Prezada mãezinha, espero que você se lembre daquele nosso encontro enquanto o seu corpo dormia e a sua mente sonhava. Tremia de alegria em ver adulta aquela menininha tão frágil que recebi em meus braços igualmente frágeis de anciã, cuja existência se concluiria meses após o seu nascimento impedindo-me de ver o seu florescer de menina, primeira e única trineta que tive a oportunidade de receber antes de retornar ao mundo invisível.
Na condição de Espírito
Errante (LE q. 224) jamais imaginei que um
dia nos encontraríamos dessa maneira tão mágica. Nesse outro lado da vida pude
vê-la crescer com a gracilidade da infância vibrando em seu corpinho e aprendi
a amar o brilho inteligente dos seus olhos. Vê-la aprendendo as primeiras
letras foi tão confortador quanto acompanhar a alegria explosiva dos seus 15
anos, na pujança de uma juventude que se anunciava feliz. Depois desse tempo,
as tarefas teóricas e práticas da instância espiritual (LE
q. 227), absorveram parte de minha atenção e precisei cuidar da
aquisição de minhas habilidades, sem saber que um dia teria tamanha
oportunidade de vir para tão perto de sua alma.
A sua existência nem sempre
esteve acarpetada de flores, pelas muitas experiências dolorosas de sua
jornada. Aquele acidente que levou os seus pais quando contava 21 anos, que a
deixou sozinha no mundo batalhando por tantos dias sob internação hospitalar
ameaçada gravemente do mesmo destino dos seus pais. Depois, o recomeçar a vida
e se tornar a mulher que hoje tenho diante de mim, envidando os esforços para
cumprir as suas funções preservar a dignidade aprendida em sua trajetória.
Impossível descrever a minha
emoção quando os instrutores me chamaram para decretar o que seria o meu
retorno ao corpo físico, 35 anos (LE q. 224, item
a) após ter deixado o mundo dos encarnados. Aquilo que vinha sendo
cogitado, mercê do meu desejo de experimentar outra vez a ventura de nova
encarnação nesses tempos fulgurantes de descobertas e tecnologias, eu que havia
provado uma existência de enormes dificuldades e privações e concluíra aquele
período como se nada soubesse tomada que havia sido por uma condição de
demência que fazia a todos pensarem que nada sabia do que se passava em torno
de mim. Ali, eu só não podia manifestar a minha alegria de recebê-la naqueles
braços que já não podia abraçá-la como era o meu desejo.
Preparo-me agora para a
viagem de busca de mim mesma, robustecida pelo que aprendi atenta às novas
lições nesse outro lado. Dentro de poucos meses estarei sob o calor dos seus
braços, como você já esteve entre os meus, os quais não puderam expressar todo
o meu amor. Distante de ilusões sei que haverá sacrifícios e lutas, mas com a
sua dedicação sei que as dificuldades serão arrefecidas e protegida poderei
iniciar os meus primeiros passos.
Diante de Deus agradeço que
a sua vida tenha licenciado para mim um recomeço e muito mais por saber que a
sua presença, MINHA MÃE, haverá de me proteger dos tropeços e serei conduzido
pelas suas mãos para uma nova existência, na qual experimentarei a força do seu
amor maternal na minha transformação espiritual. Aceite um grande abraço de sua
filha que está por chegar.
Obs.: Texto ficcional, sem
evidências mediúnicas.
(*) escritor espírita,
editorialista do programa Antena Espírita e voluntário do C.E. Grão de
Mostarda.
¹ editorial do programa
Antena Espírita, de 008.05.2016.
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