quarta-feira, 13 de julho de 2016

A TRAVE E O AGUEIRO¹



          




           A trave e o argueiro. Eis como Jesus simboliza, em Mateus VII: 3-5, a nossa disposição interior em avaliar as ocorrências na vida de outrem quando desavisados acerca das próprias disposições existenciais. Por que vês tu, pois, o argueiro no olho do teu irmão, e não vês a trave no teu olho? É a pergunta que o Mestre coloca à apreciação daquele que se arvora na análise das atitudes alheias sem os devidos cuidados em retirar ensinamentos que sirvam de corretivos para o próprio comportamento.
            Esse mesmo tema é sinalizado na 3ª parte de O Livro dos Espíritos, questão 903, na qual Allan Kardec questiona se é errado estudar os defeitos dos outros. Óbvio que a resposta dos Espíritos vem ao encontro do bom senso, uma vez que o exercício da crítica está na base das experiências humanas conferindo à pessoa a possibilidade de se tornar progressivamente melhor em sua lida social e espiritual. Além de sugerirem discrição com o erro dos outros, os orientadores da Codificação aconselham empenho na aquisição das qualidades opostas aos defeitos criticados nos outros.

            Compete a cada pessoa chamada à convivência social a responsabilidade sobre as suas atitudes. O fato de vivermos em uma aldeia global é suficiente para que cuidemos de tornar claras disposições e idéias não dando lugar às interpretações que as desfigurem ou deformem evitando, no entanto cobrir-nos de vernizes com a intenção em ocultar os propósitos internos que nos caracterizam. Desarrazoado, porém que temamos a opinião menos avisada de alguém que, sem prévio cuidado condena e julga, sem nos conhecer a fundo, estabelecendo julgamento de valor em torno de nós.
            O hiato entre o pensar e o agir pode ser denominado de momento da razão, especialmente em situação que tenha o outro como foco, e exige de cada pessoa o devido cuidado com a atitude ou a palavra garantindo ao outro o necessário espaço de liberdade, liberdade essa que não deve estar submetida ao nosso julgamento. Vale também a nossa postura livre mediante o julgamento alheio.
            É possível e necessário que aprendamos a contribuir com o progresso do outro enquanto permitimos que o outro contribua com o nosso progresso, essa a finalidade da vida social no desenvolvimento espiritual do espírito encarnado. Importa que nos libertemos, para que isso aconteça de forma adequada, do desejo de impormos a nossa forma de pensar e agir ao outro. Importa que a nossa crítica seja dotada de clareza, serenidade e busca do bem comum. Importa que os sentimentos que nos alimentem, ao nos dirigirmos ao outro, sejam aqueles que gostaríamos que alimentassem o outro quando se dirigem a nós. Importa que façamos o silêncio necessário para a reflexão e que é essencial respeitarmos o próximo como gostaríamos que o próximo nos respeitasse.
            A trave e o argueiro é a mensagem simples de Jesus que nos alcança e alivia o cansaço dos nossos olhos e nos serve de colírio para aclarar a visão frente os desafios da convivência humana de todos os dias.

¹ editorial do programa Antena Espírita de 10/07/2016.

               

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