A trave e o argueiro. Eis como Jesus
simboliza, em Mateus
VII: 3-5, a nossa disposição interior em avaliar as ocorrências na vida de
outrem quando desavisados acerca das próprias disposições existenciais. Por que
vês tu, pois, o argueiro no olho do teu irmão, e não vês a trave no teu olho? É
a pergunta que o Mestre coloca à apreciação daquele que se arvora na análise
das atitudes alheias sem os devidos cuidados em retirar ensinamentos que sirvam
de corretivos para o próprio comportamento.
Esse mesmo tema é sinalizado na 3ª parte de O Livro dos
Espíritos, questão 903, na qual Allan Kardec questiona se é errado
estudar os defeitos dos outros. Óbvio que a resposta dos Espíritos vem ao
encontro do bom senso, uma vez que o exercício da crítica está na base das
experiências humanas conferindo à pessoa a possibilidade de se tornar
progressivamente melhor em sua lida social e espiritual. Além de sugerirem
discrição com o erro dos outros, os orientadores da Codificação aconselham
empenho na aquisição das qualidades opostas aos defeitos criticados nos outros.
Compete
a cada pessoa chamada à convivência social a responsabilidade sobre as suas
atitudes. O fato de vivermos em uma aldeia global é suficiente para que cuidemos
de tornar claras disposições e idéias não dando lugar às interpretações que as
desfigurem ou deformem evitando, no entanto cobrir-nos de vernizes com a
intenção em ocultar os propósitos internos que nos caracterizam. Desarrazoado,
porém que temamos a opinião menos avisada de alguém que, sem prévio cuidado
condena e julga, sem nos conhecer a fundo, estabelecendo julgamento de valor em
torno de nós.
O
hiato entre o pensar e o agir pode ser denominado de momento da razão,
especialmente em situação que tenha o outro como foco, e exige de cada pessoa o
devido cuidado com a atitude ou a palavra garantindo ao outro o necessário
espaço de liberdade, liberdade essa que não deve estar submetida ao nosso
julgamento. Vale também a nossa postura livre mediante o julgamento alheio.
É
possível e necessário que aprendamos a contribuir com o progresso do outro
enquanto permitimos que o outro contribua com o nosso progresso, essa a
finalidade da vida social no desenvolvimento espiritual do espírito encarnado.
Importa que nos libertemos, para que isso aconteça de forma adequada, do desejo
de impormos a nossa forma de pensar e agir ao outro. Importa que a nossa
crítica seja dotada de clareza, serenidade e busca do bem comum. Importa que os
sentimentos que nos alimentem, ao nos dirigirmos ao outro, sejam aqueles que
gostaríamos que alimentassem o outro quando se dirigem a nós. Importa que
façamos o silêncio necessário para a reflexão e que é essencial respeitarmos o
próximo como gostaríamos que o próximo nos respeitasse.
A
trave e o argueiro é a mensagem simples de Jesus que nos alcança e alivia o
cansaço dos nossos olhos e nos serve de colírio para aclarar a visão frente os
desafios da convivência humana de todos os dias.
¹ editorial do programa Antena Espírita de
10/07/2016.
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