antenas espirituais,
captar orientação segura!...
Brando
sono pôs fim às suas angústias. Em sonho muito nítido, viu-se entregando a
menina a Maitê,
sua prima, que a recebia emocionada e feliz.
Despertou
com a lembrança plena do inesperado contato, guardando a convicção de que
o Céu atendera suas rogativas. Mas, por que a prima?
Ela e o marido estavam ainda traumatizados com a morte de Pedrinho,
o filho mais novo que falecera a alguns meses, vitimado por
leucemia no verdor de seus cinco anos. Não cogitavam de uma adoção...
Bem,
o jeito era verificar como estavam. Tomou o telefone e fez a ligação.
–
Oi, Maitê, tudo bem?
– Muito bem, Lucinha! Bem
mesmo, graças a Deus!
–
Você está animada! Fico feliz!
– É
verdade, estou animadíssima, como não me sentia há anos!
–
Ganhou na Loteria?
–
Vou ganhar, mas é algo mil vezes mais importante!...
– Quem bom! Posso saber?
– Claro, prima! Há várias noites, venho sonhando com o
Pedrinho. Ele se aproxima de mim e me entrega um bebê, explicando: "Mamãe,
trouxe-lhe uma irmãzinha para você cuidar".
Maitê estabelece pequena
pausa, contendo a emoção, e conclui:
—
Como sabe, Lucinha, não posso mais ter filhos,
mas, em face dos sonhos, combinei com o João: vamos adotar uma menina. Daí a minha
alegria. Sinto que vai "pintar" uma criança em
minha vida!
Pausa
mais longa interrompe o diálogo.
— Oi,
Lucinha, ainda está aí?
Uma
voz trêmula, embargada pela emoção, responde do outro lado:
—
Sim, Maitê, estou aqui e tenho uma surpresa
para você: a criança já "pintou"! Sua filhinha está
aqui comigo!
***
A
adoção de filhos não obedece a circunstâncias fortuitas. Há uma ampla mobilização da
Espiritualidade no sentido de encaminhar órfãos aos
lares a que se destinam.
Ficaríamos
surpresos se tivéssemos noção plena do trabalho desenvolvido pelos mentores
espirituais nesse sentido. Quando encontram instrumentos dóceis na
Terra, eles realizam prodígios para colocar filhos que precisam de pais no
endereço certo de pais que precisam de filhos.
(*)
participa do movimento espírita desde 1957, quando integrou-se no Centro
Espírita "Amor e Caridade", que desenvolve largo trabalho no campo
doutrinário de assistência e promoção social.
É
colaborador assíduo de jornais e revistas espíritas, notadamente "O
Reformador", "O Clarim" e "Folha Espírita".
Algumas
de suas obras: Abaixo a
Depressão!, Antes que o Galo Cante,
Mediunidade - Tudo o que Você Precisa Saber, Para Rir e Refletir, Quem Tem Medo
da Morte? Reencarnação, Tudo o que Você Precisa Saber, Rindo e Refletindo com
Chico Xavier, Setenta Vezes Sete,
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