"Noiva de Furquim", Mariana (MG) - Ilustração |
Contou-me um confrade que certa feita
regressava ao lar, por volta de meia-noite, após uma festa.
Estava
sozinho em seu automóvel. Numa curva, perdeu a direção do veículo, que se
precipitou numa ribanceira. Desceu sacolejando e tombou dez metros abaixo.
A
custo saiu do carro, rodas para cima. Repleto de escoriações, começou a subir,
retornando à estrada. Já no alto olhou para o automóvel. Ficou estarrecido.
Estava destruído. Impossível sair com vida dali.
Espírita
estudioso, apavorou-se. Certamente morrera! Pensou em descer para confirmar o
trágico acontecimento com a visão de seu corpo sem vida, entre as ferragens. Faltou-lhe
coragem.
Talvez
fosse apenas uma impressão. Afinal estava todo machucado, sangrando. Segundo
aprendera, só quem se mata fere assim o perispírito.
Resolveu
pedir socorro, acenando para os carros que passavam. Ninguém parava. Era como
se ele não existisse.
Voltou
a dúvida. Se ninguém o via… certamente estava morto! Lembrou-se da recomendação
que ouvira tantas vezes. Em situação dessa natureza, ore com fervor. O socorro
virá. Começou a orar em voz alta, implorando a complacência divina. Em breves
momentos, ouviu uma voz.
–
Então, meu irmão, precisando de ajuda?
Abriu
os olhos. A oração fora atendida por um irmão da espiritualidade, um rapaz
negro, expressão sorridente, vestido de branco.
–
Ah! Graças a Deus você veio!
–
O que aconteceu, meu irmão?
– Acabo de morrer num acidente de trânsito!
O
interlocutor soltou um grito e fugiu, com a velocidade dos apavorados... Então,
conversara com um vivo! Aliviado, continuou a acenar para os carros, até que um
bom samaritano das estradas dispôs-se a socorrê-lo.
***
O episódio pitoresco oferece-nos ensejo para
algumas observações importantes, relacionadas com a morte.
Por
exemplo, o fato de o Espírito desencarnado num acidente ter consciência do que
está acontecendo. É perfeitamente possível, considerando que nossa situação
diante da morte depende do tipo de vida que levamos.
Eu
diria que a regra é a seguinte: quanto mais envolvido o Espírito com a vida
material, mais complicado o retorno.
Pessoas
que cultivam valores espirituais, que cumprem as orientações evangélicas, que
não se apegam, situam-se melhor, independente do tipo de morte. Podem
desencarnar repentinamente, de forma trágica, e logo tomarem consciência de sua
situação.
E
há os que desencarnam numa doença de longo curso e ficam mal no mundo espiritual,
em face de uma existência orientada para interesses materiais, vícios e
paixões.
Há
que se considerar também a questão cultural. A experiência demonstra que o
espírita tem muito mais facilidade para perceber a condição de desencarnado do
que adeptos de outras religiões, que se imbuem de fantasias sobre a vida
espiritual.
Mas
essa vantagem inicial pode converter-se numa desvantagem se não levar a sério o
empenho de renovação e de vivência evangélica propostos pela Doutrina.
***
Destaque
especial para o rapaz que fugiu apavorado ao imaginar-se em contato com um
Espírito.
A
tendência de tomar por assombração o Espírito do morto, está profundamente
arraigada na mente humana.
–
Gosto muito de meu pai que faleceu, mas jamais quero vê-lo!
–
É seu pai!
–
Não! É assombração!
Lamentável!
Ante a inibição promovida pelo medo, experiências gratificantes com familiares
desencarnados deixam de acontecer.
E
mais: médiuns que poderiam realizar excelente trabalho recusam-se ao
intercâmbio, simplesmente porque têm pavor do transe mediúnico, que os
colocaria em contato com os mortos.
Um assombro!
Elucidativo e pedagógico, e nos faz rir e refletir.
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