As
muitas dificuldades enfrentadas pelo ser humano em sua saga de existir num
mundo cada dia mais competitivo, e o acirramento das disposições em se alcançar
resultados que permitam a cada um lograr saúde e bem estar numa paisagem de
profunda desigualdade e ambições superlativas, transportam a pessoa a buscar no
transcendental a resposta para diversas demandas. É muito comum ouvirmos frases
que delegam a Deus o poder de modificar determinadas circunstâncias do
cotidiano, há aqueles que vêem a Sua intervenção até mesmo no resultado final
de disputas nos esportes, o que pensar quando alguém desenganado pela Medicina
se levanta do leito e retoma as atividades?
Por
conceito (Dicionário Priberam) o milagre significa “fato sobrenatural oposto às
leis da natureza”. Se as leis da natureza são a assinatura de Deus, como serem
derrogadas? E o sobrenatural representaria além de Deus? Provável que
precisamos nos entender quando o assunto deriva para a compreensão de tais
temas. Sucede que desconhecemos a totalidade das leis universais, pois toda a
nossa ciência ainda é lago raso em relação à profundidade do Universo. Somos
verdadeiros ignorantes a respeito da Enciclopédia da Vida, ainda meros
iniciantes nas pesquisas que cuidam do que há de mais imediato em torno do
cotidiano. Lógico que sejamos surpreendidos com fenômenos que desafiam os
patamares de nossas crenças.
O
senso comum vê nas circunstâncias inexplicáveis uma intervenção divina
destituindo alguma de suas leis, o que parece em visão mais acurada uma certeza
de que conhecemos a totalidade da Lei de Deus e daí decidimos pela Sua
intervenção transformando-a. Não é dessa forma que acontece. Allan Kardec em A
Gênese (cap XIII – Faz Deus Milagres?) nos apresenta a seguinte convicção: “Não sendo necessários os milagres para a glorificação de
Deus, nada no Universo se produz fora do âmbito das leis gerais. Deus não faz
milagres, porque, sendo, como são, perfeitas as suas leis, não lhe é necessário
derrogá-las. Se há fatos que não compreendemos, é que ainda nos faltam os
conhecimentos necessários”.
Por
outro lado haveremos de compreender que a vida está cercada de milagres. O
nascer e o pôr do Sol, a beleza da lua e das estrelas, o nascer e o sorriso das
crianças, o espetáculo das flores, o congraçamento dos que se amam, os ciclos
da natureza, a superação dos obstáculos, os avanços da ciência, a vida em si
mesma. Viver pode ser visto como um milagre a cada momento, em qualquer
circunstância, porque o que pode parecer desagradável e conflituoso em
princípio muitas vezes esconde ganhos que só o tempo permite medir a sua importância
na criação de novos rumos e que certamente não o seriam sem aqueles momentos de
dificuldades. E para tanto não é preciso que aloquemos a nossa fé na busca de encontrar
no diferente ao que sabemos algo que caminhe à margem da Lei de Deus.
Antes
fiquemos atentos para o ciclo que gera o processo de mudança que tanto
esperamos quando um obstáculo de dispõe a frente: justiça, merecimento,
necessidade, desejo e ação. Esse ciclo faz a roda girar, não exatamente para
subverter, mas pela absoluta admissão de que Deus nos segue sem cessar e que as
Suas Leis são Inexoráveis e Imutáveis concedendo-nos o direito inalienável de
construirmos os nossos milagres todos os dias, eternamente, à medida que vamos
conhecendo e reconhecendo o Seu Poder sobre nossas vidas.
¹ editorial do programa Antena Espírita de
05.06.2016.
Roberto Caldas é escritor espírita, editorialista do
programa Antena Espírita e voluntário do C.E. Grão de Mostarda.
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